Dos profetas da chuva ao lugar de destaque ocupado por São José, padroeiro do Ceará e considerado “santo das chuvas”, a relação do cearense com a água é marcada por afetos, crenças e, também, esperança. É por esse viés que a exposição “Águas do Ceará - Entre a Seca e a Esperança”, em cartaz no Museu da Imagem e do Som do Ceará, aborda os 30 anos de atuação da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh).
Aberta no último dia 28 de fevereiro, a mostra ocupa parte da programação da sala imersiva do MIS, propondo uma experiência que mescla o lado institucional da companhia com elementos que evidenciam esse lado emocional do tema da água no Estado.
A obra tem direção assinada pelo artista visual e videomaker Valentino Kmentt. Entre as referências, ele cita de literatura cearense a experiências pessoais. ”Fui lendo muita Rachel de Queiroz, tentando me inspirar, e minha família é de um interior do Rio de Grande do Norte, de Currais Novos (município a 172 km de Natal), então eu já vivi esse cenário”, compartilha ao Verso.
“Fui fazendo uma mescla de como aplicar essa narrativa dentro do conteúdo que esse trabalho da Cogerh requisitava. Ela me trouxe muitas imagens e entrevistas. A gente foi buscando muita coisa, convidamos cinco fotógrafos cearenses que já tinham um trabalho que dialogava com o tema”, aponta Valentino.
As fotografias que compõem a obra são de Davi Pinheiro, Marcos Studart, Deivyson Teixeira, José Wagner e Samuel Macedo
“A sala imersiva é um espaço que requer trabalhar mais com simbolismos, então o desafio era trazer o elemento institucional, para dar o protagonismo que a companhia merece e tem, mas também trazer o elemento da poesia”, explica o diretor.
No resultado, elementos de documentário se unem a técnicas de animação e, também, a abordagens mais próximas do simbólico, tudo em prol de destrinchar os impactos da gestão de águas no Estado.
“O fato dela estar na sala imersiva propõe uma experiência, uma imersão de fato”, reforça. “Foi daí que vieram as fotografias, os vídeos, as animações, a ideia foi mesclar esse elemento institucional e documental, através das entrevistas, e esses recortes”, avança.
A água surge, então, de diferentes formas na obra. Entre um dos destaques neste sentido, estão as “divisões” entre as imagens que ocupam as paredes da sala. Emulando o formato de galhos secos, elas são “preenchidas” com videos de água em movimento.
“Ao mesmo tempo que o desenho dos galhos secos retrata a seca, ele retrata o caminho das águas. O filme traz esse elemento a quase todo momento, ele tem a ideia de começar num tom terroso, contextualizando sobre a questão da seca, e gradualmente a gente vai passando para um tom mais azulado”, explica Valentino.
Acentua-se, então, a esperança. “A gente finaliza já com um Ceará diferente, um Ceará florido. Claro, a seca vai perdurar, mas hoje a convivência, os danos e impactos não são tão grandes como já foram”, destaca.
“A gente resolveu, de uma forma cultural, mostrar tudo isso para a população”, resume Débora Rios, secretária-executiva da Cogerh. A gestora destaca o aspecto emocional como o mote da criação da obra.
"Na sala imersiva, a população vai se arrepiar por vários momentos, não só um: quando a gente retrata o passado, a esperança de mudança. O filme mostra tanto esse momento de seca como o que brotou”, reforça.
“A gente queria ir para emoção, a gente queria ir para a arte. Nela, você consegue se emocionar só de olhar para um quadro bonito. Era isso que a gente queria fazer: contar nossa história e que a população se sensibilizasse e tivesse esse maior pertencimento e consciência dela”, finaliza.
Águas do Ceará - Entre a Seca e a Esperança
Quando: dias 13, 14, 15, 20, 21 e 22 de março, de 17h30 às 18 horas; dia 5 de junho, de 17h30 às 18 horas
Entrada gratuita.
Mais informações: no Instagram @mis_ceara ou no Instagram @cogerh