Nova Funsaúde? Fortaleza regulamenta Fundação para gerir unidades de saúde e promete concurso

Recurso de R$ 5 milhões foi garantido para a implantação da Fagifor, que fará a gestão de hospitais, UPAs, postos e demais equipamentos

Uma instituição criada, no final de 2014, pela Prefeitura de Fortaleza deverá, em breve, sair do papel. Regulamentada nos últimos anos, a Fundação de Apoio à Gestão Integrada em Saúde de Fortaleza (Fagifor) atuará vinculada à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) na gestão de hospitais, UPAs, postos e demais equipamentos da saúde. A concepção da Fagifor lembra a da Fundação Regional de Saúde (Funsaúde), ligada ao Governo do Estado, criada em 2020 e extinta há cerca de 3 meses.

A Prefeitura diz que trabalha para “não repetir possíveis erros” e, nesse sábado, o prefeito José Sarto anunciou que o concurso para a Fagifor será realizado ainda em 2023. No comunicado, Sarto também diz que o certame será para os níveis médio e superior de várias carreiras. De acordo com ele, nesse momento, a gestão municipal está “finalizando a definição do número de cargos e funções” para realização do processo.  

A Fagifor foi instituída em 19 de dezembro de 2014 com a sanção da Lei Complementar nº 178, e desde então, nos dois últimos anos vem passando por regulamentações necessárias para realmente começar a funcionar.  

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o secretário de saúde de Fortaleza, Galeno Taumaturgo, explicou que a Fagifor pode gerir os cerca de 190 equipamentos de saúde da rede municipal de Fortaleza. Mas, a princípio, os 9 hospitais secundários, como Gozanguinhas e Frotinhas, da rede serão “priorizados”. O único hospital que não entrará no processo é o Instituto Dr. José Frota (IJF).

A gestão, conta ele, deve começar, efetivamente, no final de agosto ou início de setembro quando será entregue o novo Frotinha de Messejana. Esse será o primeiro equipamento a funcionar com o novo modelo. 

"Quando pensamos em Fundação precisamos ter muita maturidade. O que não se pode ter na criação de uma fundação é pressa porque existe uma série de fatores. A ideia é de 2014 e conseguiu caminhar alguma coisa, mas veio a pandemia. O fato é que esse amadurecimento é uma visão de investimento, trazendo para a secretaria uma maior agilidade nas políticas públicas. A Fagifor não define políticas. Ela realiza. Está na linha de frente para facilitar as ações". 
Galeno Taumaturgo
Secretário de saúde de Fortaleza

Na prática, a Fagifor será vinculada à SMS e deve desenvolver e executar ações e serviços em todos os níveis da Saúde Pública, conforme diz a lei que a instituiu, nas áreas de: 

  • Gestão hospitalar ambulatorial
  • Atenção primária 
  • Serviços de urgência e emergência 
  • Apoio diagnóstico 
  • Ensino, pesquisa e educação continuada

No decreto de nº 15.633, de 09 de maio de 2023, também publicado no Diário Oficial do Município, a Fagifor está inserida no organograma da SMS e aparece ao lado do IJF como uma entidade vinculada e o indicativo é que ela terá orçamento, assim como a administração próprios. Em 27 de dezembro de 2022, um decreto estabelecendo R$ 5 milhões para garantir a implantação da Fagifor foi publicado pela gestão. 

A rede municipal de saúde em Fortaleza tem os seguintes equipamentos:

  • 118 postos
  • 10 hospitais 
  • 6 UPAs
  • 4 Policlínicas
  • 6 equipes do consultório na rua
  • 15 Centros de Atenção Psicossocial (seis gerais, dois infantis e sete álcool e outras drogas)
  • 5 unidades de acolhimento para dependentes químicos e 
  • 3 residências terapêuticas.

Segundo a Prefeitura, a implementação da Fagifor é uma maneira de agilizar todos os setores da rede de saúde, desde falha nos equipamentos a problemas estruturais em uma unidade, além de atuar na melhoria na gestão de pessoas, aquisição de medicamentos e insumos.

A diretora do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do (Sindsaúde) Ceará, Adriana Moura, indica que já há uma movimentação para a formação da Fagifor. “Apesar de não termos mais detalhes, a implementação dela já começou e alguns sites de concurso público já indicam o estudo para as provas”, completa.

Histórico da Fundação de Fortaleza

O advogado membro da Comissão de Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/CE), Leonardo José Aprígio Costa Sousa, contextualiza que a Fagifor está associada ao acesso a bens e serviços de saúde. Em dezembro de 2020, além do recurso de R$ 5 milhões, foram definidos os procedimentos necessários para a instalação.

“Criada para fazer a gestão, estabelecer contratos e relações com a pasta da saúde municipal. A Fagifor tem semelhanças com a estrutura da Funsaúde ou da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), com prazo indeterminado de existência, sendo tão somente extinta por lei”.
Leonardo José Aprígio Costa Sousa
Advogado membro da Comissão de Saúde da OAB-CE

A gestão da Fagifor deve apresentar um parecer técnico, pelo menos, a cada ano com a prestação de contas da Diretoria Executiva da Fundação. As metas de desempenho e atividades são estabelecidas em contrato, que vale por 5 anos com possibilidade de renovação. Durante esse período, o Poder Público deve avaliar o cumprimento das metas do contrato de desempenho e monitorar a execução do contrato.

Quadro de funcionários da Fagifor? 

As equipes devem ser formadas por servidores concursados por provas ou provas e títulos que serão contratados em regime de CLT. Isso traz maior segurança aos profissionais da saúde num contexto de “precarização”, conforme avalia a diretora do Sindsaúde, Adriana Moura.

“Eu posso lhe dizer que o que nós defendemos é que a entrada de profissionais seja por concurso público efetivo e a Fundação é o que se aproxima, em relação a piso, plano de carreira”. 
Adriana Moura
Diretora do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do (Sindsaúde) Ceará

Sobre a demora para a formação da Fagifor, Adriana analisa que “não era de interesse político, porque era mais interessante contratar OS (Organização Social) e os sindicatos se mobilizaram para que isso não fosse feito”, destaca.

"A saúde de uma forma geral tem um grande número de equipamentos e várias formas de contratualizações e a Fagifor vem no sentido de definir melhor esse tipo de vínculo de relação de trabalho", argumenta o secretário de saúde de Fortaleza, Galeno Taumaturgo. 

O que era a Funsaúde? 

A Fundação de Saúde estadual foi criada em 2020 com a finalidade de encerrar contratos precários com os profissionais da área por meio de cooperativas, além de gerir as unidades de saúde por meio de um projeto de regionalização. 

Contudo, a demora para a posse dos servidores, os custos elevados das contratações e as diferenças salariais entre os contratados da fundação e os servidores atuantes no Estado geraram uma série de polêmicas que culminaram com a extinção da Funsaúde.

Os 6 mil candidatos aprovados em concurso público devem ser incorporados ao serviço público estadual após o encerramento da Funsaúde.

Questionado sobre as semelhanças e distinções entre a Fagifor e a Funsaúde, o secretário de saúde de Fortaleza, Galeno Taumaturgo, disse que "não posso responder o que tem diferente de uma pra outra porque eu não participei da formação da Funsaúde, mas a Fagifor estamos tendo todo cuidado para que possamos fazer algo programado, faseado. Todo planejamento vem sendo feito com muita cautela para que não tenhamos problemas e perceber onde houve falhas para que a gente não erre nas situações. 

"Não consigo detalhar porque um não deu certo e o outro vai dar. Não tenho conhecimento do grave problema que foi na Funsaúde. E essa preocupação a gente tem. E por conta dessa preocupação é que a gente deve fazer as coisas planejadas".
Galeno Taumaturgo
Secretário de saúde de Fortaleza
 

O que é uma Fundação de Saúde?

O advogado Leonardo explica que a Fundação de Saúde é uma estrutura, dotada de personalidade jurídica própria, criada em virtude de lei para desenvolver atividades não privativas e de importância social. 

“Diferentemente da organização social, prevista na Lei 9.637/98, e da organização da sociedade civil de interesse público, Lei 9.790/99 — que, com as entidades filantrópicas, formam o terceiro setor —, a fundação estatal faz parte do Estado, da administração indireta, como também autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e consórcios públicos”, detalha. 

Esse modelo está previsto na Constituição de 1988, no artigo 37, que define o emprego de funcionários sob o regime jurídico pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mediante concurso público, plano de carreira e fixação de salários.

“(A Fundação) Abre precedentes para um área tão cara e importante e fruto de evoluções históricas, políticas e programas com respaldo, reconhecimento e validação mundial, que é o que propõe o SUS em suas diretrizes e princípios”, completa.