Os dois primeiros episódios de “Pacto Brutal”, que já estão disponíveis na HBO Max, trazem ainda mais detalhes do assassinato da atriz de Daniella Perez, morta aos 22 anos, em 1992, com depoimentos emocionantes do marido da artista, Raul Gazolla, e da mãe, a autora de novelas Glória Perez.
No documentário, Raul conta que soube pela sua mãe, Norma, logo após o enterro de Dani, que Guilherme de Pádua tinha assassinada a esposa. Depois disso, o ator teve um ataque de fúria.
O próprio Raul relembra o momento no documentário e diz que, ao saber do que havia acontecido, teve vontade de “mastigar o pescoço" do assassino. “Eu virei um bicho, fiquei com muito ódio. Eu sei que não é um bom sentimento, mas não dá pra não ter naquele momento em que você sabe que sua mulher foi assassinada, que você sabe que o assassino era o colega de trabalho dela”, conta ele no episódio.
A atriz Cláudia Raia, que era amiga próxima de Raul, também lembra o dia: “Ele gritava, gritava de uma maneira assim que… Eu me lembro e meu coração parte”.
Marcela Honigman, produtora de Daniella na época, ainda conta na produção que Gazolla quebrou a capela inteira ao saber a informação sobre o assassino.”Tinha um pano com uma almofada e ele mordia aquela almofada. Gritava”.
Guilherme e Daniella estavam no elenco da novela de “De Corpo e Alma”, escrita por Glória, e viveram um breve romance no folhetim. A última cena que os dois gravaram, inclusive, era do término do namoro dos personagens Bira e Yasmin.
Ao saber o que tinha acontecido, Raul estava acompanhado de amigos famosos como Alexandre Frota, Fábio Assunção e Maurício Mattar, que também dão depoimentos na série.
“A mãe do Raul, em determinado momento do velório, chega pra mim e diz: ‘Frota, você não vai acreditar, a Polícia já sabe quem matou a Daniella’. As pessoas todas saíram e nós fechamos a porta. O Gazola tá sentado de cabeça baixa. Ele chorava compulsivamente. Eu me ajoelhei entre as pernas dele e abracei a barriga dele", narra Alexandre Frota em “Pacto Brutal”.
Frota ainda disse que Tony Tornado ficou nas costas de Raul fazendo uma massagem e o Maurício Mattar sentou de um lado e deu o braço pra ele. "Uma outra pessoa senta aqui e dá o outro braço pra ele. Então ele tava ‘travado’ ali. A Norma vem à nossa frente aqui, entre mim e ele, e fala: ‘filho, a Polícia já sabe quem matou a Daniella. Foi o Guilherme de Pádua’”, complementou.
Maurício Mattar rememora que o arrependimento de Gazolla era ter cumprimentado Guilherme de Pádua na delegacia horas antes. O ator da novela chegou a ir prestar solidariedade à família de Dani no local.
Contato tátil com a morte
Um dos momentos mais fortes da série é quando Glória Perez narra o encontro com o corpo da filha, no local onde foi descoberto pela polícia. Ela foi levada até lá pelo empresário e amigo Nilson Raman.
“Quando o carro ia parando, eu vi o tênis. Eu saltei do carro em movimento, saltei e saí correndo pra lá. À medida que você vai correndo, vai subindo a imagem até você ver a pessoa inteira. Você tem uma vontade de dizer: ‘Levanta!’. Você acha que sua chegada é mágica, que você vai tirá-la dali. Daí minha mão tocou. Esse contato tátil com a morte é horrível".
A autora da novela e mãe de Daniella, lembrou ainda que sua mão recuou, horrorizada, "porque aí você você sente o que aconteceu. O frio da pessoa. E aí, você tem vontade de recolher, de colocar no seu ventre de novo, sabe? No ninho outra vez”. Porque aí você se dá conta, de que você não tem um filho, você nasce com um filho. Porque, depois que um filho nasce, você não vai conseguir mais lembrar da sua vida sem a presença dele”.
No segundo episódio da série, a autora de novelas lamenta que na época do assassinato a imprensa explorou as fotos da novela “De Corpo e Alma” em que Daniella aparece com Guilherme de Pádua. A jornalista Elsa Boechat, que também foi importante para a descoberta do caso, diz em depoimento no documentário “Pacto Brutal” que até hoje as pessoas a perguntam se os atores tinham um caso.
“Esse tipo de coisa sempre nos chocou. muito. Por que essa imagem na capa?”, questiona Glória na série, ao mostrar a capa de uma revista na época em que Daniella e Guilherme aparecem em clima de intimidade na novela.
“Você vai plantando no subconsciente das pessoas a ideia de que havia algo na vida real. São coisas desse tipo que fizeram com que ficasse na imaginação do público muito forte essa sensação de que poderia mesmo ter havido alguma coisa. Isso é muito mais agressivo do que as fotos dela no local”.
O documentário, inclusive, traz várias imagens forte do corpo de Daniella no local do crime, em diversos ângulos, e detalhes chocantes do assassinato que parou o Brasil na época.
Guilherme de Pádua e a esposa na época, Paula Thomaz, não dão depoimentos na série. A decisão foi dos diretores do documentário. “A gente tomou essa decisão: esse documentário não é um lugar para dar espaço para a gente ouvir os dois que foram condenados pelo crime”, disse o diretor Guto Barra.