Escritora cearense Marília Lovatel ganha prêmio nacional de literatura infantojuvenil

Livro que conta história de preservação ambiental e coragem foi reconhecido na 20ª edição do Prêmio Barco a Vapor entre mais de 1100 textos

“Salvaterra - breve romance de coragem”, da cearense Marília Lovatel, explica rapidamente, na epígrafe, o subtítulo da obra: “Não que as histórias de coragem sejam breves, mas muitas acabam abreviadas”. Abordando a preservação do meio ambiente a partir da história de uma menina que luta em prol da natureza na Ilha de Marajó (PA), o livro infantojuvenil venceu a 20ª edição do Prêmio Barco a Vapor, um dos maiores reconhecimentos do gênero no País.

A cerimônia de entrega do reconhecimento ocorreu no início deste dezembro e veio coroar uma trajetória que conta com mais de 15 livros publicados. Ao Verso, a cearense fala sobre a produção anterior, o diálogo entre ela e o mais recente livro, os impactos do prêmio e os planos do que fazer com a visibilidade conquistada.

“A reação inicial foi a do susto de me deparar com um sonho concretizado. A gente é tomado pela alegria e ao mesmo tempo vai freando a emoção para não perder o foco das responsabilidades inerentes a experiências desse tipo”, define Marília. 

Na 20ª edição, o Prêmio Barco a Vapor é realizado pela Fundação SM com apoio da SM Educação, iniciativas dedicadas ao escopo formativo de crianças e jovens. Entre os significados que Marília elenca que a escolha de “Salvaterra” têm, um se destaca:

“Viver o reconhecimento do texto que precisou falar por si, uma vez que concorremos sob pseudônimo. Foram 1.135 inscritos de todo o País para que um único recebesse a premiação. Isso tem um sabor especial, firma os passos na caminhada e abre muitas possibilidades interessantes”, define.

Narrativa sobre autonomia e identidade

A narrativa de “Salvaterra” foi baseada em histórias que a escritora ouvia diretamente de duas mulheres importantes na trajetória dela: a mãe e a sogra. O livro parte desses relatos, mas cria uma narrativa ficcional, “sem caráter biográfico”, ressalta.

“Contudo, teria sido impossível tecer a trama sem os depoimentos delas, sem partir de duas realidades distintas (a da minha sogra, nascida em Salvaterra, Ilha de Marajó, e a da minha mãe, fortalezense) que se tocam nos mesmos desafios quanto à conquista de autonomia e à construção de identidade”
Marília Lovatel
escritora

A trama se centra na menina protagonista, que vive em meio à natureza e os perigos da ação humana contrária a ela. “Os temas ligados à floresta surgiram de modo natural, conforme fui me enveredando no ambiente e acrescentei às memórias ouvidas, a matéria literária, imaginada, intuída, e tudo que pesquisei sobre a região”, explica.

“Clareza e verdade” para dialogar com público infantojuvenil

A base, então, não é apenas real, mas contemporânea, urgente. Não é por acaso que o romance infantojuvenil é dedicado aos defensores da Amazônia Bruno Pereira, Dom Phillips, Dorothy Stang e Chico Mendes, e, ainda, cita o escritor e ambientalista Ailton Krenak em outra epígrafe.

“Porque Ailton Krenak viu nosso tempo ‘cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta, faz chover’. E eu acredito nessa visão”
livro de Marília Lovatel

Como, no entanto, tratar de assuntos como esses de forma que dialogue com o público infantojuvenil? A trajetória de 12 anos de publicações voltadas a esses leitores traz alguns caminhos.

“Em primeiro lugar, é necessário fugir do didatismo. Não devem haver desvios de finalidade, intenções camufladas. As crianças e os jovens são muito perspicazes. Eles querem clareza e verdade”, sustenta.

“Reconheço o meu papel de contar a história da melhor forma que eu puder. O resto é a experiência única e subjetiva de quem lê, fica entre o livro e o leitor. É bem desafiador, mas se o texto toca o coração desses leitores é para sempre”, segue Marília.

Visita a Salvaterra à vista

“Salvaterra” surge como mais um passo nessa busca de diálogo com o público infantojuvenil, aspecto que se deu em diferentes “versões” ao longo da carreira da cearense. “Tenho um livro de fábulas em versos, que, em 2025 ganha edição comemorativa de 10 anos, dois livros de contos, duas narrativas em versos, um livro de crônicas voadoras”, lista.

“São 15 títulos tão diferentes entre si, quanto à forma, ao gênero, aos temas, que só posso dizer que tudo junto me trouxe até aqui. E ‘Salvaterra’ se soma ao conjunto que vai me levar adiante. Assim espero”, aposta.

O movimento pós-premiação já dá sinais de que, sim, o “adiante” já está logo aqui. Reconhecendo a “visibilidade grande” gerada pelo Barco a Vapor — o que levou às chances de “apresentar e amplificar” o texto pelo País —, Marília, no entanto, tem como passo mais próximo um desejo especial

“Meu plano futuro mais imediato é justamente conhecer Salvaterra, e, quem sabe, participar da COP 30, estar lá levada pelo livro e por minhas esperanças em um tempo ‘cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta, faz chover’, como viu Ailton Krenak”, partilha.

Salvaterra - breve história de coragem

Para adquirir o livro, vale ficar atento às plataformas da SM Educação. Exemplares estão saindo dos distribuidores para os canais de venda, que irão incluir a plataforma da Amazon.

  • Mais informações de lançamento: no site ou no Instagram da SM Educação