Fortes chuvas atingem o Rio Grande do Sul desde o início desta semana. Os eventos climáticos intensos fizeram o governo local decretar estado de calamidade pública. Até o início desta manhã de sexta-feira (3), 31 óbitos e 74 desaparecidos foram registrados no território gaúcho.
Segundo a Defesa Civil estadual, 235 dos 497 municípios são afetados pelos fenômenos, que incluem temporais, alagamentos, ventos fortes, descargas elétricas, risco de granizo, rompimento de barragem, elevação do nível de rios e inundações severas.
Segundo o boletim desta sexta-feira, mais de 351,6 mil pessoas são impactadas pela tragédia climática. Cerca de 17 mil habitantes estão desalojados, 7,1 mil em abrigos e, até o momento, há 56 feridos.
Óbitos e desaparecidos
A Defesa Civil confirmou que as chuvas intensas provocaram a morte de 31 pessoas. Os óbitos foram registrados nos seguintes municípios:
- Canela (2)
- Candelária (1)
- Caxias do Sul (1)
- Bento Gonçalves (1)
- Boa Vista do Sul (2)
- Paverama (2)
- Pantano Grande (1)
- Putinga (1)
- Gramado (4)
- Itaara (1)
- Encantado (1)
- Salvador do Sul (2)
- Serafina Corrêa (2)
- Segredo (1)
- Santa Maria (2)
- Santa Cruz do Sul (2)
- São João do Polêsine (1)
- Silveira Martins (1)
- Vera Cruz (1)
- Taquara (2)
Já o número de desaparecidos atingiu a marca de 74 pessoas.
Rompimento parcial de barragem
No início da tarde dessa quinta, a barragem 14 de Julho rompeu parcialmente, em Catiporã. O reservatório pertence a uma usina hidroelétrica, localizada entre o município e Bento Gonçalves.
O governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), confirmou a informação e detalhou que a Defesa Civil atua para retirar os moradores das regiões próximas às margens do Rio das Antas.
"A gente buscou fazer todo o trabalho possível para evitar o rompimento, mas com o volume d'água não conseguimos ter o acesso nem com os helicópteros para levar os técnicos. Esse rompimento vai ter um efeito de resposta hidrológico, ou seja, de elevação do nível do rio de Taquari e da bacia de Antas-Taquari", detalhou o gestor.
A orientação da Defesa Civil é de que os moradores de regiões próximas ao rio Taquari, nos municípios de Santa Tereza, de Muçum, de Roca Sales, de Arroio do Meio, de Encantado, de Colinas e de Lajeado, deixem as áreas de risco e procurem abrigos públicos ou outro local de segurança para permanecer durante a elevação do nível do curso d'água.
Inundações severas e enchentes
Conforme os avisos publicados pelo órgão estadual ao longo desta semana, pelo menos nove rios chegaram a registrar algum nível de inundação no território gaúcho.
Os alertas publicados nesta sexta-feira, com validade de 24 horas, informam que os rios Ibirapuitã, Caí e Jacuí registram "inundação severa". O rio Taquari já estava classificado nesse nível desde quinta-feira. Os rios Gravataí, dos Sinos e Guaíba receberam a classificação de alerta de inundação.
A orientação da Defesa Civil aos moradores das áreas atingidas pelas enchentes, que incluem o município turístico de Gramado, é de que, "caso seja surpreendido pelo tempo severo, busque abrigo, e não atravesse alagamentos a pé ou, mesmo, de carro".
"Durante as chuvas, fique em segurança. Retire eletroeletrônicos da tomada durante os temporais, e feche bem portas e janelas", completa a instituição.
Capital decreta estado de calamidade
A Prefeitura de Porto Alegre decretou, nessa noite de quinta-feira, estado de calamidade pública. Segundo a Administração, a Capital gaúcha atingiu o nível III do grande de intensidade de classificação de desastres.
"Estamos atuantes de forma ininterrupta em toda a cidade, mas pedimos atenção especial da população do Centro Histórico e 4º Distrito. Evitem deslocamentos. O Guaíba está avançando e, apesar do fechamento das comportas do Cais Mauá, há a possibilidade de alagamentos nesta área", disse o prefeito Sebastião Melo (MDB).
Falta de luz, água e internet
Em relação à infraestrutura, o Rio Grande do Sul tem 280 mil pontos sem energia elétrica, 304 mil clientes sem abastecimento de água, além de dezenas de municípios parcialmente ou sem serviços de telefonia e de internet, conforme o boletim da Defesa Civil desta sexta.
As chuvas que atingem o estado provocam danos e alterações no tráfego nas rodovias estaduais gaúchas. Cerca de 154 trechos em 68 rodovias registram com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.
O que causa as chuvas no RS?
Em entrevista à TV Brasil, o meteorologista e coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi, explica que os temporais que atingem o Estado são resultados da junção de diversos fatores. Segundo ele, a onda de calor localizada na região central do Brasil com alta pressão atmosférica leva à formação de ar seco e quente, que acaba por bloquear a passagem das frentes frias para o norte do país.
"Essas frentes frias vêm da Argentina, chegam rapidamente na Região Sul e não conseguem avançar. Temos uma sucessão de frentes [frias] que se tornaram estacionárias e estão mantendo as chuvas durante vários dias."
O especialista não descarta ainda que as chuvas sejam reflexo do El Niño, que está em etapa final, e indiretamente das mudanças climáticas, já que a atmosfera e os oceanos estão mais quentes, produzindo vapor adicional para formação das chuvas.