“Eu me relaciono com pessoas com quem me conecto e que fazem sentido”. Foi assim que a intérprete de Juma Marruá, de Pantanal, definiu os próprios interesses amorosos. Em entrevista à Elástica, Alanis Guillen afirmou que tem a sexualidade fluida e que não se identifica exatamente com nenhuma das letras da sigla LGBTQIA+.
Assim como ela, outros artistas também já declararam ter essa fluidez na sexualidade, como Demi Lovato, Rainer Cadete, Pocah e Tico Santa Cruz.
Mas afinal, o que é a sexualidade fluida? De acordo com a psicóloga e sexóloga Mariana Oliveira, esse conceito é semelhante à bissexualidade e à pansexualidade, mas envolve uma questão mais política. “É como se o gênero deixasse de ser uma questão, ela não se relaciona com o gênero da outra pessoa, é com a pessoa”.
Essa fluidez se contrapõe ainda às definições mais conhecidas, como a heterossexualidade, que é quando a pessoa se interessa por outra do gênero oposto, e a homossexualidade, quando as pessoas se interessam por outra do mesmo gênero.
“É uma mudança de termo e que tem um outro posicionamento, enfatiza que é possível a gente se relacionar com as pessoas fora de um padrão. Como o próprio nome diz, é fluida, então pode mudar ao longo do tempo, essa pessoa está aberta a se relacionar com pessoas, vai fluindo de acordo com as oportunidades, vivências, momentos”.
Porém, o termo pode ser confundido com a pansexualidade, já que este também diz respeito aos relacionamentos com pessoas independentemente do gênero ou da orientação sexual. Mariana ressalta, contudo, que a sexualidade fluida é um movimento cultural e político de avanço e um conceito de identificação para quem não se encaixa nas outras letras da sigla.
“A sexualidade é um campo muito complexo e aí a cada momento histórico a gente vai tentando criar termos que descrevam os relacionamentos. Em determinado momento, fazia sentido as pessoas se descreverem como bissexuais (quem se relaciona com homens ou mulheres), depois como pansexuais”, explica.
Bissexualidade x pansexualidade
Importante destacar que existe ainda diferença entre pessoas que se declaram bi ou pansexuais. O primeiro termo engloba os indivíduos que têm interesse amoroso e sexual por pessoas do mesmo gênero ou do gênero oposto, normalmente homem e mulher.
“Na bissexualidade, é como se a gente só visse dois gêneros, um conceito binário ainda, já na pansexualidade isso já se abre um pouco mais, além do homem e da mulher, tem outras possibilidades de sexualidade de gênero”.
Todos esses conceitos entram no guarda-chuva da orientação sexual que, segundo Mariana, tem a ver com a forma que se vivencia as relações sexuais e afetivas, se há relacionamento com mulheres, homens ou com pessoas transexuais, não binárias.
Por sua vez, tem ainda a identidade de gênero, que diz respeito a qual gênero a pessoa se identifica, se é como mulher ou homem cisgênero, mulher ou homem transgênero, gênero não binário, agênero e outros.
Novas letras na sigla
Nos últimos anos, a sigla que representa esse grupo populacional tem crescido e incorporado novas letras, o que tem sido tema de discussão pela sexologia sobre a necessidade de existirem ou não esses termos.
“De certo modo, isso pode limitar, mas existe uma abertura de isso vá mudando ao longo do tempo, por isso é importante que existam esses termos. Tanto para as pessoas se identificarem, se reconhecerem e se sentirem parte de um grupo, quanto social e politicamente, pra que possam reivindicar direitos e políticas públicas quando necessário”.
Para englobar as outras possibilidades de identidade de gênero e de orientação sexual, a sigla já traz o ‘+’, considerando que a sexualidade é um campo completo e em constante mudança. “Mas no caso da Alanis, por exemplo, ela quis enfatizar que não se encaixa nos termos que estão ali em mais destaque. As letras vão sendo acrescentadas por isso, para dar mais visibilidade”, conclui.