Preso no dia 17 de abril nos Emirados Árabes após acusações de estupro, agressão, cárcere privado e ameaça, o empresário Thiago Brennand - que deve ser extraditado ao Brasil nos próximos dias - desafiou uma mulher a denunciá-lo em áudios enviados em maio do ano passado, segundo informações do jornal Extra.
Em uma das conversas, Brennand minimizou o risco de ser preso: “Vão me meter na cadeia, ó meu Deus”, afirmou, em tom irônico.
A mulher que conversa com ele havia sido alvo de um boletim de ocorrência registrado em 4 de maio pelo empresário, que a acusava de tê-lo difamado. Brennand relatou à polícia que a mulher, uma prostituta, teria se aliado a um ex-amigo para espalhar informações falsas a seu respeito e posteriormente extorqui-lo.
Brennand registrou a queixa após receber áudios em que essa mulher conta a uma amiga ter sido obrigada pelo empresário a ter relação sexual com ele sem o uso de preservativo.
Horas após o registro do B.O. contra a mulher, o próprio Brennand a procurou enviando foto do documento. “Não tenho telhado de vidro, e não tenho medo de grupinho querendo me prejudicar”, escreveu o empresário na noite de 4 de maio de 2022. Já na madrugada, a mulher responde questionando qual crime ela teria cometido, no que Brennand se esquiva: “Não quero papo com você (...) seu assunto é com a polícia”.
A mulher então responde: “Estou aguardando a intimação. Vou falar tudo sobre o abuso que eu sofri. Tchau”. Brennand retrucou com ofensas: “Puta burra, pobre e bandida. Lixo humano. Fale sim, não esqueça nenhum detalhe”.
No B.O, o empresário disse que “nunca teve nenhum contato desta natureza (sexual)” com a mulher que estava acusando. Depois, modulou o discurso. Em conversa por telefone em 5 de maio, dia seguinte ao registro na Polícia, Brennand disse à mulher: “O seu relato já nasce morto porque você mesma diz que o sexo foi consentido, que só não consentiu com a camisinha. Você é tão burra…”. Na mesma ligação, a mulher afirma que saiu da casa do empresário “horrorizada”, no que ele responde: “Você saiu daqui minha amiga, você quis voltar outras vezes. Eu ia te ajudar, te dar outros trabalhos, cara”.
Em seguida, Brennand confirma ter dado R$ 3 mil à mulher, mas negou que tenha sido um pagamento por sexo. “Paguei para você vir aqui como eu pago sempre outras mulheres”, explicou-se.
Coleção de armas
A mulher disse então ter se sentido “presa, em cárcere privado” na casa do empresário, e que teve medo de contrariá-lo devido à coleção de armas que ele ostenta no local. “Não quero teu dinheiro. Mas isso não muda o que aconteceu. Várias vezes eu disse: ‘não quero sem camisinha. Não quero’. E você não sabe o que é a palavra ‘não’”, declarou a mulher na ligação telefônica com o empresário.
Ela conta também ter realizado exames nos dias seguintes à sua visita a Brennand e que usou uma pomada ginecológica por medo de ter contraído alguma doença sexualmente transmissível. Ao relatar isso, o empresário respondeu: “Tu vai mostrar a tua pomada, nêgo vai dar risada. Teu exame? Nêgo vai dar risada. Tu acha que um homem como eu tem DST, rapaz? Eu me cuido, eu sei por onde eu circulo”. Em outro trecho, ele questiona: “Você acha que todos os operadores de direito aqui do Brasil é tudo trouxa? Não sabe o que é mulher golpista? Ainda mais puta golpista”.
Na sequência, a conversa prossegue em mensagens pelo WhatsApp. Em um dos áudios enviados por Brennand, ele disse ser vítima de uma “maldade” e minimiza a possibilidade de outras mulheres irem à Justiça contra ele: “Eu quero que vão todas. Todas. Sem exceção”.
Inquérito arquivado
O inquérito para apurar a suposta difamação contra a mulher foi arquivado em 30 de maio pela Justiça a pedido do Ministério Público de São Paulo. O órgão alegou que Brennand apresentou “uma situação totalmente forçada” e que “tentou demonstrar eventual extorsão, sem, contudo, lograr êxito”.
O empresário é investigado por uma série de estupros e supostos rituais para tatuar as vítimas com as iniciais do próprio nome. Vítimas teriam relatado situações semelhantes em relação ao empresário. Entre as acusações estão cárcere privado, sexo sem camisinha, agressões físicas e verbais, perseguição e a marcação nas vítimas com as iniciais TFV.
Antes de ser preso, ele fez uma série de vídeos sem informar em qual país estava. Além disso, citou "inveja" ao lembrar das denúncias. "Vocês mexeram com a pessoa errada. [...] Vocês morrem de inveja. Branco, heterossexual inegociável. Armamentista, obvio. Conservador, sempre", afirmou.
O empresário está fora do Brasil desde o dia 4 de setembro, um dia após ser denunciado pelo MP-SP pela agressão contra uma modelo em uma academia, em São Paulo.