Além da continuidade da pandemia de Covid, que segue exigindo atenção e cuidados, 2022 também tem sido no Ceará um ano com dinâmicas atípicas nos registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causadas por influenza. Com 92 óbitos, 2022 foi período que registrou o maior número de mortes por influenza no Estado nos últimos 5 anos.
A Campanha de Vacinação atingiu apenas 49,5% da população alvo e segue aberta ao público em geral. Profissionais da saúde enfatizam que a vacina é a principal forma de combate.
Dados da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) repassados ao Diário do Nordeste indicam que, nesse intervalo de tempo, 2018 foi ano com a maior quantidade de casos de SRAG por influenza no Ceará, com 450 registros, mas, em 2022, embora tenha menos ocorrências, há mais mortes. Este ano, foram até o momento, 394 casos de SRAG por influenza.
A influenza é uma infecção provocada por vírus e transmitida por meio das secreções das vias respiratórias de uma pessoa contaminada ao espirrar, tossir ou falar. Durante a vida, uma pessoa pode contrair influenza várias vezes, mas, em alguns casos, ela pode evoluir para uma forma grave, principalmente, em grupos como idosos, crianças, gestantes e pessoas com comorbidade.
No Ceará, conforme a Sesa, em 2022, o número elevado de óbitos por influenza em 2022, se concentrou em janeiro, quando 87 pessoas morreram. Em fevereiro foi registrada uma morte e outros 4 óbitos ocorreram em abril.
Em 2021, não houve registro de mortes por influenza no Ceará. Em nota, a Sesa explica que isso se deve “ao momento da pandemia de Covid-19, onde a prioridade de processamento de amostras era a identificação do vírus SARS-CoV-2”.
A infectologista do Hospital São José, Christianne Takeda, reitera que em 2020 e 2021 houve realmente o menor número de casos de infecções respiratórias causadas por outros vírus que não Covid no mundo.
“Isso deve-se provavelmente pelas questões que foram implementadas na tentativa de se evitar a infecção pela Covid. O uso de máscara, o distanciamento, isso acaba impactando na transmissão de outros vírus respiratórios”, explica.
Mudança na sazonalidade
No Estado, historicamente o período de sazonalidade da influenza é o primeiro semestre de cada ano, explica a Sesa, com um maior número de casos entre abril e maio, em geral. Mas, em 2022 foi observado um “comportamento atípico, com um importante registro de número de casos já em janeiro, com 343 casos de SRAG por influenza”, completa a nota.
O médico Robério Leite, infectologista pediátrico, explica que essa dinâmica foi observada no Brasil. “Tem um fenômeno associado à pandemia em relação ao vírus da influenza. Houve uma mudança epidemiológica muito intensa da circulação dos vírus respiratórios. Tanto para dimensão dos casos da sazonalidade quanto para as mudanças de momento em que ele (vírus) apareceu”.
Robério destaca que no final de 2021 houve aumento de casos “totalmente fora de época no Brasil e com uma confluência dos casos de Covid”. O médico analisa que o maior número de óbitos em 2022 pode ser justificado alguns fatores, como:
- A confluência dos vírus da influenza com outros vírus respiratórios, inclusive o da Covid;
- Uma população menos vacinada contra a influenza, já que a atenção tanto das pessoas, como do sistema de saúde estava mais voltada à Covid
- Ampliação do monitoramento dos vírus respiratórios, que se refletiu no aumento da identificação de ocorrências que em outros cenários não teriam tido a causa efetiva notificada.
“Nós tivemos uma explosão de casos no final do ano passado inclusive com uma influenza que não estava prevista na vacina. Provavelmente, as condições ecológicas e a própria competição entre vírus pode ter influenciado nisso”, reforça.
Vacina é a forma de proteção
Em abril, teve início no Brasil a Campanha de Vacinação contra a Influenza. Mas, no Ceará, conforme informações do painel do Ministério da Saúde, até sexta-feira (15), das 3,2 milhões de pessoas que deveriam ser vacinadas, somente 1,5 milhão foram imunizados. O que equivale a 49,5% da população alvo.
A Campanha prioriza, dentre outros, crianças de 6 meses a menores de 5 anos de idade, gestantes, puérperas, povos indígenas, trabalhadores da saúde, idosos com 60 anos ou mais, professores e pessoas com doenças crônicas não transmissíveis.
Em junho, a Campanha foi aberta à população em geral. O infectologista Robério Leite, destaca que “a incerteza (da sazonalidade da influenza) complica mais ainda o cenário. A taxa de cobertura vacinal está baixa. É mais importante ainda que se procure a proteção, pois, assim como na Covid, a vacina da influenza é fundamental para evitar internações e mortes”.
A infectologista do Hospital São José, Christianne Takeda, também destaca que, para a influenza, a imunização é a forma mais importante de prevenção. E, acrescenta ela, as recomendações feitas para prevenir a Covid, como: se estiver com sintomas gripais não ir ao trabalho, a higienização das mãos antes de comer, o uso de máscara sempre que possível, evitar aglomerações, também impacto na redução dos casos de influenza.