Testemunhas ouvidas pelo Diário do Nordeste, incluindo parlamentares da Casa, afirmaram que o sistema de alarme da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) não estava funcionando no momento do incêndio ocorrido na manhã desta quinta-feira (20). Segundo os relatos, a sirene de segurança não tocou durante o incidente e a evacuação só foi realizada porque pessoas que estavam no prédio foram alertando umas às outras, além do auxílio da companhia de bombeiros do local e do Corpo de Bombeiros que enviou outras sete viaturas de combate a fogo e de salvamento.
Em coletiva de imprensa, o deputado Evandro Leitão (PT), presidente da Alece, informou que uma perícia será realizada para, então, trazer esclarecimentos sobre o caso. "Eu posso dizer que tudo isso será investigado, nós provocamos a Polícia Civil, provocamos o Corpo de Bombeiros, a Secretaria da Segurança para nos dar resposta, então, tudo isso será investigado. Na perícia que deverá estar iniciando, nós teremos as respostas para todas essas interrogações hoje existentes", disse o pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza.
Relatos de parlamentares
O deputado estadual Renato Roseno (Psol) afirmou que estava ministrando uma formação de equipes do Programa de Prevenção à Violência (Previo) para quase 50 pessoas em um dos auditórios do complexo de comissões quando ouviu os gritos e imediatamente viu "muita fumaça com cheiro de plástico queimando e de cor cinza". O parlamentar contou que houve pânico de algumas pessoas e um dos bombeiros da Assembleia os guiou para a saída, sendo uma evacuação rápida.
Ele diz não ter ouvido o alarme de segurança. "Não ouvi. Estava no auditório. Ouvimos gritos. Eu não saí de pronto. Uma das participantes saiu e voltou correndo e nos avisou. De imediato sentimos a fumaça. Estávamos no auditório 1 que fica ao lado do corredor que liga o plenário ao complexo de comissões", confirmou.
Já o deputado Carmelo Neto (PL) estava em uma reunião no gabinete quando foi comunicado por um assessor sobre as chamas. "Quando abri a porta do gabinete dava claramente para ver a fumaça". Ele também diz não ter ouvido o sistema de alarme.
De acordo com uma parlamentar, que pediu para não ser identificada, a sua assessora estava na Casa Legislativa e alega que o alarme de incêndio não tocou. "Tocou não. Perguntamos a ela", disse.
A parlamentar acredita que goteiras podem ter provocado o acidente. "São goteiras frequentes e eu me preocupava. Sempre que chovia, baldes eram colocados. A estrutura é muito antiga", afirmou. "A verdade é que tem muitas goteiras crônicas de outros mandatos. Goteira com eletricidade não combina. Eu vejo a possibilidade fortíssima que seja resultado disso. Na área da cozinha do plenário por vezes tinham 3 baldes aparando água", completou.
A deputada estadual Lia Gomes (PDT) também estava no local quando o sinistro começou. "Eu tava no meu gabinete, escutei uns gritos e pensei que fosse alguém com uma arma, porque o pessoal gritava 'polícia, polícia!'", contou a pedetista à reportagem. "Quando olhei já vi uma fumaça vindo. Nesse momento eu desci correndo e não voltri para o gabinete. No final da escada a visibilidade já estava complicada, não consegui enxergar nada", descreveu.
Indagada sobre ter ouvido algum alerta de incêndio, a parlamentar reforçou: "não teve sirene". Entretanto, Lia Gomes não soube informar se a sede do Parlamento estadual possui dispositivos que possibilitassem o aviso para que houvesse uma evacuação.
'Está pegando fogo no plenário'
Conforme relato de Giulia Araújo Mancilla, supervisora da célula de aposentaria e pensão da Alece, ela ouviu pessoas gritando a frase: "Está pegando fogo no plenário" e imaginou que fosse apenas uma briga acalorada entre os parlamentares. Logo depois, a funcionária percebeu que se tratava de um incêndio quando colegas entraram na sala relatando o incidente.
"Como trabalho no segundo andar, não vi a movimentação no começo. Só quando as pessoas disseram que estavam falando sério sobre o incêndio que nos levantamos. Quando abrimos a porta, todos já estavam descendo as escadas, evacuando o prédio, tinha muita fumaça preta e um cheiro forte de fio queimado", disse Giulia.
A funcionária afirmou que não ouviu a sirene de segurança tocar da sala fechada de onde trabalha. "A evacuação foi bem rápida, descemos a escada que dá direto para a saída, em menos de 5 minutos já estávamos fora do prédio".
O assessor parlamentar Cícero Reis, que trabalha no gabinete da deputada Juliana Lucena (PT), disse que estava em uma reunião no prédio no momento do incêndio e viu a fumaça quando chegou no hall.
"Corri para o gabinete para alertar as pessoas, só que as pessoas já estavam se retirando, os bombeiros já estavam agindo na evacuação do prédio, já estavam garantindo a segurança de todo mundo, foi um trabalho muito rápido, muito preciso do Corpo de Bombeiros da Assembleia Legislativa, que garantiu a integridade de todos os servidores", detalhou.