O Dia da Infância é comemorado em 24 de agosto e tem como objetivo promover uma reflexão acerca das condições sociais e educacionais às quais as crianças estão submetidas. Uma das características mais marcantes desta fase são as brincadeiras, que diferente do que muitos acreditam, exercem papel mais importante do que apenas divertir. Por causa da pandemia, o ambiente externo e de convívio com outras crianças acabaram sendo transferidos para o virtual, o que não deve impedir que outras atividades sejam elaboradas em casa, principalmente com a presença dos pais.
A psicóloga e doutora em educação, Ticiana Santiago, defende que brincar na infância tem papel fundamental para a construção da personalidade e objetiva fazer entender as funções que a criança deve desempenhar culturalmente. “A primeira coisa é que ela tem o poder de entender mais do mundo, das relações e da sociedade. A criança vai representando papéis através da brincadeira. É o código social que ela tem para entender a cultura e recriar a cultura”, informa.
Com a pandemia do novo coronavírus, o público infantil - que é muito engajado em atividades coletivas nas escolas, parques, vizinhança - acabou tendo apenas o ambiente de casa para se expressar e, na maioria das vezes, convivendo exclusivamente com os pais. Por esse motivo, Ticiana explica que a companhia dos familiares nesses momentos colabora com a saúde tanto da criança como do adulto.
“A brincadeira tem esse potencial de saúde mental e de fortalecimento de vínculos. É até bom pra família e para os pais que eles possam se permitir a algum momento de ludicidade”, esclarece.
Para alguns pais, a rotina de trabalho já está voltando ao que era antes da pandemia, o que pode diminuir o tempo de estada com os filhos. Esse é o caso da fisioterapeuta Fernanda Brasileiro, mãe dos gêmeos Arthur e Davi, de 8 anos. Ela conta que por causa da correria do dia-a-dia, nem sempre consegue participar das brincadeiras dos pequenos.
Santiago destaca o que ela chama de “tempo de presença de qualidade”. Essa expressão quer dizer que, por menor que seja o período de tempo brincando com as crianças, ele deve ter o máximo de qualidade possível para que seja válido. Para que o objetivo seja conquistado “primeiro é necessário estabelecer uma rotina com a criança. Ela precisa ter isso muito claro porque remete à uma sensação de segurança. Esses horários têm que ser viáveis para a família e baseados nas características da criança. É essencial acompanhar o que a ela está vendo, conhecer os filhos”, esclarece a psicóloga.
Agora com o espaço limitado, a dica é apostar em atividades diferentes, que estimulem a criatividade e a curiosidade. Ticiana sugere brincadeiras como fazer um bolo, transformar um cômodo da casa, fazer um desfile de moda ou uma sessão de fotografias, ler, pintar, fazer um teatro de fantoches e ver as fotos antigas. O importante é lembrar que nesse momento o que vale é a experiência.
Fernanda conta que as brincadeiras preferidas dos filhos são jogos de vídeogame, jogos de tabuleiro, leitura e jogos com bola. “Noto que as crianças estão mais mergulhadas nesse universo tecnológico e por isso tento puxar brincadeiras ao ar livre ou jogos de tabuleiro”, conta.
A psicóloga concorda e acrescenta as brincadeiras que trabalham o corpo como uma forma de fazer com o brinquedo não tire a oportunidade das crianças de serem protagonistas da atividade. Para isso, ela indica jogo de amarelinha, esconde-esconde e dança.
As crianças maiores podem ter nos jogos de tabuleiro uma chance de entender regras, aprender a conviver em sociedade e respeitar comportamentos, como esperar a vez do outro brincar. Os adolescentes podem se divertir com jogos que proponham desafios.
Ticiana Santiago conclui que é importante também não diferenciar brinquedos de meninos e meninas, além de não oferecer só brinquedos novos e tecnológicos. Os que são feitos de madeira e que fazem parte de culturas diferentes estimulam a aprendizagem e o conhecimento de outros ambientes.