O Vaticano anunciou, nesta sexta-feira (11), a abertura de uma investigação sobre o cardeal francês Jean-Pierre Ricard. O religioso confessou que há 35 anos se comportou de forma "reprovável" com uma menina de 14 anos, em um novo caso que abala a Igreja Católica.
"Com base nos elementos que surgiram (...), após a declaração do cardeal Jean-Pierre Ricard e para completar a análise do ocorrido, decidiu-se abrir uma 'investigatio previa' [investigação preliminar]" sobre o ex-arcebispo de Bordeaux, de 78 anos, disse o diretor da assessoria de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.
Ricard admitiu, em carta lida na segunda-feira (7) pelo presidente da Conferência Episcopal da França, que se comportou "de forma reprovável com uma menina de 14 anos" há 35 anos, quando era pároco em Marselha.
"Meu comportamento necessariamente causou consequências graves e duradouras para essa pessoa", escreveu o cardeal, afirmando que estava se colocando à disposição da Justiça, tanto civil quanto canônica, e que pedia "perdão" à vítima.
A Justiça francesa abriu uma investigação preliminar na terça-feira (8) para verificar os elementos dessa "revelação", disse o promotor de Marselha, especificando que nenhuma queixa relacionada ao religioso foi apresentada até agora.
O caso do cardeal Ricard, que se aposentou em 2019, provocou um novo terremoto na Igreja francesa, um ano após a publicação de um relatório que estimava que cerca de 216 mil menores foram vítimas na França de abusos cometidos por religiosos católicos entre 1950 e 2020.
Uma figura importante da Igreja
O cardeal Ricard foi uma das grandes figuras da Igreja Católica na França e ainda faz parte de importantes Dicastérios, ou ministérios da Santa Sé. Bispo desde 1993, foi designado cardeal em 2006 pelo hoje papa emérito Bento XVI.
Considerado um homem de consenso, foi nomeado em 2014 pelo papa Francisco para o Conselho de Economia. Também é membro dos Dicastérios para a Promoção da Unidade dos Cristãos, da Doutrina da Fé e do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, o que o fazia viajar a Roma com frequência.
Também, em agosto passado, participou das reuniões de cardeais convocadas por Papa Francisco, durante o qual foram designados 21 novos cardeais. Agora, é provável que se questione sua permanência no Colégio Cardinalício.
Escândalos de abusos sexuais
A partir dos anos 1980, uma série de escândalos relacionados a abusos sexuais salpicaram a hierarquia católica em todo o mundo.
Desde então, a Igreja reforçou suas medidas preventivas, adotou leis, pediu perdão e emitiu condenações sem conseguir fazer desaparecer o fenômeno dos abusos a menores, nem a chamada "cultura do encobrimento", ou seja, que mantém tudo em segredo.
O crime contra menores foi tipificado na nova versão do Código de Direito Canônico, vigente desde dezembro de 2021. Com ele, as penas se tornaram mais rígidas, os prazos para prescrição aumentaram e as vítimas devem ser indenizadas.