Enchente na Espanha deixa pelo menos 95 mortos, muitos desaparecidos e diversos edifícios destruídos
Fenômeno meteorológico é o maior em número de vítimas no país europeu desde agosto de 1996
O governo da Espanha anunciou, nesta quarta-feira (30), que pelo 95 pessoas morreram em inundações que devastaram principalmente a região espanhola de Valencia. O quantitativo, no entanto, pode ser maior, pois ainda há muitos desaparecidos.
"O número atualizado é de 92 pessoas mortas na Comunidade Valenciana, duas em Castela-Mancha e mais uma na Andaluzia, um total de 95 pessoas", disse à emissora pública TVE o ministro de Política Territorial, Ángel Victor Torres, ressaltando que os dados são provisórios.
Valencia era a região mais afetada nesta quarta (30), com estradas destruídas e áreas isoladas e sem serviços de telefonia ou eletricidade, o que gera temores de um número de mortos ainda maior.
"Chove sem parar há 10 horas. Estamos isolados, não é possível acessar parte da cidade. As estradas estão todas cortadas, as pontes estão partidas", disse José Manuel Rellán, um morador da cidade valenciana de Ribarroja del Turia.
O presidente da região de Valencia, Carlos Manzón, informou em entrevista coletiva que os serviços de emergência fizeram “200 resgates terrestres” e “70 evacuações aéreas” com helicópteros ao longo do dia, e que, a princípio, não haveria mais pessoas para resgatar de telhados.
Já não restam "núcleos urbanos que nenhum efetivo tenha conseguido acessar". À medida que a cobertura telefônica é restaurada, "vão aparecendo pessoas cujo paradeiro era desconhecido", observou Manzón.
Emergência
As imagens impactantes registradas mostram enxurradas de água devastando ruas e arrastando automóveis.
A agência meteorológica estatal Aemet registrou "acúmulos extraordinários" de chuva, com alguns municípios recebendo 300 mm de água por metro quadrado em apenas algumas horas, "praticamente o que pode chover em um ano inteiro", disse na rede social X.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que visitará a área afetada nesta quinta-feira, pediu aos moradores que não baixassem a guarda durante a emergência. "Não vamos deixá-los sozinhos", garantiu.
O governo decretou três dias de luto oficial a partir de amanhã. O transporte ferroviário e aéreo na região continua suspenso e o trem de alta velocidade entre Madri e Valencia só voltará a funcionar na próxima semana, informaram as autoridades.
Tragédia 'da qual ninguém tem memória'
O rei Felipe VI expressou sua "tristeza por tantas perdas de vidas humanas", em uma mensagem enviada das Ilhas Canárias.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a "Europa está pronta para ajudar" a Espanha.
"Estamos diante de uma situação inédita, da qual ninguém tem memória", disse o chefe do governo de Valência.
Este é o fenômeno meteorológico com o maior número de vítimas na Espanha desde agosto de 1996, quando 86 pessoas morreram durante as chuvas torrenciais que destruíram um camping na província de Huesca.
As pessoas 'não sabem o que fazer'
O governo enviou a Valência mais de 1.000 soldados da Unidade Militar de Emergência, especializada em missões de salvamento, para apoiar os serviços de resgate locais e o Exército mobilizou unidades caninas para buscar corpos, necrotérios móveis e psicólogos para atender as vítimas.
Cientistas alertam para o fato de os fenômenos meteorológicos extremos, como as ondas de calor e tempestades, estarem se tornando mais intensos devido às mudanças climáticas.
"Esses fenômenos extremos podem ultrapassar a capacidade de resposta dos planos de emergência existentes, mesmo em um país relativamente rico como a Espanha", disse Leslie Mabon, professora de Sistemas Ambientais na Universidade Aberta da Grã-Bretanha.
O elevado número de mortos sugere que o sistema de alerta de inundações de Valência falhou, segundo Hannah Cloke, professora de Hidrologia na Universidade de Reading.
"As pessoas simplesmente não sabem o que fazer quando são confrontadas com uma inundação ou quando ouvem avisos", afirmou.