Quando um marechal cearense fundou o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1950, talvez não imaginava que, 73 anos depois, 4 a cada 10 vagas seriam ocupadas por conterrâneos – nem que uma sede do Instituto poderia chegar a Fortaleza.
Com um dos processos seletivos mais difíceis do Brasil, o ITA é berço da formação de dezenas de estudantes do Ceará por ano. A possibilidade de chegada da instituição à capital, então, é definida por educadores como “realização de um sonho”.
Por meio de assessoria de comunicação, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou ao Diário do Nordeste que a instalação de sede do ITA no Ceará está “em debate” entre o Ministério da Defesa e outros órgãos – e que, portanto, não há prazos nem mais informações sobre o assunto.
A possibilidade, porém, já é dada como concreta por educadores cearenses.
“Ele vem por merecimento”, inicia Graça Bringel, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe). Ela cita que a vinda do ITA “se deve a um trabalho meticuloso, projetado, com turmas especiais e metodologias diferentes”.
“Procuramos onde existem talentos nos lugares mais longínquos do Estado, e vamos ‘prendê-los’ aqui. Eles iam pra São Paulo e não voltavam mais”, observa a educadora.
Vamos desenvolver mais a tecnologia e a educação do Ceará como um todo, trazer gênios pra cá e deixar os nossos aqui. Os alunos do ITA são dedicados, disciplinados.
Graça aposta que o número de turmas e colégios preparatórios para o vestibular do ITA deve aumentar, assim como a procura de alunos que “deixavam de participar da seleção porque tinham dificuldades” de mudar de estado, incluindo os da rede pública.
“O Ceará tem vocação pra educação, que é boa tanto na área privada como na pública. Em todas as redes existem bons alunos. O ITA estando no Ceará, é uma oportunidade ao alcance de muitos. Temos uma educação modelo”, frisa a presidente do Sinepe.
“Fortaleza é um hub”
A preparação de alunos “desde cedo” para o vestibular do ITA e para olimpíadas científicas, principalmente na rede privada, é apontada como pilar para o destaque dos cearenses em aprovações por Marcelo Pena, diretor de Ensino da Organização Educacional Farias Brito.
“É um trabalho muito bem desenvolvido pelas instituições com professores de altíssimo nível, que se dedicaram ao longo dos anos a aprender como preparar os alunos para esses vestibulares mais difíceis. Isso aliado a alunos com foco e dedicação”, destaca.
O educador pontua que diversos estudantes vêm de outros estados para se preparar em escolas de Fortaleza para o ITA, o que destaca a cidade junto à instituição e pode contar como fator para instalação de uma sede no Ceará.
“A vinda de um instituto como esse ao Ceará só vai alavancar ainda mais a excelência do ensino. E obviamente esses profissionais vão poder ficar na nossa região. São pessoas muito empreendedoras, o Estado pode crescer bastante”, projeta Marcelo.
Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações do SAS Plataforma de Educação, define Fortaleza como “um hub de preparação pro ITA”, e também aponta o desenvolvimento da região como um dos grandes ganhos com a possível chegada do Instituto à capital.
Investir em educação faz com que você tenha desenvolvimento econômico. Quando tenho muitos talentos juntos, fomento uma indústria de educação e pesquisa, estimulo a economia local. Isso vai fomentar um ecossistema de muito desenvolvimento tecnológico.
Para ele, um dos “diferenciais” que fazem a cidade largar na frente nos debates sobre futuras sedes é a estrutura pré-instalada.
“Ter a infraestrutura da Base Aérea de Fortaleza é muito diferente, porque é um ambiente muito parecido com o que existe hoje em São José dos Campos (sede do ITA). A ideia do ITA foi inspirada no MIT, dos EUA: é ter no mesmo local alunos e professores convivendo num grande campus”, pondera Ademar.
‘É um mundo de oportunidades’
Entre as dezenas de cearenses que já tiveram a oportunidade de ingressar no ITA está Caio Bianchi, 19, aprovado no vestibular de 2021. Há 1 ano e meio, então, o jovem vivencia “o mundo de oportunidades” do campus, e enfatiza: “não me arrependo nem por 1 segundo de ter ido”.
“Só decidi que queria ir para o ITA no 3º ano do ensino médio, e por causa das olimpíadas de física e matemática eu já tinha uma base muito boa. Em questão acadêmica, lá é bastante puxado, mas o que mais gosto é a convivência”, pontua.
“Você pega um monte de gente muito boa academicamente, que já tem um perfil, e coloca todo mundo pra morar no mesmo lugar. Muita gente acha que é um monte de nerd estudando, mas tem resenha também”, brinca.
Além das aulas, Caio se dedica a um projeto voluntário criado e administrado 100% por alunos do ITA: o Curso Alberto Santos Dumont (CASD), que oferta aulas gratuitas a estudantes de baixa renda.
“Existem várias iniciativas dos próprios alunos, então tenho muita oportunidade de me desenvolver. E, pra mim, o CASD é ótimo, porque estou no ITA, mas quero ser professor”, projeta o cearense.