Reinventar nossas moradas tem sido uma tarefa constante desde que a pandemia impôs um novo ritmo dentro de casa. E artesãs como Lígia Vieira, Regina Célia e Marialice Cavalcanti bem sabem o quanto se investiu em decoração neste período. As três trabalham com macramê, técnica de tecelagem tradicional que utiliza apenas mãos e fios para criar os nós e as mais diferentes padronagens.
De tudo um pouco se obtém nessas criações. Entre as peças desenvolvidas por elas, por exemplo, destacam-se suporte para vasos de plantas, redes, cadeiras suspensas, cortinas, suportes com prateleiras, tapetes, almofadas, acessórios para mesa posta, cestos, painéis, luminárias e até cama para pet. Isso sem falar no ramo de acessórios e vestuários, que também não fica para trás em termos de procura.
O macramê entra em harmonia com qualquer ambiente, justamente por não formar peças apenas decorativas, mas extremamente funcionais. Você pode ter uma fruteira de macramê na cozinha, suportes para vasos na varanda, uma almofada na sala, um painel no quarto, um suporte de papel no banheiro e uma prateleira no escritório. Até a coleira do cachorro pode ser de macramê!”, exemplifica.
Paraense de Santarém, ela mora em Fortaleza há dez anos e conheceu a técnica em 2015, enquanto cursava Design e Moda. No final de 2019, trabalhando na área de Marketing, ela começou a pesquisar sobre o universo da decoração, e se deu conta do potencial existente ali.
Primeiro, Lígia fez peças para o próprio lar e depois passou a presentear amigos. Com incentivo da família, criou um Instagram para mostrar as criações, e em 2020, com a pandemia, recebeu um volume grande de encomendas. “Foi aí que vi que meu hobby agora era responsável por toda a minha renda e então decidi trabalhar inteiramente só com a Beach House”, contextualiza.
Negócios e terapia
A cearense Regina Célia teve uma experiência semelhante à de Lígia. Antes do isolamento, ela trabalhava com vendas. Mas, em março de 2020, encontrou na técnica artesanal recursos suficientes para se manter, inclusive do ponto de vista da saúde mental.
O macramê me salvou da ansiedade, porque no começo da pandemia fiquei muito ansiosa e com medo de sair de casa. E poder fazer algo que me dava prazer, preenchia meu tempo e me fazia usar minha criatividade foi um presente de Deus pra mim”, acredita.
O aprendizado se deu principalmente por meio de vídeos no YouTube. “Então comecei a postar fotos para minhas amigas e mostrar meu trabalho, que elas também não conheciam, mas acharam lindo os suportes de plantas e os painéis, daí comecei a fazer por encomenda”, conta.
Para Lígia, da Beach House, a técnica do macramê também trouxe primeiro mudanças internas. “Me ensinou sobre ter paciência e calma com os processos, que por mais que eu queira acelerar, os nós, bem como a vida, seguem o seu próprio tempo e eu, ainda que tente, não posso interferir. O que antes era só a minha terapia (produzir algumas peças), se tornou meu trabalho”, estabelece.
Investimento e como fazer
A artesã Marialice Cavalcanti aprendeu os pontos básicos na adolescência, num colégio de freiras em que estudou. Mas foi só ano passado, com o isolamento social, que o fazer manual com este ofício se intensificou. Hoje, ela, que mora na praia da Caponga, em Cascavel, tem várias peças expostas na Loja do Bem, em Fortaleza.
"Eu já desenvolvia trabalhos com escamas de peixes usando o crochê. Daí resolvi agregar e criar novas peças usando o macramê”, explica ela.
Segundo Marialice, aprender é simples. Basta ter bastante atenção na amarração dos nós, dos quais ela destaca quatro principais: nó de laçada ou nó inicial, nó quadrado, nó festonê e nó DNA.
Para trabalhar com o macramê, segundo Lígia, não é necessário muitos materiais e nem muito espaço, basicamente, precisa-se de fios.
Eu prefiro trabalhar com os de algodão, mas pode ser feito com fios sintéticos (náutico), barbantes, sisal e até fios de malha. Todos os materiais são facilmente encontrados em armarinhos locais e também na Beach House”, detalha.
Regina Célia, por sua vez, destaca também a necessidade de tesoura e de uma rasqueadeira pequena para desfiar os cordões; e até de uma arara, para fazer peças maiores. O investimento inicial, segundo ela, é pequeno.
Com cerca de R$ 300, no máximo, já dá pra fazer vários trabalhos. Com esse valor, eu comprei cordões, tesoura, rasqueadeira e argolas de madeira. Fiz dois painéis, 5 suportes para vasos de plantas e um tapete. Vendi por R$ 750 essas peças”, afirma.
Os preços dos objetos podem variar de R$50 a R$ 180, por exemplo.
Manutenção
Desenvolvidos os trabalhos, é importante também cuidar da conservação e isso pode variar de material para material. As peças que Lígia produz são feitas com cordões de algodão muito resistentes, e, se necessário, podem ser lavadas a mão sem uso de alvejantes.
“Recomendo apenas que evite a exposição excessiva ao sol e a chuva, para evitar o desgaste rápido, e que se respeite o limite de peso recomendado”, diz.
Regina Célia, que usa cordão sintético nos suportes de plantas, garante que esse tipo tem mais durabilidade. “Basta ter o cuidado de não deixar molhar no caso de painéis, cortinas”, exemplifica. E Marialice, por sua vez, indica também o uso de pincéis para realizar a limpeza.
Mas se além de cliente, você quiser mesmo se aventurar na prática, Lígia dá a dica.
Desenvolva primeiro a técnica mental de ter paciência com o seu processo de aprendizado. É preciso desatar muitos nós até criar habilidade! Se não for com calma e com alma, não vale a pena!”, finaliza.
Serviço
Lígia Vieira: @beachousedecor
Regina Célia: @macrameart_gina
Marialice Cavalcanti: @marialicecavalcanti
*As peças de Marialice Cavalcanti também podem ser encontradas na @lojadobemoficial (Shopping Iguatemi, Piso Térreo. Em funcionamento de 10h às 22h).