Ceará será o estado mais impactado do Brasil por tarifaço de Trump; veja ranking
Setores da siderurgia e calçados são os que mais exportaram para os Estados Unidos no 1º semestre de 2025
O Ceará deve ser o estado mais impactado pelo tarifaço de Trump. A imposição de uma alíquota de 50% sobre os produtos brasileiros começa a valer a partir de 1º de agosto.
Segundo dados do Comex Stat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), 52,2% das exportações do Ceará tiveram como destino os Estados Unidos. O volume de comercialização dos produtos cearense representou 557 milhões de dólares.
Os setores da siderurgia e de calçados foram os que mais enviaram produtos aos Estados Unidos. Os números de 2025, se comparados com igual período de 2024 (de janeiro a junho), representam um crescimento de 184%.
No ranking de quantidade exportada para os Estados Unidos, depois do Ceará, aparecem os estados do Espírito Santo (33,9%), Sergipe (31,4%) e São Paulo (19,5%). Já na outra ponta da tabela, estão os estados de Roraima (0,56%), Mato Grosso (1,13%) e Acre (1,25%).
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Participação dos Estados Unidos nas exportações de cada estado (2025)
- Ceará: 52,2%
- Espírito Santo: 33,9%
- Sergipe: 31,4%
- São Paulo: 19,5%
- Rio Grande do Norte: 15,3%
- Rio de Janeiro: 15%
- Santa Catarina: 14,5%
- Maranhão: 13,3%
- Paraíba: 12,4%
- Minas Gerais: 11,6%
- Rio Grande do Sul: 10,2%
- Alagoas: 9,079%
- Amazonas: 8,79%
- Bahia: 8,30%
- Amapá: 7,71%
- Paraná: 6,61%
- Mato Grosso do Sul: 5,97%
- Pará: 5,24%
- Goiás: 5,073%
- Rondônia: 4,90%
- Pernambuco: 4,48%
- Piauí: 3,66%
- Distrito Federal: 3,11%
- Tocantins: 2,49%
- Acre: 1,25%
- Mato Grosso: 1,13%
- Roraima: 0,56%
Em valor exportado, Ceará é nono no Brasil
Considerando somente o valor exportado, conforme dados de janeiro a junho deste ano do Comex Stat, plataforma do Ministério da Indústria, Comércio e Relações Exteriores, o estado de São Paulo é o mais impactado (US$ 6,4 bilhões), seguido pelo Rio de Janeiro (US$ 3,2 bilhões), Minas Gerais (US$ 2,5 bilhões), Espírito Santo (US$ 1,62 bilhão) e Rio Grande do Sul (US$ 950 milhões).
Nesse contexto, o Ceará aparece em nono lugar, ainda com o Pará, o Paraná e Santa Catarina à sua frente.
Ranking de Exportação por Valor FOB (US$)
- São Paulo: US$ 6,4 Bilhões
- Rio de Janeiro: US$ 3,2 Bilhões
- Minas Gerais: US$ 2,5 Bilhões
- Espírito Santo: US$ 1,62 Bilhão
- Rio Grande do Sul: US$ 950 Milhões
- Santa Catarina: US$ 847 Milhões
- Paraná: US$ 735 Milhões
- Pará: US$ 569 Milhões
- Ceará: US$ 557 Milhões
- Bahia: US$ 440 Milhões
- Goiás: US$ 337 Milhões
- Maranhão: US$ 335 Milhões
- Mato Grosso do Sul: US$ 315 Milhões
- Mato Grosso: US$ 166 Milhões
- Rondônia: US$ 85,6 Milhões
- Rio Grande do Norte: US$ 67,1 Milhões
- Sergipe: US$ 54,5 Milhões
- Pernambuco: US$ 53,8 Milhões
- Alagoas: US$ 44,2 Milhões
- Tocantins: US$ 39,4 Milhões
- Amazonas: US$ 35,6 Milhões
- Piauí: US$ 20,2 Milhões
- Paraíba: US$ 9,88 Milhões
- Amapá: US$ 4,76 Milhões
- Distrito Federal: US$ 4,12 Milhões
- Acre: US$ 725 Mil
- Roraima: US$ 385 Mil
Estado articula com governo federal redução de impactos
Em visita ao Diário do Nordeste, o secretário do Desenvolvimento Econômico, Domingos Filho, afirmou que o tarifaço de Trump é "irracional" e se trata do resultado de uma "intolerância política".
Ao citar que 52% das exportações cearenses têm como destino os Estados Unidos, o secretário afirmou que a tensão está espalhada em grande parte do empresariado. Para tentar mitigar os impactos na economia local, o Governo do Estado já realizou reuniões com representantes da iniciativa privada e tem tentado agenda com o governo federal.
Uma das ações cogitadas pelo governador Elmano de Freitas (PT) envolve a compra emergencial de mercadorias perecíveis impactadas, como pescado e castanha de caju, que estariam paradas nos portos por conta da instabilidade comercial criada.
“O que o governador fez foi garantir que, se a situação persistir, o Estado tomará decisões para ajudar quem produz”, disse.
O que os EUA alegam para taxar o Brasil em 50%
O Brasil, que havia sido poupado nas primeiras tarifas anunciadas por Trump neste ano, recebeu a taxa mais alta entre as anunciadas, no último dia 9 de julho.
Além de motivações políticas, o mandatário dos Estados Unidos justificou que a medida deve diminuir a disparidade da balança comercial entre os dois países. Os dados evidenciam, entretanto, que os Estados Unidos exportaram mais para o Brasil do que o inverso.
No caso específico do Ceará, de fato há uma exportação maior do que importação de produtos norte-americanos. Os Estados Unidos são o principal destino das mercadorias cearenses exportadas.
Com a tarifa de 50% imposta a compradores dos Estados Unidos para importação de produtos brasileiros, o envio da mercadoria deve diminuir. Consequentemente, a produção local deve ser reduzida, com risco de perda de empregos, avaliam especialistas.
Ipece alerta que tarifaço de Trump deve causar “efeitos expressivos”
Por conta dessa instabilidade no comércio exterior, a Diretoria de Estudos Econômicos (Diec) do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), lançou recentemente um estudo apontando um saldo comercial favorável ao Ceará, com relação aos Estados Unidos, em 22 dos 25 anos considerados (de 2000 a 2024).
Porém, caso se confirme a taxação de 50% em todos os produtos brasileiros, o documento alerta para “efeitos expressivos” no comércio entre Brasil e EUA.
O analista de políticas públicas Alexsandre Lira Cavalcante, observa, no entanto, que a pauta de exportações cearenses é bastante diversificada e vem aumentando essa diversificação por países de destino ao longo dos anos, saindo de 96 países, em 2000, para 141 países de destino, em 2024.
Contudo, apesar dessa elevada diversificação, a pauta de exportações cearenses ainda é bastante concentrada em poucos países.
Alexsandre Cavalcante informa que, em 2024, os cinco principais países de destino das exportações cearenses foram: Estados Unidos (US$ 659,0 milhões; 44,8%); Países Baixos (Holanda) (US$ 63,8 milhões; 4,35%); México (US$ 57,9 milhões; 3,94%); China (US$ 57,5 milhões; 3,91%); e França (US$ 57,1 milhões; 3,89%).
A participação conjunta para esses cinco países era de 54,3%, em 2000. Em 2010, reduziu para 40,7% e, em 2024 voltou a crescer para 60,9%, revelando forte aumento da concentração da pauta de exportações cearense por países de destino, especialmente, por conta do aumento de participação das vendas para os EUA, que saíram de 29,6%, em 2010, para 44,8%, em 2024.
Principais produtos exportados em 2024
Os cinco principais produtos vendidos pelo Ceará, em 2024, para os EUA e que poderão sofrer os efeitos diretos da taxação proposta pelo governo norte-americano são:
- Ferro fundido, ferro e aço (US$ 441,3 milhões);
- Peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos (US$ 52,8 milhões);
- Preparações de produtos hortícolas, de frutas ou de outras partes de plantas (US$ 37,2 milhões);
- Calçados, polainas e artefatos semelhantes; suas partes (US$ 36,9 milhões);
- Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua dissociação; gorduras alimentares elaboradas; ceras de origem animal ou vegetal (US$ 16,7 milhões).
A participação conjunta desses cinco produtos cearenses para os EUA aumentou de 46,7%, em 2010, para 88,8%, em 2024, revelando uma elevação expressiva no grau de concentração das vendas externas cearenses para este país na comparação dos dois anos.