No período de chuvas, muitas vezes, as precipitações vêm acompanhadas de trovões e descargas atmosféricas, os chamados raios. O Ceará registrou 105 mil raios até o dia 31 de março, de acordo com a Enel Distribuição Ceará. A ocorrência do fenômeno gera receios devido aos danos que pode provocar e requer ações de proteção. No Brasil, a norma técnica 5419/2015 estabelece quais edificações devem ter esse instrumento.
O Diário do Nordeste levantou algumas questões e profissionais que estudam e monitoram o Sistema de Proteção para Descargas Atmosféricas (SPDA), os para-raios, responderam. Dentre outras dúvidas, eles explicam: se todos os prédios precisam de para-raio; se em Fortaleza há bairros mais protegidos que outros; e se o para-raio protege só o imóvel no qual está instalado.
Os pára-raios são dispositivos instalados nos topo de edificações e captam os raios, justamente, por estarem em alturas elevadas. De modo geral, eles conduzem essa descarga atmosférica até o aterramento, e com isso geram uma certa blindagem da estrutura em questão.
No Brasil, a norma técnica 5419/2015 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), estabelece parâmetros para a análise de risco em cada edificação. São esses fatores que, na realidade, determinam se um imóvel precisa ou não ter um para-raio.
Conforme o major Robert Hugo, do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, a norma é seguida pelos bombeiros, responsáveis pela vistoria das edificações no Estado.
“A obrigação vai depender dos dados da própria edificação, altura, tipo de construção, ocupação, população. A partir do estudo da edificação do Gerenciamento de Risco, com base na NBR 5419, o projetista verifica se a edificação precisa ou não do para-raios”.
Na prática, para definir se há necessidade ou não de ter para-raio, são considerados os seguintes aspectos:
- Tipo de construção da estrutura (aço revestida, alvenaria ou concreto simples, madeira)
- Conteúdo da estrutura (residências comuns, fazenda, indústria, refinaria, postos de combustível, escolas, hospitais, creches e outras instituições, locais de afluência de público)
- Tipo de ocupação (se é moradia, comércio, serviço)
- Localização (se há outras edificações altas no entorno, se há árvores)
- Topografia da região (planície, elevações moderadas, montanhas)
A análise desses fatores examina também se os riscos em cada caso são restritos à estrutura, afetam os arredores ou o meio ambiente.
Nessa escala, por exemplo, indústrias químicas, usinas nucleares e laboratórios bioquímicos, que ao receberem raios têm riscos de incêndio e falhas de operação, e, por isso, geram efeitos perigosos tanto para o local como para o meio ambiente, têm maior necessidade de para-raio do que residências comuns com poucos habitantes.
“Esse estudo sobre a necessidade de ter ou não para-raio é submetido ao Corpo de Bombeiros, com o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros”, diz o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Gustavo Castelo Branco.
Bairros mais verticalizados são mais protegidos?
Em geral, nas áreas urbanas, regiões mais verticalizadas, como a Aldeota e o Meireles, bairros de Fortaleza, têm mais para-raios do que outras com mais casas e mais horizontalizados. Isso, conforme o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFC, Gustavo Castelo Branco, faz com que os territórios com mais edifícios sejam mais protegidos.
Contudo, ele pondera que “é importante afirmar que a nossa região litorânea, Fortaleza, tem uma baixa incidência de descargas atmosféricas. Em outras regiões, como ambientes de serra, a da Ibiapaba, Guaramiranga, a probabilidade é bem maior”.
O professor explica as razões pela qual as edificações mais altas, geralmente, podem precisar de para-raio.
“As edificações mais altas estão mais próximas das nuvens e quando uma nuvem carregada está passando sobre essa edificação, teoricamente ela é a que mais se habilita a propiciar um caminho para circulação da descarga desde a nuvem até o solo. É como se a edificação mais alta fornecesse um caminho mais viável para a descarga atmosférica”.
Embora haja obrigação de algumas edificações terem pára-raio, esse equipamento pode ser instalado em qualquer imóvel se assim o proprietário desejar, sobretudo, se a localização for uma zona de maior densidade de impactos.
Mas, para isso é necessário a contratação de um engenheiro eletricista que saiba fazer o serviço e possa emitir Anotação de Responsabilidade Técnica (ART).
“A instalação dos para-raios em edifícios residências é uma boa prática, sobretudo, nos verticais, os prédios, mesmo nas situações em que na análise de risco nao apontem necessidade”, ressalta o professor.
Até onde chega a proteção de um para-raio?
O major Robert Hugo, do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, explica que “via de regra, o projetista dimensiona seu para-raio para o edifício que está sendo projetado. Portanto, uma edificação, mesmo que seja alta, não está necessariamente protegendo os edifícios ao redor, pois o projeto de proteção é dimensionado buscando proteger somente a edificação em si, não o entorno”.
Já o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFC, Gustavo Castelo Branco, explica que na análise de risco é levada em consideração a presença de edificações maiores nas proximidades.
“O fato de eventualmente aquela edificação está ao lado de uma mais alta pode até dispensar a instalação de um para-raio naquela que está sendo construída. Mas é preciso observar por quanto tempo a edificação vizinha vai continuar protegendo”, explica.
O integrante do Corpo de Bombeiros, major Robert Hugo, também ressalta que os efeitos dos raios podem diretos, causando desde danos físicos na estrutura até incêndio causados por efeitos indiretos, como um surto de tensão na rede elétrica.
O que ocorre se um raio atingir uma edificação com para-raio?
Os pára-raios são hastes metálicas conectadas à terra via de cabos condutores. Essas hastes “criam” um caminho para a passagem da descarga elétrica. Conforme o professor Gustavo Castelo Branco, o para-raio “capta essa descarga e leva para a malha de aterramento (solo) a fim de que essa energia possa ser dissipada adequadamente, sem causar nenhum dano nas estruturas”.
Contudo, ele reforça que embora os para-raios gerem uma certa blindagem das estruturas, é válido lembrar que essa proteção não é de 100%.
“Existem níveis de proteção do Sistema STDA desde o classe 1 até o classe 4. Isso vai definir o nível de eficiência. Um classe 1 tem 99,8% de eficiência, mas existe um pequeno risco de a descarga atmosférica não cair exatamente do para-raio. O Cristo Redentor é um exemplo, ele tem uma malha de para-raio, mas às vezes o raio cai na estrutura de pedra”.
Quem é responsável por fiscalizar
O Corpo de Bombeiros Militar do Ceará é o órgão responsável por fiscalizar o Sistema de Proteção Contra Descarga Atmosférica (SPDA) nas edificações no Ceará. Isso conforme a Lei Estadual 13.556/2004, que trata sobre a segurança contra incêndios.
Segundo o major Robert Hugo, o Corpo de Bombeiros atua analisando projetos de incêndio, com o SPDA incluso, para verificar a concordância com as normas técnicas, e vistoria posteriormente as edificações para verificar a execução das obras relativas ao projeto analisado.
Orientações de segurança do bombeiros em caso de raios
- Evitar locais abertos e descampados, como campos de futebol, praias e estacionamentos.
- Evitar proximidade a cercas de arame, varais metálicos, linhas férreas, torres de telefonia e outras estruturas metálicas que possam atuar como condutoras da descarga elétrica.
- Em casos de chuvas intensas, as pessoas também são orientadas a evitar locais como praias, açudes, piscinas etc.
- Em casa, as pessoas devem manter distância de janelas, canos, portas e outros materiais metálicos;
- Em caso de choque elétrico, a vítima de descarga elétrica não deve ser tocada diretamente.
- Recomenda-se que a chave geral da energia seja desligada;
- Caso o interruptor não seja localizado, recomenda-se procurar um pedaço de madeira ou qualquer material não-condutor de eletricidade para que a vítima seja afastada da fonte de energia.