Folia com crítica social

Com referências aos problemas que afligem o País como a insegurança e a intolerância, o Carnaval fluminense gerou repercussão internacional ao criticar os rumos da política nacional

As escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro encerraram na manhã de ontem os desfiles do Carnaval deste ano com fortes críticas à corrupção, à violência e à onda conservadora que atinge o país.

"Oh pátria amada, por onde andarás? Seus filhos já não aguentam mais! Você que não soube cuidar", repetia o samba da Beija-Flor, que concluiu os dois dias de espetaculares desfiles no Sambódromo.

Em sua noite de estreia, as escolas que desfilaram já haviam trazido boas doses de crítica social. Assim, o presidente Michel Temer foi encarnado por um vampiro corrupto na Paraíso do Tuiuti, enquanto o prefeito Marcelo Crivella foi representado por um boneco de Judas na Mangueira.

Crivella foi um dos alvos principais, criticado por cortar pela metade a verba destinada às escolas de samba.

O grito "fora Crivella!" foi ouvido com frequência nos últimos dois dias dentro e fora da Sapucaí, porque o Carnaval, além de atrair 1,5 milhão de turistas e gerar mais de 1 bilhão de dólares para a cidade, representa uma trégua às tragédias diárias do Rio, mergulhado em uma grave crise econômica e de violência. "A gente vem aqui e esquece de todos os problemas. Só pensamos em desfrutar o Carnaval", declarou Paulo da Silva, um dos músicos da Unidos da Tijuca.

Contudo, a insegurança da cidade não ficou de fora da festa. O sambista Moacyr Luz denunciou que foi assaltado na véspera quando chegava ao Sambódromo e teve até sua fantasia roubada.

Leia ainda:

> Fortaleza: terra da folia 
> Memória, samba e afeto na cidade 
> Balança o chão da praça 
> Maracatu reinventado 
> Fantasia para manter a luta 
> Aracati: Alegria resgatada 
> Muita cor e diversão em várias cidades do Ceará

Atual campeã do carnaval carioca (em título dividido com a Mocidade Independente) e maior vencedora dos desfiles de escolas de samba, com 22 títulos, a Portela desfilou na segunda-feira (12) e contou a história de um grupo de judeus que, expulso de Portugal, primeiro viajou para Recife, mas acabou expulso novamente pelos portugueses em 1654 e, então, fugiu para a América do Norte e ajudou a fundar a cidade de Nova York, nos Estados Unidos.

A escola aproveitou para denunciar o drama dos imigrantes da atualidade.

Paraíso de Tuiuti satiriza até o presidente Temer

A escola de samba surpreendeu aos espectadores na Sapucaí com um desfile crítico tendo como enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?", que lembrou os 130 anos do fim da escravidão no Brasil, sem que suas sequelas tenham sido, contudo, eliminadas. Várias alas foram dedicadas a lembrar este fato, como o alto nível de desigualdade social e também criticaram a recente Reforma Trabalhista

a
Em um dos carros alegóricos da agremiação, uma figura de 'Drácula' ganhou os traços do chefe do Executivo (Foto: AFP)