Um menino de três anos ficou com sequelas motoras e neurológicas após ser picado por escorpião em Barbalha. O caso aconteceu por volta das 11h30 do dia 21 de fevereiro, enquanto o pequeno Raimundo Neto fazia uma visita para a tia dele. O animal estava no piso de cerâmica, e logo foi morto pelos familiares da criança.
A reação da mãe Nageane de Souza, 34 anos, foi imediata. Vestiu Raimundo às pressas e já o levou para o Hospital São Vicente de Paulo, localizado no município de Barbalha, em um trajeto que não durou mais do que 30 minutos.
Dentro da bolsa, levava também o escorpião morto em um plástico para mostrar aos profissionais de saúde. "Ele entrou pelo SUS no hospital, levei porque é referência da região do Cariri", detalhou.
No entanto, o que esperava ser um rápido tratamento se transformou em 33 dias de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Desses, Raimundo ficou 11 dias entubado.
A alta do pequeno só ocorreu no último sábado (15). Porém, familiares irão seguir fazendo tratamentos para tratar as sequelas.
"Ele não está andando, não está enxergando e está com dificuldade para falar. Por enquanto, não há previsão dele voltar a andar ou ver", acrescentou Nageane, que atua como professora.
Paradas cardiorrespiratórias
No dia em que deu entrada no hospital, Raimundo passou por alguns exames e ficou em observação. O pequeno chegou a comer, e continuou conversando com a mãe até a entrada na UTI, que aconteceu no início da madrugada do dia 22 de fevereiro, quase 12 horas desde que entrou na unidade.
Por conta do veneno do escorpião, teve um edema agudo de pulmão e sofreu quatro paradas cardiorrespiratórias. Foi somente pela manhã que o soro contra o veneno foi aplicado.
"Sou da área da educação, então não perguntei o medicamento que deram quando cheguei. Eu fiz minha parte. Levei o animal na bolsa, e disseram que era o da nossa região mesmo e pediram para jogar fora", relatou Nageane.
"De noite é que foram pedir o soro. Se tivesse dado cedo, talvez tinha evitado tudo isso. E se tivessem me dito: 'vá ao Hospital Regional (do Cariri), eu teria ido'. Mas não fui orientada a isso".
Após a alta do filho, Nageane reforçou que não está procurando culpados. "Só quero resposta, que o Hospital se manifeste, explique o porquê de não ter dado o soro logo. Será que teria evitado todas essas sequelas?", acrescentou.
O Hospital São Vicente de Paulo, em Barbalha, informou que o soro foi administrado em momento oportuno, de acordo com a avaliação da pediatra. Além disso, a unidade alega que as complicações ocorreram devido ao veneno do escorpião, raro no Ceará, e não por conta da hora em que o soro foi aplicado.
Tratamento das sequelas
Por conta das sequelas, Raimundo passou a tomar remédios controlados para o coração e para crises convulsivas. "Ele nunca teve problema cardíaco e adquiriu problema no coração. Aí ele tá tomando esse remédio", detalhou Nageane.
Ele ainda tem consciência, consegue reconhecer a irmã pela voz. Enquanto estava no hospital, chegou a ficar em quadro vegetativo, mas já evoluiu muito. No entanto, não há previsão para ele voltar a andar ou ver.
"Falaram para eu recorrer às terapias, e é essa a minha luta. Se tiver alguma coisa a meu alcance, eu vou fazer, para ver ele ser essa criança que eu conheço. Por enquanto é irreversível, mas tenho fé que ele vai voltar a andar e enxergar".
Nesse busca pela recuperação de Raimundo, a Secretaria Municipal de Barbalha disponibilizou atendimento em uma unidade de saúde da cidade, mas Nageane ainda deve solicitar profissionais mais especializados para cuidar do filho. Além disso, a família está pagando por tratamento privado, por ser necessário no tratamento dele.
Agora, o que guarda na mente é a lembrança do pequeno acordando e se encantando com o azul do céu. "É a cor preferida dele, e ele dizia: 'mainha, o céu está tão lindo'. Sou grata que ele está viva, mas vou lutar para ele voltar a enxergar".