Documentário sobre campos de concentração no Ceará ganha prêmio Abraccine

A obra audiovisual foi consequência de um apanhado histórico realizado pelos diretores fortalezenses David Aguiar e Sabina Colares sobre o processo migratório de refugiados na década de 1930, que resultou na criação de campos de concentração no Ceará

O longa-metragem cearense "Currais" ganhou o prêmio Abraccine na categoria de Melhor Filme Brasileiro de Diretor Estreante, na 43° Mostra Internacional de Cinema. O evento aconteceu entre os dias 17 e 30 de outubro em São Paulo. 

O documentário foi resultado de um levantamento histórico realizado pelos diretores fortalezenses David Aguiar e Sabina Colares acerca da jornada de refugiados cearenses durante a década de 1930, que culminou na criação de campos de concentração no Ceará. 

O sertão cearense vivenciava uma estiagem em 1932. A seca deixou poucas alternativas para os moradores da região, que se viram obrigados a sair de suas casas em busca de sobrevivência em municípios maiores, como Fortaleza.

Os campos de concentração atuavam como principal meio de impedir o processo migratório para as cidades mais desenvolvidas do Estado. 

O documentário é conduzido pela história do personagem fictício Romeu (Rômulo Braga) e perpassa as vivências de José Maria Tabosa, que chegou a frequentar o campo existente em Fortaleza, durante o período em que o pai dele ficou preso. O longa-metragem apresenta ainda o relato de dona Francisca Mourão, a última remanescente viva de um campo de concentração em Senador Pompeu. 

Os espaços são descritos pelos diretores como ambientes insalubres, que funcionavam como um depósito de pessoas. A prisão não era uma particularidade obrigatória de todos os campos de concentração, mas, para os rebeldes e fugitivos, foram instalados equipamentos de tortura, denominados de sebo.

O número de indivíduos que ficaram concentrados nesses espaços é impreciso. Os dados apontam desde 75 mil cativos até 200 mil. David aponta que esse desencontro estatístico não é por acaso, tendo em vista que o apagamento histórico tratou justamente de eliminar essas informações.

O Júri Abraccine, formado por José Geraldo Couto, Nayara Reynaud e Pablo Villaça, analisou o filme como uma eficaz combinação das linguagens documental e ficcional ao realizar o resgate histórico desse episódio da história do Brasil, temática ainda pouco discutida atualmente.