Espetáculo Gota D'Água [A Seco], releitura de Chico Buarque, chega a Fortaleza no fim de semana

Os atores Laila Garin e Alejandro Claveaux interpretam Joana e Jasão Espetáculo que traz releitura da famosa peça escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes chega a Fortaleza neste fim de semana

Um clássico do teatro nacional. Assim pode ser definido "Gota D'Água", espetáculo que nasceu em 1975 no palco do Tereza Rachel, no Rio de Janeiro. Bibi Ferreira era a estrela, com um texto que trazia versos de Chico Buarque e Paulo Pontes. A história é uma transposição da famosa tragédia grega "Medeia", de Eurípedes, ambientada em um conjunto habitacional do subúrbio carioca.

Quarenta anos depois, a montagem ganhou releitura, idealizada pela atriz Laila Garin juntamente com a produtora Andréa Alves e o diretor e roteirista João Falcão. Neste fim de semana, o novo "Gota D'Água (a seco)" chega a Fortaleza, com sessões no Cineteatro São Luiz. Agora, a peça traz ao público a relação e as ideologias de Joana e Jasão, vividos por Laila Garin e o colega ator Alejandro Claveaux, respectivamente, sob direção de Rafael Gomes.

"A ideia surgiu em 2013. Como o João não pôde dirigir, chamamos o Rafael, que trouxe esse formato de apresentar no palco os dois personagens, ao invés de ser um solo, mostrando os conflitos e embate dos dois personagens", comenta Laila.

Agora com o subtítulo "A seco" - em referência ao elenco de apenas dois atores e à narrativa mais enxuta -, o espetáculo foca a vida dos personagens. Joana é moradora do conjunto habitacional Vila do Meio-Dia, e mãe de dois filhos oriundos do seu relacionamento com Jasão, um compositor e sambista ambicioso. "A história é um amor violento e totalizante, de uma relação de forças que tem como vértices os gêneros masculino e feminino. É sobre luta de classes, ambição desmedida e cegueira ética. Fala de machismo e totalitarismo, massacre, intolerância e aniquilação", explica Rafael Gomes.

A essência da montagem de 1975 foi preservada e costurada a novos elementos. "A peça original tem mais personagens. Agora somos apenas nós dois contando toda essa narrativa. Incluímos algumas modificações, como cenas de flashback, que servem para mostrar ao público o tempo em que Jasão e Joana foram felizes", comenta Laila.

Trilha

Um dos elementos fundantes de "A Gota D'Água (a seco)" é a música: a trilha inclui treze composições de Chico Buarque, como as icônicas "Cálice", "Mil Perdões" e "Mulheres de Atenas" - que contribuem para a construção da narrativa.

"Começamos a ver o que já tinha no texto original, mas como o Rafael estava construindo uma nova dramaturgia, apesar de tanta atualidade na crônica social de Chico e o Paulo, decidimos acrescentar coisas que conversavam bem e eram próximas da história", comenta Pedro Luís, responsável pela direção musical.

Todo o trabalho de criação e de escolha de repertório foi feito em conjunto. "São músicos incríveis e versáteis, que nos ajudaram a montar essa coleção de canções. Nos ensaios, com os atores e a banda, definíamos os arranjos coletivamente", detalha ele.

O espetáculo original apresenta uma trama política latente, trazendo as disputas entre classes sociais. Já na nova versão, a política emerge a partir das ideologias e conflitos dos personagens. "Desigualdade social e poder são assuntos que ainda não se resolveram no País. O que está tornando a peça atual não é nenhuma atualização na narrativa, mas os contextos políticos no qual estamos inseridos", explica Laila.

Para Rafael Gomes, a peça é uma forma de mostrar as opressões da sociedade. "Estamos falando sobre a intolerância de ver, escutar, entender o outro e reconhecer sua existência, colocando o poderio e os interesses econômicos acima da própria humanidade", resume o diretor.

Sonho antigo

A ideia para "A Gota D'Água (a seco)" acompanha Laila Garin desde a infância. A atriz conta sobre o primeiro contato com a história, a partir dos discos de vinil da sua mãe, que traziam canções do espetáculo.

"Foi assim que conheci o texto e Bibi Ferreira, fiquei chocada com tudo que ela fazia. Ser atriz e cantora, com toda aquela voz e interpretação. Quando vi a história, percebi que era tudo rimado, com métrica e rima tão precisas. Fiquei encantada como traduzia a dor daquela mulher. Na faculdade fiz esse texto, então sempre foi um sonho encenar Joana. O canto e o teatro sempre estiveram misturado na minha vida".

Já Pedro Luís conheceu a história na adolescência e se diz fã do trabalho de Chico Buarque. "Trabalhar sobre a obra dele é um prazer imenso, Chico é uma referência. Tem também a responsabilidade de montar essa grande obra que já foi encenada, e quando jovem tive a oportunidade de ver. Essas duas questões são maravilhosas", comenta.

Na nova versão do espetáculo, o tema da política emerge a partir das ideologias e conflitos dos personagens