Pode ser malandragem ou apenas coincidência. Mas, uma coisa é regra quando o assunto é plágio musical. Não faltam casos polêmicos nesse mercado. O mais recente envolve Adele e a música "Mulheres", composta pelo brasileiro Toninho Geraes. Para ele, a britânica copiou parte do som que ficou popular na voz de Martinho da Vila.
No Brasil, a Lei Nº 9.610 considera que “autor é a pessoa física criadora da obra literária, artística ou científica”. A proteção dos direitos vai do momento da criação da obra até o prazo de 70 anos após a morte do responsável.
Seja pop, rock, blues ou lambada, boa parte das brigas desabam nos tribunais. O artista pode alegar que a cópia é da melodia ou até de certa progressão de acordes. Dessa subjetiva guerra entre má-fé e inocência, selecionamos algumas famosas (outras, nem tanto) brigas no território dos plágios.
Homenagens demais
O Led Zeppelin figura nessa lista e por mais de um "BO". Nos últimos anos, cresceu o debate acerca dos músicos terem cometido certo “exagero na homenagem” a outros artistas, especialmente a turma blues dos EUA.
Para citar duas, “Whole lotta love” (1969) vem de “You need love", cria de Willie Dixon (1915-1992). Já “The Lemon Song” espelhou-se em “Killing floor”, do Howling Wolf (1910-1976). Após acordo, ambos os compositores originais foram reconhecidos e creditados.
"Dazed And Confused" (1969) é outro registro que causa discórdia. Com o mesmo nome, lançada dois anos antes, o material pertenceria ao cantor folk Jake Holmes. Em 2020, o Zeppelin ganhou longa disputa para provar não ter roubado o riff de abertura de "Stairway to Heaven" (1971). Robert Plant e Jimmy Page haviam sido acusados de tomar trecho da música "Taurus", da banda norte-americana Spirit.
Palhaço de cara feia
Em 1996, Tiririca ganhou as paradas brasileiras com “Florentina”. Porém, em meio ao sucesso, chegou o “comentário do povo”. Na mídia nacional, surgiram comparações da faixa com a canção “Catarina”, gravada pelo Trio Mineiro em 1962.
Em agosto daquele ano, o Diário do Nordeste ouviu especialistas do tema. No veredito do maestro Potiguar Fernandes Fontenele, a forma e mensagem podiam ser parecidas, mas não existia coincidência dos compassos, melodicamente falando.Ou seja, não era a mesma música.
Por sua vez, o memorialista e colecionador Cristiano Câmara (1935- 2016) defendeu que "Florentina era uma cópia, mas o alarde se dava pelo fato de Tiririca ser nordestino e estar nos holofotes. “Existem inúmeros casos de compositores que se apropriaram da música de outrem e fizeram sucesso”, declarou o pesquisador que citou Ary Barroso (1903-1964) e Chico Buarque.
Inglês esperto
Esse é um exemplo clássico. Em 1972, Jorge Ben Jor lançou "Ben" e emplacou temas como “Fio Maravilha” e “Taj Mahal”. Essa última, foi alvo de embate com o roqueiro Rod Stewart. Em 1978, o inglês se apropriou da melodia e ritmo para criar “Da Ya Think I’m Sexy?”.
O carioca processou o cantor e ganhou a causa. A indenização parecia certa, mas Stewart decidiu dar o troco. Ele propôs que o dinheiro da pena fosse doado para o Unicef. Para não ficar feio no esquema, Jorge assumiu a bronca.
Ok, copio?
O Radiohead ficou contrariado quando ouviu “Get Free” (2017), de Lana Del Rey. Na cabeça dos britânicos, o material plagiava seu sucesso de início de carreira, a popular “Creep” (1992). Depois de muito disse me disse, um acordo, cujas cláusulas não vieram a público, foi realizado entre as partes.
Curiosamente, “Creep” já era uma antiga dor de cabeça para o Radiohead. Eles foram acusados de terem copiado “The Air I Breathe” (1974), dos Hollies. E perderam. Hoje, os músicos Albert Hammond e Mike Hazlewood (1941-2001) constam como coautores da obra.
Cearense na lambada
A lambada era a onda do verão no fim dos anos 1980. Além de inundar a programação das rádios, o ritmo foi abertura de novela da Globo (“Rainha da Sucata”) e até Hollywood comprou a ideia, com a pérola “A Dança Proibida” (1990).
O hino dessa febre fonográfica era a faixa “Lambada”, lançada pelo grupo franco-brasileiro Kaoma no disco “Worldbeat” (1989). Bem, como é uma matéria acerca de plágio, óbvio que esse conto de fadas tinha outra história nos bastidores.
Um ano antes desse disco chegar à Europa e bater recordes, dois produtores franceses curtiam o sol de Trancoso na Bahia. Naquele cenário paradisíaco, a dupla conheceu a canção “Chorando se foi”, da cantora mineira Márcia Ferreira. Na cara dura, pegaram o som, rebatizaram a faixa e soltaram como Kaoma.
“Chorando se foi” era uma versão em português da cumbia boliviana “Llorando Se Fue” (Ulisses Hermosa e Gonzalo Hermosa), gravada em 1981 pelo grupo Los Kjarkas. Além de Márcia, a tradução da letra foi assinada pelo cearense José Ari. 06/12/1989
Robertão careta
“O Careta” foi gravado por Roberto Carlos em 1987. Como o próprio título sugere, o astro que completou 80 anos alerta para o "dilema das drogas" e explica que "ser careta" é muito melhor. Até aí, tranquilo. Só faltaram avisar o compositor Sebastião Braga. O material seria cópia da faixa "Loucuras de Amor".
O processo se arrastou por mais de 10 anos. Depois de muita apelação por parte dos advogados do Rei, Braga ganhou a parada."Foi bom constatar que se pode acreditar no meu País, na justiça", disse o acusador em 1995. Robertão tirou a música de seu catálogo oficial. Por essa razão, inexiste a gravação original no YouTube.
Outros casos
Black Sabbath ("Sabbath Bloody Sabbath") x Vanusa ("What to Do")
“My Sweet Lord” (George Harrison) x "He’s So Fine” (The Chiffons)
“Surfin’ USA” (Beach Boys) x “Sweet Little Sixteen” (Chuck Berry)