Brasil no Oscar 2022: documentário sobre pessoas em situação de rua pode trazer estatueta ao País

“Onde eu moro” é uma produção norte-americana, mas tem codireção do carioca Pedro Kos

“As situações vão se tornando extremas e nem percebemos”, diz uma mulher que precisa escolher entre dar de comer aos filhos ou pagar um aluguel. Ela e a família pertencem ao grupo de mais de meio milhão de americanos que sofrem com a falta de moradia, e cuja vulnerabilidade é retratada em “Onde eu moro” (Lead me Home), indicado na categoria de Melhor Documentário de Curta-Metragem do Oscar em 2022.

O brasileiro Pedro Kos assina a direção desta produção ao lado do estadunidense Jon Shenk e, com isso, aproxima novamente o Brasil da tão almejada estatueta. O carioca foi responsável pela edição de “Lixo Extraordinário” e  “The Square”, que receberam indicações à maior premiação do cinema em 2011 e 2014, respectivamente.

Onde assistir? 

O novo trabalho concorre com "Audible", "The queen of basketball", "Three Songs for Benazir" e "When we were bullies", e o anúncio do vencedor sairá no próximo dia 27 de março, na tradicional cerimônia a ser realizada em Los Angeles.

Disponível na Netflix, “Onde eu moro” escancara uma crise humanitária em escalada com a pandemia de Covid-19, ainda que traga em seus registros a realidade encontrada nas ruas de Los Angeles, São Francisco e Seattle, entre 2017 e 2020.

Na produção de 40 minutos, somos apresentados a diferentes histórias de vulnerabilidade social. Problemas de saúde mental, violência doméstica, transfobia e preconceito por deficiência física ilustram algumas das motivações que levaram os entrevistados a fazerem parte da triste estatística dos que não têm uma moradia fixa.

Dados alarmantes

Em pouco tempo, o curta-metragem consegue nos envolver em narrativas de dor e amor com as quais a identificação é tão imediata, que fica difícil não se questionar sobre a nossa contribuição em todo esse processo. Quantas pessoas em situação de rua você viu hoje?

Somente na Capital cearense, pelo menos 2.653 vivem sem um lar, 54,4% a mais do que há 7 anos. O primeiro e último levantamento oficial anotava 1.718 pessoas, em 2014. Os dados são do Censo Geral da População em Situação de Rua de Fortaleza de 2021, obtido com exclusividade pelo Diário do Nordeste no início de fevereiro de 2022.

Em todo País, a estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), era de 222 mil brasileiros nessa condição em 2020, número já obsoleto se considerarmos os impactos socioeconômicos do contexto sanitário imposto de dois anos para cá.

Políticas públicas insuficientes para atender esta demanda e atitudes individuais de repulsa em detrimento do acolhimento só ampliam o problema, cujas causas são tão devastadoras quanto as consequências.

O documentário "Onde eu moro" evidencia que Brasil e Estados Unidos se identificam muito além da busca por um reconhecimento no Oscar. Pedro Kos e Jon Shenk querem chamar atenção para a situação denunciada e estimular mudanças rápidas no comportamento da humanidade. Conquistar isso seria, sem dúvidas, a melhor premiação.