Censo 2022: Proporção de indígenas alfabetizados aumentou no Ceará; veja a taxa por cidade

Segundo análise realizada pelo Diário do Nordeste, a mudança nessa proporção foi maior entre os homens e nos indígenas de 35 a 44 anos

Uma análise dos censos demográficos de 2010 e 2022 mostra que o Ceará registrou aumento da proporção de indígenas alfabetizados, da mesma forma que foi observado na população total do Estado. Naquele primeiro ano, 78% dos indígenas com 15 anos ou mais do Estado sabiam ler e escrever pelo menos um bilhete simples, no idioma que conheciam, inclusive em língua indígena. Doze anos depois, essa proporção passou para 83%.

A informação faz parte de uma nova leva de divulgações do Censo 2022 feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta sexta-feira (4). Foram publicadas estatísticas inéditas sobre a situação de alfabetização das pessoas indígenas, registros de nascimentos de crianças indígenas com cinco anos ou menos de idade e as características dos domicílios particulares permanentes ocupados com pelo menos um morador indígena.

Segundo análise realizada pelo Diário do Nordeste, a mudança nessa proporção foi maior entre os homens e na faixa etária de 35 a 44 anos.

Em 2010, a taxa de analfabetismo entre as mulheres indígenas do Ceará era de 19%, enquanto 81% delas era alfabetizada. Já entre os homens, 25,1% deles eram analfabetos naquele ano e 74,9%, alfabetizados.

Doze anos depois, a taxa de analfabetismo entre as mulheres chegou a 14,6% (-4,4 pontos percentuais). Na população masculina, ficou em 19,7%. O índice ainda é mais alto entre eles, mas a redução observada entre os dois censos foi de 5,4 pontos percentuais.

Ao se observar os dados segmentados por faixas etárias, percebe-se que quase a totalidade dos indígenas cearenses de 15 a 24 anos é alfabetizada, chegando a 97,3% entre os jovens de 15 a 19 anos. A maior taxa de analfabetismo, por sua vez, está nos idosos de 65 anos ou mais. Porém, esse grupo etário teve o 3º maior crescimento da população alfabetizada.

As faixas etárias que tiveram maior crescimento, em pontos percentuais, entre os dois levantamentos oficiais foram:

  • 35 a 44 anos: de 76% em 2010 para 87,3% em 2022 (+11,3 pontos percentuais)
  • 55 a 64 anos: de 56,4% em 2010 para 67,4% em 2022 (+11 pontos percentuais)
  • 65 anos ou mais: de 41,7% em 2010 para 50,9% em 2022 (+9,2 pontos percentuais)

OS CENÁRIOS NOS MUNICÍPIOS DO CEARÁ

No Censo Demográfico de 2022, o IBGE identificou 56.353 pessoas autodeclaradas indígenas no Ceará, o que representa 0,64% dos 8,7 milhões de habitantes. Esse número deixa Estado como o 4º do Nordeste e o 9º do Brasil com mais indígenas.

Assim como ocorreu em todo o Brasil, essa população "aumentou", no Estado, entre os dois levantamentos. Essa variação é um reflexo de mudanças metodológicas feitas para melhorar a captação dessa população no País. A pergunta ‘você se considera indígena?’, por exemplo, foi ampliada para fora das terras indígenas.

O Censo mais recente também contou com apoio de organizações e pessoas indígenas para a coleta. Com isso, é possível perceber mudanças na totalidade das pessoas com essa autodeclaração nos municípios.

Em algumas cidades onde não havia registros de indígenas em 2010, por exemplo, eles foram identificados em 2022 — e isso tem influência na análise sobre as mudanças nas taxa de alfabetização e de analfabetismo. É o caso de Santana do Acaraú, que antes não tinha indígenas e passou a contabilizar 104 deles em 2022. Destes, 62 são alfabetizados, o que leva a uma taxa de 59,6%.

Confira, no mapa abaixo, essas informações para cada cidade do Ceará.

Ao se considerar apenas as cinco cidades com maiores populações indígenas tanto em 2010 quanto em 2022, apenas Fortaleza teve aumento na taxa de analfabetismo.

  • Caucaia: de 18,4% para 13,2% (-5,2 pontos percentuais)
  • Fortaleza: de 7% para 9,2% (+2,2 pontos percentuais) 
  • Maracanaú: de 18,9% para 13,5% (-5,4 pontos percentuais)
  • Itarema: de 38,3% para 20,8% (-17,4 pontos percentuais)
  • Monsenhor Tabosa: de 29,5% para 22,5% (-7 pontos percentuais)

ANALFABETISMO ENTRE INDÍGENAS NO BRASIL

Apesar do avanço observado, o Ceará ainda está entre os 13 estados brasileiros com taxa de analfabetismo acima do indicador nacional nessa população. Em todo o País, 15,05% dos indígenas ainda são analfabetos. As unidades da federação destacadas pelo IBGE são:

  1. Maranhão (27,44%)
  2. Acre (23,99%)
  3. Piauí (22,38%)
  4. Rio Grande do Norte (21,50%)
  5. Alagoas (21,46%)
  6. Roraima (20,71%)
  7. Paraíba (18,88%)
  8. Pernambuco (17,67%)
  9. Ceará (17,04%)
  10. Mato Grosso (16,04%)
  11. Bahia (16,00%)
  12. Tocantins (15,57%)
  13. Pará (15,26%)

MUDANÇAS NA METODOLOGIA

Se em 2022 foram identificados 56,3 mil pessoas autodeclaradas indígenas no Ceará, em 2010 esse número era de 20.697. O IBGE ressalta cautela na comparação dos resultados da população dessa etnia entre os dois Censos. Segundo o órgão, há diferenças entre as metodologias empregadas nos dois levantamentos:

  • No Censo 2010, definiu-se como “indígena” a pessoa residente em terras indígenas que se declarou indígena pelo quesito de cor ou raça ou pelo quesito “se considera indígena”; ou a pessoa residente fora das terras indígenas que se declarou indígena.
  • No Censo 2022, foram considerados os residentes em “localidades indígenas” ou fora delas que se declararam indígenas pelos mesmos quesitos.

O Instituto explica que a abrangência se tornou maior porque, há 12 anos, o conjunto de terras indígenas era formado por aquelas que estavam na situação fundiária de declarada, homologada, regularizada ou em processo de aquisição como reserva indígena.

Já em 2022, foram consideradas "localidades indígenas" aquelas que compõem o conjunto das Terras Indígenas, dos agrupamentos indígenas e das demais áreas de conhecida ou potencial ocupação indígena.