A EMS faturou R$ 142 milhões com medicamentos do "Kit Covid" em 2020, valor oito vezes maior ao contabilizado no ano anterior. O montante foi repassado na noite dessa quarta-feira (16) pela própria farmacêutica ao presidente da CPI da Covid no Senado, Omar Aziz (PSD-AM).
Apenas a soma com a venda de ivermectina cresceu de R$ 2,2 milhões para R$ 71,1 milhões na pandemia. O laboratório também produziu azitromicina, hidroxicloroquina e nitazoxanida, medicamentos sem comprovação científica contra o vírus, mas que se tornaram bandeira do presidente Jair Bolsonaro na crise sanitária.
Depois da ivermectina, o maior faturamento da EMS em 2020 com medicamentos do "kit Covid" foi com a Azitromicina (R$ 46,2 milhões), hidroxicloroquina (R$ 20,9 milhões) e nitazoxanida (R$ 3,67 milhões).
Os dados enviados à CPI ainda mostram que a EMS produziu cerca de 9 vezes mais comprimidos das drogas do "Kit Covid" no primeiro ano da pandemia.
Já em relação às vendas deste ano, a empresa também apontou que de janeiro a maio faturou R$ 11,85 milhões com a hidroxicloroquina. Além disso, projeta mais R$ 19,21 milhões com a droga até dezembro.
Há requerimentos na CPI tanto para convocar Carlos Sanchez, presidente do conselho de administração do Grupo NC, detentor da EMS, como para quebrar o sigilo telefônico, telemático, fiscal e bancário do empresário.
Farmacêutica diz apoiar estudos
Em ofício enviado à CPI, a empresa ainda informou que apoiou estudos científicos que avaliaram o uso da hidroxicloroquina para Covid-19.
"A primeira pesquisa apoiada pela Companhia foi publicada em 23.07.2020, no New England Journal of Medicine, e concluiu que o uso de hidroxicloroquina, sozinha ou associada com azitromicina, não mostrou efeito favorável na evolução clínica de pacientes adultos hospitalizados com formas leves ou moderadas de Covid-19", disse a EMS.
A farmacêutica afirmou que divulgou o resultado dos estudos e alertou o público de que a hidroxicloroquina só deve ser usada sob prescrição médica. A empresa também disse que divulgou a falta de "respaldo científico" sobre a eficácia da droga contra a Covid.
Ineficácia comprovada
Na pandemia, Bolsonaro apostou no uso dos medicamentos do “Kit” covid, contrariando recomendações de entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS). A insistência do presidente pela adoção dos remédios como política pública ainda levou a saída de dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Nelson Teich.
Logo ao assumir a Saúde, em maio de 2020, o general Eduardo Pazuello atendeu a pedido do presidente e editou uma nota do ministério orientando o uso da hidroxicloroquina logo aos primeiros sintomas da pandemia.
Já o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse à CPI que o uso precoce destes fármacos influencia "muito pouco" no curso da pandemia. "Se eu ficar aqui discutindo a discussão do ano passado, eu não vou em frente", disse o ministro no último dia 8 aos senadores.