Sair de casa rumo à escola – talvez até com papel e caneta no bolso – voltou a ser obrigação para milhões de cearenses com o 1° turno das Eleições Municipais 2024, no último domingo (6). Neste ambiente, os eleitores puderam conferir as mais diversas “exposições de arte” resultado de atividades feitas por crianças e espalhadas nos locais de votação.
Isso porque grande parte dos locais onde são instaladas as urnas de eleição são unidades de ensino. A experiência comum de voltar ao colégio e conferir as cartolinas foi compartilhada nas redes sociais.
Uma publicação feita no Instagram e BlueSky, inclusive, ganhou um relevante engajamento. "A eleição leva milhões de brasileiros para ver as cartolinas das crianças nas paredes das escolas. Talvez seja a maior exposição de arte do mundo. Um público de fazer inveja ao Louvre”, escreveu o perfil.
Pela identificação, vários comentários se acumulam, como “Eu amo essa parte. Hoje eu vi uma exposição de impressionismo” e “Tava lindo de ver! Até enquadraram as obras”. E, você leitor, o que conseguiu conferir durante o voto?
O Diário do Nordeste conheceu os corredores e salas de aula de duas escolas na capital cearense para entender quais temas são expostos nas cartolinas e como as atividades contribuem para a formação dos pequenos.
Habilidades motoras
O maior ponto de votação de Fortaleza está no Colégio Ari de Sá, no bairro Edson Queiroz, onde 12.197 eleitores estão aptos a exercer a escolha dos futuros gestores públicos, conforme o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE/CE).
Ao caminhar pelo labirinto de salas de aula e corredores coloridos dá para ter a dimensão da capacidade de receber tanta gente. Esse público pode conferir as obras da Marina, da Antonella, do Tom e diversos outros estudantes entre dois e três anos.
As atividades feitas com a mediação de professores é presa com uso de adesivos e de pregadores de roupa, por exemplo. "Dá um colorido e uma leveza para quem veio na tensão sobre o voto", resume Ayala Barbosa, professora do Infantil I e II na escola.
As cartolinas são preenchidas com materiais recicláveis, como revistas, palitos de picolé e com tintas feitas a partir de beterraba e cenoura.
"Nós trabalhamos com sequências didáticas e com a motricidade fina, que é essa questão do rasgar, picotar, amassar... Isso ajuda na pega do lápis, porque muitos chegam aqui fazendo com a forma palmar e nós auxiliamos para a forma adequada", explica Ayala.
Os temas também vão até o espaço. Uma galeria de arte sobre astronomia foi criada pelos estudantes maiores com aprendizados sobre as constelações, planetas e fases da lua.
"Todos os dias nós fazemos alguma atividade diferente de pintura, colagem com diferentes tipos de materiais, trabalhamos as texturas, antes de expor", completa sobre as dinâmicas para estimular a criatividade e imaginação.
Saiba os 5 maiores locais de votação em Fortaleza
- Colégio Ari de Sá - Edson Queiroz: 12.197 eleitores
- Centro de Formação e Desenvolvimento para Profissionais da Educação: 9.700 eleitores
- Universidade Estadual do Ceará: 9.570 eleitores
- Unifor: 9.219 eleitores
- Faculdade Farias Brito: 8.952
Inclusão na escola
Quem foi votar na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Professor Luís Costa, no Luciano Cavalcante, saiu de lá não só com o dever cidadão cumprido, mas também com um aprendizado sobre inclusão e diversidade.
Por lá, a última exposição de cartolinas foi nomeada de “Tenho amigos de todo jeito” sobre o reconhecimento de cores diferentes de pele e de pessoas com deficiência, por exemplo, como deve ser.
Além disso, uma galeria formada em um dos corredores estampa fotos dos pequenos sob o título “Cabe todo mundo no mundo”. As lições são simples: “não gritar, não beliscar, não chamar os amigos de nomes feios”. Isso bem que se aplica ao contexto dos eleitores.
“O processo de criação da arte vai saindo no dia a dia, faz parte da rotina deles, junto com a produção escrita. Eu digo sempre para eles usarem a imaginação”, detalha a professora infantil IV Flávia Alves Saraiva.
As atividades também são colocadas dentro das salas de aula, onde o alfabeto aparece com o “caminho” feito para se escrever as letras e que os estudantes vão circulando de forma espontânea.
Além disso, são usadas imagens para mostrar os sons que a boca faz ao pronunciar cada letra. Em um caderno guardado no armário está a assinatura dos estudantes. Ao ver isso, pergunto para a professora Flávia:
– Todas as crianças de 4 anos já sabem escrever o próprio nome?
– Não sei se todas, mas meus alunos sim.
É comum receber estudantes que, inicialmente, dizem não saber como executar a atividade. Logo a professora cuida de mudar essa mentalidade.
“A gente trabalha de acordo com os temas que vão sendo definidos coletivamente com a coordenação e sempre tem o desenho, a opinião deles, tem produções que eu interfiro e tem produções livres”, acrescenta.
Os temas mais recorrentes são relacionados a escola, a família e as amizades. "Temos o movimento de trabalhar a cultura antirracista, a inclusão de uma forma geral, não focando numa deficiência, mas na diversidade como um todo", enfatiza.