QUE NEM TU: Arilson Lucas conta como foi estrelar Dona Beja ao mesmo tempo em que viveu luto da mãe

O ator cearense conta que a produção da HBO Max também o fez mergulhar em sua história familiar e ancestralidade

Com quase 30 anos de carreira no teatro, cinema, TV e no streaming, o cearense Arilson Lucas se lança a novos desafios profissionais. No elenco da produção de Dona Beja, remake produzido pela HBO Max, o ator viveu desafios inéditos de sua trajetória. O primeiro foi pessoal: gravou a novela em meio a perda de sua mãe, dona Iracema. Teve que se despedir de sua grande amiga e incentivadora ao mesmo tempo em que precisou se entregar ao personagem Padre Aranha, que pode alavancar sua carreira nacionalmente. O segundo foi profissional: estrear sua primeira novela erótica, que lhe exigiu gravar cenas de intimidade pela primeira vez.

"Fiz uma despedida. Conversei com minha mãe e perguntei se eu poderia ir. Se ela dissesse que não, eu ficaria. Eu fui pro Rio e quando estava lá, na preparação pra uma cena que eu ia começar a gravar na mesma semana, minha mãe falece. Muitas pessoas não sabiam o que estava acontecendo na minha cabeça", relembra Arilson sobre a perda repentina da mãe, que descobriu um câncer pouco tempo antes de ele começar a preparação para a produção. A dor- ainda latente- emociona o artista, que chora durante a gravação do episódio desta quinta-feira (27) do Que Nem Tu.

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Dona Beja foi também um convite para que o ator mergulhasse profundamente em sua história familiar e descobrisse sua ancestralidade. O personagem que ele vive é um indígena e foram suas raízes ancestrais que fizeram com que ele ficasse com o papel. Olhar para si e para a história dos seus o ajudou a atravessar esse período turbulento de luto e realização. "Minha mãe era minha confidente, era quem eu contava dos testes, ela guardava segredo e só contava quando eu passava. Eu tinha essa confidência no dia a dia com minha mãe. e eu tive que transformar isso pra conseguir fazer o trabalho", confidencia.

O apoio do elenco e da equipe técnica da novela foi importante. A intimidade e abertura entre ele e os companheiros de cena ajudaram também que ele conseguisse fazer cenas desafiadoras com nudez e grande apelo erótico. Padre Aranha vive um dilema de se apaixonar por uma mulher trans no remake. A adaptação, que deve ir ao ar em 2025, atualizou algumas tramas da novela exibida pela primeira vez há quase 40 anos na extinta TV Manchete.

Arilson avisa que se na época da primeira exibição Dona Beja chocou por sua história de liberdade, a releitura vai chegar com ainda mais tempero, trazendo muitas discussões que são pulsantes na sociedade de hoje.

A entrevista percorreu a história do ator fortalezense desde a época em que ele começou a se interessar pelas artes cênicas no fim da década de 90n e começou a produzir e gravar teleaulas para a TV Ceará. Na época, era aluno do curso de Princípios Básicos do Teatro no Theatro José de Alencar (TJA). Com a vontade de estar no audiovisual, acabou se dedicando ao telejornalismo e chegou a trabalhar alguns anos na TV Diário com produção e reportagem.

No entanto, com a impossibilidade de ajustar a agenda entre os dois trabalhos, Arilson abriu mão do jornalismo para se dedicar exclusivamente à carreira artística. Foi morar no Rio de Janeiro e viu alguns trabalhos aparecerem. Em 2017 ele se muda e para furar a bolha em grupos de teatro e tentar oportunidades na TV, o cearense passa a trabalhar com produção. Até que ele conhece Thereza Falcão, uma das autoras de ‘Novo Mundo’.

O encontro potente deu  espaço para uma indicação para os testes da novela e alí surgiu Cauré, seu primeiro personagem global.  Estar em rede nacional, trabalhando em uma paixão nacional- novela- deu a Arilson mais que visibilidade. 

"É Globo, todo mundo vê. Parece que você é carimbado, passa a existir. É muito importante pra carreira da gente, pra alavancar outros trabalhos. E isso te dá credibilidade enquanto ator"
Arilson Lucas
ator

Um dos frutos da novela já deu logo depois. Arilson participou de “O Hóspede Americano”, um trabalho engrandecido pelo alcance do streaming. Uma participação menor, mas que deu a ele bagagem de trabalhar com uma grande equipe e também deixar sua assinatura numa produção que chegou fora do país. Seu personagem era outro indígena, papel que ele diz que chega a ela por seus traços físicos. 

A busca por uma diversidade maior frente às câmeras fez com Arilson enxergasse como uma abertura maior para ganhar mais espaço em produções nacionais. Para quem precisou viver fora de seu estado para tentar furar bolhas, o preconceito com quem não é do sul e do sudeste existe e é forte.

"Existe o preconceito sim. Eu acho que quando a gente vai com sangue nos olhos, com toda força, isso até assusta. A gente vê os atores nordestinos se destacando aí. É porque a gente chega querendo fazer barulho porque a gente precisa fazer isso e eu noto que o mercado tem se aberto mais. E é justamente isso: as pessoas querem se ver na tv. Essa cobrança fez com que esse mercado também mudasse, se popularizasse", pontua.