O governador Elmano de Freitas (PT) convocou a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), a Defesa Civil e a Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará (SRH) para uma reunião na próxima semana. O objetivo é discutir a situação de regiões alagadas no Estado após as chuvas registradas no primeiro trimestre.
A ideia do encontro é resultado da mudança de cenário no Ceará, que tem registrado fortes chuvas, e havia recebido prognóstico apontando que a tendência mais forte para este ano eram de precipitações abaixo da média. Por causa das previsões anteriores, o Governo do Estado vinha trabalhando, desde o fim do ano passado, com a possibilidade de seca em alguns regiões do Ceará.
A reunião foi informada pelo titular da SRH, Robério Monteiro, na manhã desta sexta-feira (5), durante visita do presidente Lula (PT) ao Ceará, em Iguatu. “Estávamos trabalhando a questão da seca, mas graças a Deus, agora, com essa situação, estamos fazendo uma reunião ao inverso dela, para tratar de algumas regiões (com) alagamentos. O governador já chamou a Funceme, a Defesa Civil e a Secretaria dos Recursos Hídricos”, afirmou o secretário.
De acordo com ele, o encontro deveria ter ocorrido na quinta-feira (4), mas foi adiado devido à vinda do presidente para acompanhar as obras da ferrovia Transnordestina e assinar a ordem de serviço para as obras do Ramal do Salgado.
Mudança no cenário de chuvas do CE
A forte incidência do El Niño no último trimestre de 2023 provocou ondas de calor no Brasil e preocupou pesquisadores sobre possíveis impactos na quadra chuvosa cearense. O fenômeno gera aumento de chuvas nas regiões Sul e Sudeste e causa o inverso ocorre no Norte e no Nordeste. No Ceará, especificamente, ele pode impactar o aporte dos reservatórios e a regularidade das chuvas, repercutindo na agricultura.
Em novembro de 2023, o Governo do Estado solicitou a produção de um plano detalhado de ações a ser implementado em resposta ao cenário de seca. O levantamento, cuja previsão estava prevista para o dia 13 de dezembro, não chegou a ser divulgado.
Em janeiro de 2024, o prognóstico da Funceme apontou 45% de probabilidade de chuvas abaixo da média no Ceará entre fevereiro e abril, contra 40% de chance de precipitações dentro da normalidade. Até agora, então, o cenário menos provável tem se desenhado.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, Francisco Vasconcelos Júnior, doutor em Meteorologia e pesquisador Funceme, explicou que o El Niño, quarto maior do Ceará desde 1957, teve pico entre dezembro e o início de janeiro. O risco de impacto sobre a estação chuvosa era “muito alto”, mas o fenômeno tende a acabar neste mês e o efeito dos impactos dele foram atenuados pela temperatura do oceano. Com águas mais aquecidas, há maior evaporação, formação de nuvens e chuvas.
O Atlântico Tropical está quente, muito quente. Esse foi o principal motivo para que, mesmo dentro do El Niño, tenha havido essas chuvas mais expressivas, com fevereiro acima da normalidade e março dentro da normalidade no Ceará, principalmente na região mais ao centro-norte.
Chuvas no Ceará
A maior incidência de chuvas no Ceará começou “mais tarde” em 2024. Janeiro, mês da pré-estação, registrou precipitações 40,7% abaixo da média histórica. Fevereiro, por outro lado, bateu recordes, com acumulado médio de 230,5 mm nos 29 dias do mês, 90% acima da média normal meteorológica. Em Março, dados da Funceme desta sexta-feira (5) apontavam média de 233,6 mm — 13% a mais do que o esperado.
As chuvas intensas que foram registras em São Benedito, no domingo (2), provocaram o transbordamento do Rio Arabé, que cruza o município. Com isso, ruas ficaram alagadas em diversos bairros da cidade. Desalojados, alguns moradores foram realocados em pousadas. Na última quinta-feira (4), houve deslizamento de rochas no distrito de Missi, em Irauçuba, no interior do Ceará. A rodovia que conecta a área a outros municípios também foi e destruída.
Segundo o Portal Hidrológico da Funceme, com dados atualizados às 12 horas desta sexta-feira, há 45 açudes sangrando e 16 com volume acima de 90%. A resenha diária de monitoramento da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) da última quinta-feira (4) aponta que, ao todo, os 157 açudes monitorados estão com 47,45% da capacidade preenchida.