Durante uma mobilização em defesa dos direitos indígenas, um mototaxista tirou uma faca e apontou para os manifestantes que protestavam no cruzamento das avenidas da Universidade e 13 de maio, no bairro Benfica, em Fortaleza. O caso aconteceu durante a manhã desta quinta-feira (23).
A caminhada teve início na Fundação Nacional do Índio (Funai) e seguiu até a Praça da Gentilândia, cobrando justiça pelas mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips.
Em vídeo registrado pela TV Verdes Mares, é possível ver o momento em que o homem puxa a faca e é cercado por indígenas e apoiadores, que tentam controlar a situação.
A mobilização nacional ocorreu em outras cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. O ato também fazia críticas ao governo de Jair Bolsonaro.
Faca em meio a protesto
Conforme a Cacika Irê do povo Jenipapo-Kanindé, o grupo de povos tradicionais e servidores da Funai já estava na frente da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC) quando um mototaxista avançou.
"Ele estava querendo botar a moto por cima dos pedestres. Então, a gente começou a fazer barreira humana, mas ele puxou uma faca".
Os indígenas, então, cercaram o homem, tentando desarmá-lo. "Tentamos controlar a situação para que nenhum dos nossos indígenas fosse para cima dele e um dos nossos indígenas tomou a faca dele".
"Nós não vamos nos intimidar, porque a nossa luta é uma luta legítima, pela sobrevivência, pela nossa existência e pela nossa mãe terra", ressalta a Cacika Irê.
Para o coordenador executivo da Articulação dos Povos e Organizações indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), Cassimiro Tapeba, a ação do mototaxista de ameaçar pessoas em meio a uma manifestação pacífica entristece os indígenas.
"A gente não queria isso. Era e é um ato pacífico. A gente pedia por justiça pelo indigenista Bruno Pereira e Dom Phillips", explicou. Conforme apontou, o ato era uma forma de também mostrar o sucateamento da Funai e o descaso com os povos indígenas.
"A gente fica entristecido porque era para mostrar às pessoas que estavam passando ali, para que nossa voz pudesse ser ecoada e para que as pessoas soubessem dos direitos dos povos indígenas que estão sendo violados".
Ninguém ficou ferido na situação, que terminou com o mototaxista, que não foi identificado, indo embora.
Entenda o caso de Dom e Bruno
O indigenista Bruno Pereira, 41, e o jornalista britânico Dom Phillips, 58, foram brutalmente assassinados neste mês, no Amazonas.
Bruno era servidor licenciado da Funai e Phillips, jornalista. Os dois haviam partido da comunidade São Rafael em uma viagem rumo a Atalaia do Norte, mas nunca chegaram ao destino.
Colaborador do jornal The Guardian, Phillips estava escrevendo um livro sobre a preservação ambiental na Amazônia. Pereira atuava como guia de Phillips no Vale do Javari, uma região estratégica para os narcotraficantes, na qual também atuam garimpeiros, pescadores e madeireiros ilegais.
Ambos foram vistos pela última vez no domingo, 5 de junho, enquanto navegavam pelo rio Itaquaí.