'Ainda Estou Aqui': Veja 7 livros para entender as ditaduras militares na América Latina

Obras foram escritas por autores do Brasil, Uruguai e Chile

O filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles, chegou aos cinemas brasileiros causando muita comoção no público. Ao abordar o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva e a luta de sua esposa, Eunice Paiva, pela memória, o filme debate sobre as violências e resistências em tempos de autoritarismo. Para quem gostou do filme, o Diário do Nordeste organizou uma lista de sete livros para entender o período das ditaduras militares na América Latina.

A história do filme com Fernanda Torres e Selton Mello é baseada no livro "Ainda Estou Aqui", do escritor brasileiro Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-político, que foi uma das vítimas da Ditadura Cívico-Militar no Brasil. 

As obras escolhidas contemplam autores do Brasil, do Uruguai e do Chile, trazendo outras camadas sobre esse período histórico marcado pelo medo, pela violência, mas também pela resistência e coragem de muitas pessoas em se movimentar contra essas ditaduras.

1. Dias e Noites de Amor e de Guerra (Eduardo Galeano)

Como uma forma de honrar os mortos e os sobreviventes das ditaduras na América Latina, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano realiza o compilado de diversas histórias de amigos, conhecidos e figuras históricas no cenário de violência e intolerância.

Para além de falar do medo e da repressão da época, em "Dias e Noites de Amor e de Guerra" (1978), ele foca nas ações de apoio e suporte: os amigos que acolheram outros, aqueles que emprestavam as chaves de suas próprias casas e aqueles que encontraram brechas de resistência em jornais e em canções.

O livro ainda acompanha a rotina daqueles que, por motivos políticos, precisaram abandonas suas casas e se afastar de suas famílias e amigos. Nessa lista, estão histórias de brasileiros, uruguaios, chilenos e argentinos.

  • Quantidade de páginas: 208 páginas.

2. A Memória de Todos Nós (Eric Nepomuceno)

O romance de Eric Nepomuceno — conhecido por ser o tradutor e grande amigo de Eduardo Galeano — foca em histórias ambientadas na Argentina, no Uruguai, no Brasil e no Chile. Em "A Memória de todos nós" (2015), o escritor reflete sobre os impactos das ditaduras militares na América Latina, entre 1954 e 1990. 

Ao narrar histórias de exilados políticos e episódios de repressão, ele defende a importância da memória nesse processo. Para ele, antes que se vire a página desse período, é preciso lê-la com atenção, para fazer justiça às vítimas e expôr as verdades sobre o passado e a memória coletiva de cada país. 

  • Quantidade de páginas: 102 páginas. 

3. O Dia em que a Poesia Derrotou um Ditador (Antonio Skármeta)

O livro "O Dia em que a Poesia Derrotou um Ditador" (2011) foi escrito pelo autor chileno Antonio Skármeta, que também escreveu "O Carteiro e o Poeta". Na ficção histórica, ele mistura relatos reais com personagens inventados, trazendo uma escrita envolvente e emocionante.

Ao longo de quase 200 páginas, o leitor acompanha a trajetória do publicitário Adrián Bettini assumindo a responsabilidade de dirigir uma campanha televisiva contra a reeleição do general Augusto Pinochet. 

Essa história possui diversas similaridades com o Plebiscito Nacional no Chile, realizado em 1988, para decidir se Pinochet permaneceria no poder até 11 de março de 1997. O desafio do publicitário da história é convencer a votar pelo "Não", ou seja, pela não permanência de Pinochet no poder. O que significa, também, a uma tentativa de retorno da democracia no Chile. 

  • Quantidade de páginas: 202 páginas 

4. Primavera num Espelho Partido (Mario Benedetti)

Em "Primavera num Espelho Partido" (1982), Mario Benedetti aborda as dores e os desafios do exílio coletivo dos uruguaios. A história central gira em torno de Santiago, um personagem que está detido dentro do Uruguai por ter participado de uma guerrilha urbana, e a esposa dele, Graciela.

A mulher é obrigada a se mudar para a Argentina com a filha pequena e o sogro, precisando seguir com a vida, enquanto mantém a ferida aberta da repressão, da violência e do próprio exílio. A obra aborda as questões políticas e existenciais de uma forma sensível e cuidadosa, apresentando camadas profundas sobre esse período histórico. 

  • Quantidade de páginas: 179 páginas

5. 1968: O Ano que Não Terminou (Zuenir Ventura)

Em "1968: O Ano que Não Terminou" (1988), o jornalista e escritor brasileiro Zuenir Ventura apresenta com detalhes diversos eventos que ocorreram no ano de 1968. Neste período, é decretado o AI-5, que intensificou as violências durante a Ditadura Militar no Brasil, e ocorrem diversas passeatas e protestos pelo país.

A obra discute o assassinato do estudante Edson Luis, a Passeada dos Cem Mil e a presença da contracultura hippie, com o crescimento de nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Nelson Rodrigues e José Dirceu. Com os relatos, os leitores imergem no cenário político e cultural da época.

  • Quantidade de páginas: 328 páginas

6. As Meninas (Lygia Fagundes Telles)

A obra de Lygia Fagundes Telles, "As Meninas" (1973), acompanha a vida de três jovens universitárias: a burguesa Lorena, com veias artísticas; a rebelde Ana Clara, que tem um namoro com um traficante; e Lia, militante de um grupo de esquerda armada.

Com as diferentes perspectivas, o leitor acompanha os debates sobre amor, sexualidade, liberdade, violência e repressão. O contexto social e político é plano de fundo dessas narrativas, em uma escrita pulsante e polifônica. Na época do lançamento, em 1973, o livro se tornou muito agraciado pelo público. 

  • Quantidade de páginas: 304 páginas

7. Somos os que foram (Coletivo Aparecidos Políticos)

O livro "Somos os que foram" (2021) foca nos impactos da Ditadura Militar no Ceará. Ele resgata histórias de resistência, além de debater sobre a importância de abordar a memória mesmo após 60 anos do Golpe de 1964.

Ao longo da coletânea de textos, apresenta um pouco do trabalho do Coletivo Aparecidos Políticos, com atuação principalmente no Ceará, e evidencia diversas ruas e monumentos que ainda prestam homenagem a militares do período ditatorial.