Com músicas utilizadas em produções cinematográficas, como “A casa de papel” e "O auto da compadecida", o professor de história Octavianus Cesar Silva, 46 anos, começou a utilizar recursos sonoros ao gravar e enviar o áudio diário que relembra as atividades educativas no grupo de WhatsApp da turma de estudantes.
O envio de mensagens mais dinâmicas, que também estimulam os jovens a realizar atividades ou mesmo buscar informações sobre reforços e pontos extras, busca não só criar um vínculo de maior proximidade e apoio, como reduzir a evasão escolar em meio ao cenário pandêmico.
Quando vi que a gente ia passar um bom tempo nessa distância, que por vezes é um pouco seca, queria fazer algo que tivesse um pouco mais de alegria, ver se eles participavam mais.
Atuante na Escola Almirante Tamandaré e na Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Paulo Ayrton de Araújo, ambas em Fortaleza.
No caso da última, Octavianus é professor “padrinho” responsável pela turma 9º A. Com isso, administra o grupo, abrindo para conversa às 7h e fechando às 11h40, horário de término das aulas.
Através do grupo restrito a assuntos educacionais, o professor Octavianus também realiza a ponte dos alunos com os outros professores, lembrando o roteiro da manhã e recebendo as atividades.
“No WhatsApp, cada professor fica responsável por uma turma, para mandar e receber as atividades”, explica, acrescentando ainda que mesmo após o fechamento oficial do grupo, os professores seguem disponíveis no privado para eventuais dúvidas sobre as tarefas.
Adaptação no cenário pandêmico
Atuando desde 2003, com quase vinte anos de experiência em sala de aula, o profissional da educação aponta que a pandemia tem sido uma vivência completamente nova e particular.
Consciente das distintas realidades socioeconômicas, buscou se adaptar para criar um conteúdo que fosse mais acessível e convidativo aos jovens. Da mesma forma, utilizou o empenho para passar os avisos diários para a turma.
Tinha medo da desistência, a gente teve alunos que foram para outros estados, por isso, para poder fazer com que os alunos ficassem fazendo as atividades, pensei nesses áudios.
No caso da sua turma de 35 alunos, somente 3 evasões escolares foram registradas. O restante segue realizando as provas parciais, mandando atividades e interagindo com os professores. “Temos um retorno positivo, não sei se é só por causa dos áudios, mas eles contribuem”, diz.
Em sua perspectiva, quando o professor se distancia, alguns alunos podem sumir e optar por outras atividades, como entregar água, ser auxiliar de empresas de mecânica, entre outros.
“Quando a voz do professor está ali, reforçando, tem as atividades, que pode procurar o professor em caso de dúvidas, isso ajuda. Quando você tem um desafio que precisa ultrapassar, não é melhor enfrentar os desafios sabendo que tem alguém torcendo por você?”, o profissional questiona, lançando a pergunta.
Movimentação do grupo
Para o estudante da turma 9º A, Leonardo Ferreira Reis, 14 anos, os áudios foram um recurso que ajudou a movimentar o grupo e chamou a atenção dos alunos. “Primeiro eu fiquei preocupado, porque nenhum outro professor tinha mandado antes, mas quando escutei, dei risada”, comenta.
Ainda em fevereiro, aponta que houve maior reação por parte dos colegas da turma, prática quase inexistente antes dos áudios. Após o uso das músicas, comenta que havia sempre alguém respondendo com bom dia, pedindo música e até se engajando em conversas.
Apesar de não conhecer nenhum estudante que tenha tido vontade de desistir durante a pandemia, Leonardo pondera que a iniciativa “provavelmente” ajuda a evitar evasões. “Lembra que o grupo existe, que a gente tem que fazer alguma coisa e que temos apoio do professor”, conclui.
Repercussão da iniciativa
Apesar de já realizar a prática do envio de áudios informativos no começo das manhãs, foi a partir de fevereiro deste ano que decidiu incluir músicas. “Uma manhã saí de casa cedo, quando fui fazer o áudio para o grupo, o Djavan cantava na rádio, então peguei então o início da música e comecei a gravar", relata.
Logo que os primeiros áudios começaram a aparecer no grupo, os estudantes deram retorno de divertimento. Riram, comentaram e até chegaram a pedir música. No entanto, a maior repercussão ocorreu com professores.
"Já recebi mensagem de professor gente da própria escola, de outros municípios, até de Minas Gerais, do Maranhão, que me pedindo para eu encaminhar os áudios quando as aulas voltarem", compartilha.
Os áudio são gravados de maneira simples. Enquanto um celular é destinado para a gravação, outros dois ficam a postos para Octavianus incluir as músicas. “Eu não descobri a pólvora, mas acho que vale a pena e fico feliz que meu trabalho foi recebido de maneira positiva”, finaliza.