A versão mais plausível para os assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips é a de que as vítimas foram perseguidas na lancha em que estavam por Amarildo da Costa de Oliveira, o "Pelado", antes de serem mortas. Segundo a Polícia Federal, as investigações apontam ainda que o crime não teve um mandante. As informações são do G1.
Fontes que atuam na investigação acreditam que, durante a perseguição, Dom e Bruno foram atacados a tiros, o barco ficou desgovernado e acabou entrando na mata às margens do rio Itaquaí. Amarildo e mais um suspeito teriam ido então até o barco e terminado de executar as vítimas.
Essa avaliação se deu após o depoimento de testemunhas e do próprio Amarildo, após ser preso. Ele afirma, no entanto, que não atirou contra o barco do indigenista e do jornalista, mas, sim, outra pessoa.
Segundo Amarildo, houve troca de tiros com Bruno Pereira e um outro homem teria ajudado a queimar e a enterrar os corpos na mata. Teria sido usada uma espingarda calibre 16, mas a perícia ainda terá que atestar se de fato foi usada essa arma, e se os corpos são mesmo de Bruno Pereira e Dom Phillips.
Executores agiram sozinhos
Entre as linhas de investigações trabalhadas, está a de que Bruno seria o alvo do crime por ter uma rixa com pescadores ilegais em razão do trabalho que fazia na região.
Para esses criminosos, o indigenista estaria tirando o sustento das pessoas que estão atuando de forma ilegal e sua morte seria motivada por vingança. Mas Dom Phillips estava junto, então os policiais acreditam que os criminosos não mediram esse fator na repercussão.
A segunda linha de investigação era a de que o crime teria um mandante. As autoridades, no entanto, já descartaram essa hipótese, alegando que os executores agiram sozinhos, não havendo uma organização criminosa envolvida.
"As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito. Por fim, esclarece que, com o avanço das diligências, novas prisões poderão ocorrer", diz a nota do comitê de crise, coordenado pela PF, e divulgada nesta sexta-feira (17).
Prisão
Duas pessoas já foram presas por suspeita de envolvimento no desaparecimento da dupla: os irmãos Amarildo da Costa Oliveira e Oseney da Costa de Oliveira. Um terceiro mandado de prisão pode ser expedido. O inquérito também tenta esclarecer se o assassinato está relacionado a crimes anteriores dos mesmos suspeitos.
Além disso, a Polícia Federal expandiu as investigações sobre o assassinato e outras três pessoas também são investigadas. Nesta quinta-feira (16), os agentes da PF cumpriram mandato de busca e apreensão na casa de um dos suspeitos de envolvimento no crime, em Atalaia do Norte.
Restos mortais chegam à Brasília
Os restos mortais encontrados no local de buscas no Vale do Javari chegaram ao Aeroporto de Brasília nesta quinta-feira (16), por volta das 18h34. Os corpos foram transportados em caixões na aeronave da Polícia Federal e devem começar a ser periciados nesta sexta-feira (17).
Os corpos foram encontrados em estágio avançado de decomposição e, por conta disso, os peritos da PF precisarão compará-los à genética de familiares de Pereira e Phillips. A previsão é de que o resultado das análises deve sair em até 10 dias. A perícia deve ainda determinar a causa da morte.
Entenda o caso
Bruno Pereira e Dom Phillips estavam desaparecidos desde o último dia 5 de junho, quando faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no Vale do Javari, Amazônia.
A viagem costuma durar apenas 2 horas, mas eles nunca chegaram. Após horas sem contato, uma equipe da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) formada por indígenas conhecedores da região que trabalhavam com Bruno partiu em busca dos dois, mas sem sucesso.
A Univaja e o Observatório de Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) disseram, em nota, que os homens "receberam ameaças em campo na semana em que desapareceram".
Os grupos não forneceram mais detalhes, mas Bruno Pereira, especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai), com profundo conhecimento da região, recebia regularmente ameaças de madeireiros e garimpeiros que tentam invadir ilegalmente as terras das comunidades indígenas.