O paulista Dom José Antonio Aparecido Tosi Marques passou 24 anos à frente da Arquidiocese de Fortaleza até renunciar ao posto, em maio deste ano, ao completar 75 anos de idade. Ele foi o segundo arcebispo mais longevo da instituição, que já teve seis representantes máximos e aguarda a chegada do sétimo, Dom Gregório Paixão, que assume o posto no próximo dia 15 de dezembro.
Em mais de duas décadas de governo pastoral, Dom José deixa um extenso legado, que vai de obras físicas e criação de eventos ao incentivo à participação popular em decisões importantes das comunidades.
O padre Clairton Alexandrino, responsável pela Paróquia São José, na Catedral Metropolitana de Fortaleza, observa que o arcebispo teve sensibilidade “em perceber regiões que necessitavam de maior evangelização”. Assim, criou 70 paróquias e cinco áreas pastorais durante seu mandato.
À época em que assumiu a Arquidiocese, em 1999, a instituição abrangia 30 municípios e tinha 82 paróquias e 217 padres. Atualmente, há 148 paróquias e áreas pastorais e mais de 400 sacerdotes, distribuídos em nove regiões episcopais de 31 municípios.
“É uma marca muito significativa porque praticamente metade das estruturas eclesiais dos bairros de Fortaleza e de cidades do interior foi instituída por ele”, concorda o padre Silvio Scopel, responsável pela Comunidade Católica Shalom em Fortaleza.
Como os números mostram, ele também destaca o trabalho de Dom José na pastoral vocacional, tendo ordenado 228 padres e 8 bispos. “Mais da metade do clero arquidiocesano de Fortaleza foi ordenado por ele, é muita coisa”, afirma.
Devoto de Nossa Senhora, Dom José também foi o idealizador da Caminhada com Maria, uma das maiores procissões religiosas do Brasil. O evento teve sua primeira edição em 2003 e ocorre anualmente na festa da Assunção de Nossa Senhora, em 15 de agosto, atraindo centenas de milhares de pessoas.
Outra marca de seu mandato foi a participação ampla de entes consultivos. Desde o início, contou com a articulação dos Conselhos Episcopal, Presbiteral, Pastoral e Econômico, do Colégio de Consultores e das Assembleias Arquidiocesanas. Além disso, encabeçava o Fórum Arquidiocesano de Movimentos Eclesiais (Famec).
“Com isso, ele mantinha perto dele todos os movimentos, comunidades, novas comunidades, institutos e serviço, e tinha um trabalho de comunhão abrangente muito grande, não só em nível territorial, mas dos carismas”, ressalta o padre Silvio Scopel.
As duas décadas de gestão também permitiram a Dom José importantes iniciativas como:
- Criação da Faculdade Católica de Fortaleza, em 2009;
- Reforma do Colégio Castelo para transformá-lo no Centro de Pastoral Maria, Mãe da Igreja;
- Criação da Caminhada Penitencial, desde 2009, no terceiro domingo da Quaresma;
- Elaboração dos Planos de Pastoral da Arquidiocese a cada quatro anos;
- Doação de uma casa da Arquidiocese para apoio a pessoas em situação de rua;
- Criação do Fundo de Sustentação dos Presbíteros, para garantir apoio financeiro a padres de paróquias ou áreas pastorais mais distantes ou periféricas.
O padre Clairton Alexandrino também lembra que a Cúria Metropolitana (sede do governo da Arquidiocese), que antes funcionava “em condições precárias” no subsolo da Catedral, foi transferida por Dom José para o Seminário da Prainha - “um local bem mais agradável”.
O que diz Dom José
Questionado pelo Diário do Nordeste sobre o próprio legado, durante entrevista no mês de outubro, Dom José respondeu com uma parábola, mas sem vaidades.
Após uma breve pausa reflexiva, iniciou: “quando o semeador está jogando a semente, ele não sabe qual vai brotar ou se vai dar frutos, qual vai dar mais ou qual vai dar menos. Mas o importante é jogar a semente”.
“E quem dá as sementes é Deus”, continuou. “Eu não sei tudo o que Ele fez ou fará no coração das pessoas que tenham passado pela minha mão nas sementes que Ele mandou semear. Mas Ele sabe o que faz”.
“Às vezes, encontro pessoas que dizem: ‘nossa, que coisa maravilhosa o senhor fez na minha vida!'. Mas nem me lembro do nome da pessoa. Isso é para dizer: a gente não sabe quais frutos vão dar das sementes que a gente jogou, mas Deus sabe”, finalizou.
Histórico pastoral
Dom José Antonio nasceu em Jaú, em São Paulo, no dia 13 de maio de 1948 - dia de Nossa Senhora de Fátima. Tornou-se diácono em 1973, e padre um ano depois. Com uma caminhada presbiteral de 17 anos, em 1991 foi ordenado bispo e nomeado bispo auxiliar de São Salvador da Bahia.
Oito anos depois, no dia 13 de janeiro de 1999, o Papa João Paulo II o nomeou arcebispo de Fortaleza, o sexto da instituição católica:
- Dom Manoel da Silva Gomes (1912 a 1941)
- Dom Antonio de Almeida Lustosa (1941 a 1963)
- Dom José de Medeiros Delgado (1963 a 1973)
- Dom Aloísio Léo Arlindo Lorscheider (1973 a 1995)
- Dom Cláudio Aury Affonso Hummes (1996 a 1998)
- Dom José Aparecido Tosi Marques (1999 a 2023)
Na manhã do último sábado (9), aconteceu na Sé Catedral a missa em ação de graças aos 24 anos do pastoreio do arcebispo. “A incapacidade me ajudou a crescer na confiança em Deus e na graça de cada dia. Hoje agradecemos não ao que José Antonio Tosi Marques realizou, mas ao que esta Igreja realiza para responder ao dom de Deus”, disse durante a homilia.
Mesmo deixando o posto de arcebispo, ele permanecerá vivendo na residência episcopal de Fortaleza, a pedido do novo arcebispo, Dom Gregório Paixão, cuja missa de posse está marcada para as 19h do dia 15 de dezembro, na Catedral Metropolitana.