O Ministério da Saúde quer recontar as mortes por covid-19 no País, sob o argumento de que haveria óbitos a mais, ocorridos por outras doenças, mas erroneamente registrados como coronavírus. Na avaliação da cúpula da pasta, Estados e municípios estariam manipulando informações para se beneficiarem de recursos do governo federal.
Até o momento, nenhum apontamento sobre esses supostos erros foi feito pelo ministério, que ainda não se posicionou oficialmente sobre o assunto.
Ao jornal O Globo, o novo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Carlos Wizard, disse que um balanço atualizado dos, segundo ele, "dados fantasiosos ou manipulados", deve ser publicado pela pasta dentro de um mês.
Para ele, com a mudança, o número de mortos registrados por Covid-19 nesses meses em que o vírus chegou ao Brasil deve ser menor.
"Tinha muita gente morrendo por outras causas, e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como Covid. Estamos revendo esses óbitos", declarou.
Ao contrário do que afirma o secretário, há um entendimento de que o problema é inverso: milhares de mortos estariam sendo enterrados sem ter a causa da morte devidamente apurada, ou seja, o número total seria maior.
O próprio Ministério da Saúde informava, até a última quinta-feira, 4, que havia mais de 4 mil mortes sendo investigadas, além daquelas já confirmadas. Esses dados já não constavam no balanço desta sexta-feira.
Depois de o Ministério da Saúde atrasar o horário de divulgação de dados do coronavírus e deixar de divulgar o número total de mortos e contaminados, o site do governo que traz os dados sobre a doença no País continua fora do ar.
Em uma rede social, o presidente Jair Bolsonaro disse que a pasta "adequou a divulgação dos dados sobre casos e mortes" para "maior precisão". O portal do Ministério da Saúde que divulga dados do coronavírus está fora do ar desde ontem.
Em sua conta do Twitter, Bolsonaro disse que o ministério optou pela divulgação às 22h para evitar "subnotificação e inconsistências" e que as rotinas e fluxos estão sendo "adequados" para garantir a "melhor extração" dos dados diários, o que demanda aguardar relatórios das secretarias estaduais e a checagem do dados.
"A divulgação entre 17h e 19h, ainda havia risco subnotificação. Os fluxos estão sendo padronizados e adequados para a melhor precisão", escreveu.
Ao longo do enfrentamento da doença, a coleta de informações evoluiu com capacitação e serviços laboratoriais. As medidas, assim, permitem obter dados mais precisos sobre cada região.
Nesta sexta, ao ser questionado sobre a mudança no horário, na porta do Palácio da Alvorada, o presidente disse "Acabou a matéria no Jornal Nacional".
No Twitter, Bolsonaro também tentou justificar o fato de o Ministério da Saúde não informar mais os números acumulados de casos e mortes causados pelo coronavírus. "Ao acumular dados, além de não indicar que a maior parcela já não está com a doença não retratam o momento do país", disse.
O presidente tuitou ainda que "outras ações estão em curso para melhorar a notificação dos casos e confirmação diagnóstica", sem especificar.
Bolsonaro disse ainda na rede social que a coleta de informações evoluiu e permite obter dados mais precisos sobre cada região. "A divulgação dos dados de 24 horas permite acompanhar a realidade do país neste momento e definir estratégias adequadas para o atendimento a população. A curva de casos mostram as situações como as cenários mais críticos, as reversões de quadros e a necessidade para preparação", escreveu o presidente.
Diante do atraso do governo em divulgar os números, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, disse que cogita propor à corte de contas que consolide e divulgue os dados diariamente, até as 18 horas.
Em sua conta na rede social Twitter, Dantas disse que vai fazer a sugestão aos ministros do tribunal. Caberia ao órgão coletar os dados junto a tribunais de contas estaduais e consolidar as informações.
Com as novas dificuldades para divulgar dados nacionais de infectados, curados e óbitos da Covid-19, as instituições devem ajudar. "Cogito propor ao @TCUoficial e aos tribunais de contas estaduais que requisitemos e consolidemos dados estaduais para divulgação diária até 18h".