"O último bom malandro”, o “rapper favorito do seu rapper favorito”, "Mais guerrilheiro que MC". Todos esses codinomes definem esse cara que resolveu fazer rap em Fortaleza no início dos anos 2000. Com a coragem de quem rompe sistemas, fez de seu nome um dos mais importantes do seu segmento no Brasil e ajudou a propagar o Nordeste como polo importante do rap. Don L, 43 anos, no entanto continua lutando para alcançar o sucesso de um artista nacional.
Vivendo em São Paulo há mais de uma década, ele diz - no episódio desta quinta-feira (22) do Que Nem Tu- que enfrenta boicotes até hoje por ser nordestino, por ameaçar nomes de sucesso e por ter um posicionamento político muito forte.
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"Tem umas panelas que não me aceitam até hoje, não só pelo fato de ser nordestino, mas por aquela mesma coisa, que eu era o Don L do Costa Costa que chegou ali fazendo uma parada ameaçadora pra muita gente, né? Então rolou muito isso, teve uma galera que eu achava que iria me acolher muito mais quando eu chegasse lá (SP). Achava que nós seríamos, tipo, talvez próximos, entendeu? E chegou lá, galera não só deu uma distanciada assim, como fez o que pôde pra me tirar dos holofotes, pra me boicotar na cena, rolou muito isso", relembra.
O rapper disse que hoje sente que houve uma melhora na aceitação de sua presença, mas reconhece que o fato de ter sido um dos primeiros a reivindincar um espaço nacional o colocou em destaque também nesse sentido. "Agora mudou um pouco. Mas é aquele bagulho de ser o primeiro a fazer uma parada, né? Vieram muitas pessoas antes de mim, eu não sou o primeiro a fazer rap no Nordeste nem em Fortal. Tem grandes ídolos aqui de onde eu vim, daqui do Maranhão, de outros lugares, mas pra tentar fazer um bagulho nacionalmente grande assim, como eu queria fazer, eu tinha que ser o primeiro daqui, e aí é isso, não tinha precedente, né?"
Don não costuma baixar a cabeça. Sabe exatamente o que quer e também o que não negocia de seu trabalho por espaço e dinheiro. Ele entende o rap como movimento social. Por isso, ele é certeiro quando responde o que ele poderia ter feito diferente que ajudaria sua carreira mas que não valeria à pena.
"Não dizer certas coisas, não tomar certo posicionamento político. A gente vive numa chamada democracia, mas é uma democracia muito limitada, em muitos sentidos. Perdi muita coisa, perdi muita publicidade. Perdi publicidade recentemente por defender a Palestina. Por não acreditar que é correto um estado promover um holocausto de um povo. Não vou deixar de dizer isso. Isso é uma coisa que me prejudica. Tem muita gente que está muito confortável, não fala nada. Eu respeito, mano, se você não quer falar mas eu não vou deixar de falar algo que eu quero dizer"
Algumas parcerias musicais também só acontecem se Don compreender que tem sentido o feat. O cearense relatou que faria parceria com Marilia Mendonça se tivesse tido a oportunidade, mas que não são todos os sertanejos que estaria disposto a dividir uma música.
"Quando a Marília Mendonça estava entre nós era uma pessoa do sertanejo que eu faria uma música. Ela era fã do meu trabalho, saca? Ela sempre postava letras lá nossa, Era uma pessoa desse segmento que tem poucas que eu gosto e que eu faria alguma coisa. Eu não faria um rap com sertanejo com qualquer sertanejo. Estou disposto a fazer certas concessões que não degradam a minha a minha integridade", defende.
No episódio, ele fala ainda sobre o tempo em que esteve no Costa a Costa, suas referências musicais, o novo trabalho, a relação com Fortaleza e o que ele entende sobre o futuro da música.