O cineasta David Lynch, de 78 anos, começou a fumar quando tinha apenas oito anos e observa os sérios impactos do hábito na saúde. Diagnosticado com efisema pulmonar há quatro anos, o diretor contou com exclusividade à revista internacional People sobre a relação com o fumo em entrevista publicada na última semana.
São diversos os registros do premiado cineasta com cigarros e ele admite ser essa a imagem que ele queria ter. “Uma parte muito importante da minha vida foi fumar. Eu amava o cheiro do tabaco, o gosto do tabaco. Eu adorava acender cigarros. Era parte de ser pintor e cineasta para mim", frisa.
Contudo, atualmente, a visão mudou após ter sido diagnosticado com enfisema. Essa é uma condição pulmonar crônica que causa falta de ar e é um tipo de doença pulmonar obstrutiva.
Por causa do quadro, Lynch depende de suplementação de oxigênio para realizar atividades com esforço maior do que uma simples caminhada.
“No fundo da mente de todo fumante está o fato de que fumar é saudável, então você está literalmente brincando com fogo. Isso pode te morder. Eu tomei um risco, e fui mordido”, reflete.
Lynch cresceu no interior de Idaho e Washington, nos Estados Unidos, sendo filho de um cientista de pesquisa florestal do Departamento de Agricultura. O hábito de fumar começou ainda na infância.
Já na carreira, quando lançou o primeiro filme independente, Eraserhead (1977), fumar era visto como parte da persona artística. De Blue Velvet (1986) até a série de TV dos anos 90, Twin Peaks, e seu revival em 2017, o ato de fumar era visto nos personagens.
Durante esse período, o artista tentou parar de fumar em diversos momentos. "Mas quando ficava difícil, eu tinha aquele primeiro cigarro, e era uma viagem sem volta para o céu. Aí você volta a fumar novamente”, confessa.
Processo para deixar de fumar
Lynch foi diagnosticado com enfisema em 2020, mas não abandonou o cigarro mesmo com a doença. O artista precisou de mais dois anos até conseguir, de fato, deixar de fumar.
“Eu vi a mensagem na parede, e ela dizia: ‘Você vai morrer em uma semana se não parar’”, lembra Lynch, que tem quatro filhos, incluindo uma filha de 12 anos. “Eu mal conseguia me mover sem ficar sem fôlego. Parar era a única opção”, acrescenta.
O cineasta adotou a meditação transcendental duas vezes por dia, todos os dias, e iniciou uma fundação dedicada à prática. "É difícil viver com enfisema. Eu mal consigo andar de um lado para o outro. É como se você estivesse andando com um saco plástico na cabeça”, compara.
Por causa da doença, Lynch precisa ficar mais tempo em casa. Por um lado, por não gostar de sair, isso é positivo. Mas também o tira de atividades prazerosas, como pondera.
“Eu adoro estar no set podendo sussurrar para as pessoas”, exemplifica. O cineasta se diz aberto à ideia de tentar dirigir remotamente no futuro.
Conselho
Lynch avalia que há um grande preço a pagar quando se opta por deixar o cigarro. “Eu não me arrependo. Foi importante para mim. Eu desejo o que todo viciado deseja: que o que amamos seja bom para nós”, destaca.
Sobre retratar fumantes nas obras, o cineasta afirma que não mudaria o trabalho produzido. “Eu nunca pensei nisso como uma forma de glamourizar o cigarro. Era parte da vida, alguns personagens seriam fumantes, assim como na vida real", pondera.
Mas, ao observar o mundo real, aponta pela própria um conselho aos fumantes. “Eu realmente queria passar essa mensagem: Pense sobre isso. Você pode parar com essas coisas que vão acabar te matando”, conclui.