Sob efeitos do clima e da saúde mental, doenças cardíacas internam 1 pessoa a cada meia hora no CE

Neste 29 de setembro, Dia Mundial do Coração, especialistas alertam sobre riscos aos quais o órgão vital está exposto

A cada meia hora, pelo menos uma pessoa é internada por problemas cardíacos no Ceará. Só até julho deste ano foram quase 12 mil hospitalizações por infarto, arritmias, insuficiência e outros agravos – uma média de 1.680 por mês, segundo dados do Ministério da Saúde (MS) levantados pelo Diário do Nordeste.

O infarto, aliás, é a segunda maior causa de morte entre os cearenses. De janeiro a agosto, foram 2.296 registros no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), atualizado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

Neste 29 de setembro, Dia Mundial do Coração, nós conversamos com médicos especialistas sobre como as mudanças climáticas, os transtornos de saúde mental e os diversos fatores do cotidiano dos cearenses têm afetado a saúde do órgão – e o que é preciso fazer para cuidar dele.

Além das causas mais conhecidas, outras duas têm preocupado ainda mais em se tratando de coração: as mudanças climáticas e o declínio da saúde mental da população. A médica cardiologista Fernanda Pinto explica que quadros de estresse, depressão, ansiedade e burnout, por exemplo, interferem diretamente no funcionamento cardíaco.

“O estresse e a ansiedade são condições que se caracterizam por um estado de tensão constante. Isso acaba provocando a liberação de alguns hormônios, como o cortisol e a adrenalina, que interferem aumentando a pressão arterial e os batimentos cardíacos. Isso pode acabar desencadeando um infarto, arritmias ou AVC”, explica.

Já a depressão, pontua Fernanda, tem alta prevalência entre pacientes com doença arterial coronariana. “A pessoa passa por um grande sofrimento físico e emocional, isso acaba interferindo nas suas funções no trabalho, no meio familiar, e faz com que ela abandone hábitos de vida saudáveis e até o tratamento de doenças como hipertensão e diabetes.”

As doenças psiquiátricas estão muito relacionadas ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares a longo prazo. Estima-se que a população com depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, por exemplo, possui um risco 78% mais alto de desenvolver a doença cardiovascular do que a população não psiquiátrica.
Fernanda Pinto
Médica cardiologista

A médica destaca também o papel que a relação com o trabalho pode gerar danos à saúde do coração. “Há um número crescente de casos de burnout, a síndrome do esgotamento profissional, que é um estado de exaustão física, emocional e mental devido ao estresse relacionado ao trabalho.

Mudanças climáticas afetam o coração?

As grandes e cada vez mais frequentes oscilações de temperatura e de condições climáticas podem, sim, ter impacto no funcionamento do coração e de todo o sistema circulatório, como explica a médica Fernanda Pinto.

“Algumas pessoas aparecem no consultório falando que viajaram para um lugar frio, para um lugar que estava inverno, e a pressão subiu. E como isso acontece? No inverno, existe uma maior vasoconstrição, que é o processo que reduz o diâmetro das artérias, gerando realmente um aumento da pressão arterial”, inicia.

“Além disso, tem também um aumento da frequência cardíaca. Esses mecanismos de vasoconstrição e aumento dos batimentos cardíacos surgem na tentativa de compensação de perda de calor para o ambiente, e eles podem sim desencadear um infarto, um AVC relacionado ao aumento pressórico e da frequência cardíaca”, detalha.

Quando o cenário é oposto, de calor, o processo é semelhante. “Falando em ondas de calor, em temperaturas super elevadas, o coração precisa trabalhar um pouco mais para poder manter a temperatura corporal estável. E aí tem também um aumento do risco de desenvolver arritmias e infarto”, alerta a profissional de saúde. 

Além disso, a poluição que tem se espalhado no País age como fator complicador, como acrescenta Fernanda. “A exposição a longo prazo à poluição também está relacionada ao aumento de prevalência de hipertensão arterial, doença arterial coronariana e doença cerebrovascular”, pontua.

Sintomas de problemas cardíacos

Entre os sintomas gerais de que o coração não está saudável estão “a falta de ar ou o cansaço ao fazer esforços, dor no peito que ocorre ao fazer esforço e melhora no repouso – ou que irradia para o braço esquerdo”, como descreve o cardiologista Thiago Soares.

O médico alerta ainda que alguns sinais mais graves exigem procura imediata por assistência médica, como:

  • Dor no peito, principalmente quando desencadeado aos esforços, quando irradia para mandíbula ou para o braço esquerdo; 
  • Dormência ou formigamento no braço esquerdo ou mandíbula; 
  • Dor no abdome superior e nas costas que não cessam; 
  • Falta de ar ou dificuldade para respirar; 
  • Palpitações com batimentos cardíacos acima de 140 BPM em repouso; 
  • Desmaio (síncope) sem causa aparente; 
  • Queda da pressão arterial associada a mal estar e sonolência; 
  • Níveis elevados da pressão arterial.

Como prevenir doenças cardíacas

No geral, os fatores mais comuns que afetam a saúde do coração são os genéticos e os de estilo de vida, como pontua o médico cardiologista Thiago Soares. Entre estes comportamentais, os principais, aponta o profissional, são:

  • Alimentação inadequada;
  • Sono irregular; 
  • Sedentarismo; 
  • Estresse; 
  • Tabagismo.

Mudar esses hábitos, alerta Thiago, é indispensável para qualquer pessoa, mas aquelas com histórico familiar de doenças cardíacas devem atentar ainda mais.

“Os fatores genéticos contribuem para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Contudo, não é porque há o histórico na família que a pessoa deve se contentar e não se cuidar. Pelo contrário, devem manter um estilo de vida o mais saudável possível e ir com mais regularidade a consultas com cardiologista”, frisa.

A cardiologista Fernanda Pinto também reforça que “a maioria das doenças cardiovasculares pode ser prevenida, ou aquelas já estabelecidas podem ser atenuadas por meio da abordagem de fatores comportamentais de risco”.

Ela orienta, portanto: 

  • Evitar o consumo de álcool;
  • Interromper o tabagismo;
  • Evitar consumo de alimentos ricos em gorduras animal e açúcares; 
  • Sempre ter uma prática de atividade física regularmente, com no mínimo 150 minutos semanais em moderada intensidade.