O dono de um quiosque na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde um atendente congolês morreu espancado há uma semana após cobrar um pagamento atrasado, deve prestar depoimento na Divisão de Homicídios nesta terça-feira (1º). Até agora, oito pessoas foram ouvidas, mas ninguém foi preso.
Moïze Kabamgabe, de 24 anos, nasceu no Congo, na África, e veio morar no Brasil como refugiado político em 2014 com a mãe e os irmãos. Ele prestava serviço por diárias no quiosque Tropicália, próximo ao Posto 8.
Segundo a família da vítima, o proprietário do quiosque devia dois dias de pagamento, o que levou Moïze a questioná-lo, na última terça-feira (25), quando o débito seria quitado.
Ao cobrar as diárias, no entanto, o jovem foi espancado até a morte. O corpo dele foi achado amarrado em uma escada. Yannick Iluanga Kamanda, 33, primo da vítima, afirma que o atendente sofreu golpes de mata-leão (chave de pescoço), socos, chutes, madeirada e chegou a ter as mãos e pés amarrados com um pedaço de fio.
Agressões filmadas
Os parentes denunciam que pelo menos cinco pessoas participaram da ação criminosa, entre elas o gerente do quiosque, de acordo com informações do O Globo. Os suspeitos teriam usado pedaços de madeira e um taco de beisebol, como mostram imagens das câmeras de segurança às quais a família teve acesso.
"Num primeiro momento, o meu primo é visto reclamando por que ele queria receber. Em determinado momento, os ânimos se acirraram e o gerente pega um pedaço de madeira. O meu primo corre para se defender com uma cadeira. O gerente vai embora e em seguida volta com cinco pessoas e pegam o meu primo na covardia. Um rapaz dá um mata-leão nele e os outros quatro se revezam em bater — contou Yannick à reportagem.
Causa da morte
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) do Rio apontou que Moïze Kabamgabe morreu de traumatismo do tórax, com contusão pulmonar, causada por ação contundente. O documento detalha que havia áreas hemorrágicas de contusão e também vestígios de broncoaspiração de sangue nos pulmões do congolês.
Sob protestos, a vítima foi enterrada somente no domingo (30) no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. A mãe dele, Ivana Lay, pediu celeridade nas investigações. “Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é vergonha. Morreu no Brasil. Quero justiça”, afirma.