Construção e manutenção de vínculo entre família e escola, atenção aos contextos sociais e às carências educacionais de cada aluno, ampliação da jornada escolar, oferta de ensino profissional atrelado ao formal e estratégias continuadas são alguns dos motivos que fazem com que a política cearense de educação se destaque como a melhor do Brasil, segundo os critérios avaliados no cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
O Ideb, cujos resultados mais recentes foram divulgados na última terça-feira, 15, pelo Governo Federal, é um dos principais indicadores de qualidade educacional do País. Considera, em seu cálculo, a proficiência dos estudantes do ensino fundamental (anos iniciais e finais) e médio em português e matemática e as taxas de aprovação deles entre etapas/anos.
O destaque dado ao Ceará no Ideb 2019 evidencia uma série de conquistas dos equipamentos públicos de ensino que, há anos, trabalham de forma sistemática para melhorar a aprendizagem dos estudantes. Se sobressaem, principalmente, unidades do Interior, que, muitas vezes, menos têm recursos e mais têm adversidades a enfrentar.
Com 99 alunos, situada na zona rural do município de Granja, no Interior, a Escola Nossa Senhora Aparecida mantém há quatro anos a melhor nota do Brasil no Ideb — nos anos finais do ensino fundamental. Fica na comunidade Brejo dos Sabinos, no distrito Pessoa Anta. É a única escola da região e atende estudantes da pré-escola ao 9º ano.
São essas características, relata a diretora Ariana Sousa da Rocha, que fazem com que “todos os profissionais (da escola) conheçam as famílias (dos estudantes), criem vínculo. Conhecemos todos os alunos pelo nome, sabemos identificar as dificuldades de cada um”.
Na localidade, explica Ariana, a maioria dos pais são agricultores. Famílias, em geral, de baixa renda. Outros, professores da escola.
“Como a gente conhece os alunos desde as salas iniciais, quando vamos percebendo que um está apresentando algum tipo de dificuldade, já realizamos atividades diferenciadas e (damos) mais atenção. Porque entendemos que, se o aluno entra no primeiro ano do ensino fundamental, eu consigo identificar isso e deixo passar, gera uma defasagem que, mais à frente, não iremos conseguir reverter”, conta.
Além disso, a diretora ressalta que auxilia nesse processo o Programa Aprendizagem na Idade Certa (Mais Paic), que é uma ação pactuada entre o Governo do Ceará e seus 184 municípios, com a finalidade de garantir apoio pedagógico nos processos de formação dos estudantes da educação infantil e do fundamental.
Estudante do 6º ano da Escola de Ensino Fundamental (EEF) Maria do Carmo Cardoso, em Independência, Guilherme Ferreira Gomes, 11, costuma ter aulas de português e matemática — exatamente as disciplinas cuja proficiência mais conta no cálculo do Ideb — no contraturno escolar. “Minha preferida é matemática. Desde pequeno, quando meu pai ensinou e comecei a gostar”, disse. Independência ficou em 2º lugar do Brasil no Ideb 2019 e figura entre os seis municípios cearenses que estão entre os dez melhores do País nas séries iniciais.
Guilherme sente que os diferenciais de sua escola são a atenção prestada pelos professores aos alunos, o cuidado da coordenação em garantir que todas as crianças estejam em sala de aula e o incentivo a participar de olimpíadas, por exemplo, de matemática, sua disciplina preferida. “Minha escola é pequena, tem poucos alunos, mas é uma boa escola. Gosto dela”.
Destaque no Ensino Médio
A divulgação das notas do Ideb também evidenciou que, embora o Ceará, desde 2013, não tenha mais atingido a meta nesta etapa do ensino, a distância entre a nota real e o objetivo estabelecido para o desempenho dos alunos tem sido reduzida. A nota do Estado em 2019 foi de 4,4 enquanto que a meta era de 4,9. Ainda assim, é o 7º melhor índice do país.
Em Itapajé, Interior do Ceará, a Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Adriano Nobre alcançou a nota 7,1 no Ideb 2019. A unidade tem 511 alunos. Lá, conta a professora de matemática, Tyara Lima, “embora seja de ensino profissionalizante, os estudantes nem sempre chegam preparados e é preciso estar atento”. Umas das principais estratégias, portanto, é o nivelamento dos estudantes a cada início de ciclo.
Na prática, essa iniciativa busca identificar logo no princípio das aulas qual o desempenho dos estudantes de cada sala e em cada nível. A partir disso, os alunos são distribuídos em grupos com níveis classificados em: muito crítico, crítico, intermediário e adequado. “Esse trabalho é feito de forma simultânea às aulas. Matemática, por exemplo, é uma a matéria que requer uma base e, muitas vezes, ela não foi tão bem construída”, justifica Tyara.
Além disso, a EEP Adriano Nobre também estabeleceu o chamado “6º tempo”. “Pela manhã, a escola tem cinco aulas. Redividimos para que pudesse ter um 6º tempo. Nessas atividades, além dos professores, os alunos monitores auxiliam os demais. O conteúdo é o mesmo para todos, mas o trabalho é de maneira diferente para cada nível de dificuldade”. Aulas extras à noite e aos sábados para os alunos do 3º ano compõem outra ação adotada. Na unidade, 80% dos estudantes, segundo a professora, são oriundos do ensino fundamental da rede pública e 20% da rede particular.
Capital tem bons resultados
Em Fortaleza, a Escola Professora Edith Braga, registrou o melhor índice do Ideb na rede municipal do 1º ao 5º ano, com nota 7,4. A professora do 5º ano, Poliana Paiva, atribui o desempenho aos efeitos do trabalho em equipe. “Todas as pessoas que compõem a escola fazem parte desse sucesso. Tanto os alunos como os pais se envolvem. Acho que, para melhorar ainda mais o trabalho da equipe, precisa muito da colaboração das famílias. Às vezes, nosso empenho ultrapassa o muro da escola e precisamos das famílias para superar as dificuldades com as quais os alunos chegam”, observa.
A professora avalia ainda que o resultado de excelência atingido pela unidade de ensino ganha notoriedade agora, mas é fruto de um trabalho de “muitos anos”. A aposta prioritária da escola, diz ela, independente das condições e dos méritos, é garantir aprendizagem real, fazer com que, de fato, crianças e adolescentes sintam que têm aprendido no dia a dia.
Uma das alunas da escola é Letícia Valentina Santos, do 5º ano. A estudante, que tem preferência por uma das disciplinas incluídas no cálculo do indicador de qualidade, afirma que “gosta muito de português porque é a matéria que a ajuda a ler”. Se pudesse dar uma nota à própria escola, Letícia afirma: “Daria um 10 porque as pessoas (professores, gestores e demais profissionais) são ótimas e tratam a gente com amor e carinho”.