Variante Delta faz Europa alterar planos de reabertura; cepa do coronavírus é mais transmissível

Rússia e Itália voltaram a endurecer as regras de isolamento social, além de novas restrições em Lisboa

O avanço da variante Delta da Covid-19 pressionou o endurecimento da restrição de circulação em locais que já tinham controle da pandemia e, portanto, relaxado as medidas no continente europeu. Identificada pela primeira vez na Índia, a cepa é mais contagiosa.

Por isso, a Rússia suspendeu eventos, e a Itália anunciou que os visitantes do Reino Unido terão de ser testados e passar por quarentena de cinco dias. Lisboa também adotou novas regras. 

Rússia

Em Moscou, por exemplo, foram registrados 9.056 novos casos de Covid-19 em 24 horas, um recorde desde o início da pandemia e o triplo do nível registrado há menos de duas semanas. Quase 90% foram provocados pela variante Delta, anunciou o prefeito da capital russa, Serguei Sobianin, nesta sexta (18), o que explica a virulência da atual onda da pandemia.

"Segundo os últimos dados que recebemos, 89,3% dos pacientes estão infectados por um coronavírus que sofreu mutação, denominado Delta, a variante indiana. É mais agressivo, se propaga mais rápido", afirmou Sobianin.

Com 17.262 contágios diários em todo país, a Rússia está no ponto mais elevado desde 1º de fevereiro, de acordo com estatísticas do governo. O país registrou 453 novas mortes, o maior número desde 18 de março. Moscou perdeu 78 vidas, ainda de acordo com informações divulgadas pelo governo russo.

As eleições legislativas previstas para setembro serão realizadas em três dias, de 17 a 19 desse mês, para limitar os contágios, anunciou a chefe da comissão eleitoral, Ella Pamfilova. Diante desta situação, as autoridades moscovitas começaram a voltar a adotar restrições.

"Vamos suspender os grandes eventos de entretenimento durante algum tempo. Também temos que fechar durante algum tempo os salões de dança e a área dos torcedores", que fica dentro do complexo olímpico de Luzhniki, anunciou o prefeito Sobianin. 

A Rússia recebe sete partidas da Eurocopa, todas na cidade de São Petersburgo, onde a pandemia também regista alta de casos. "Não queria fazer, mas tenho que fazer. A partir de hoje, os eventos de entretenimento se limitam ao máximo de mil pessoas", declarou Sobianin. 

A prefeitura de Moscou prorrogou até 29 de junho o fechamento, nos fins de semana, dos pontos de venda de alimentos nos centros comerciais, dos zoológicos e de todas as instalações dos parques públicos, assim como de áreas infantis e instalações esportivas. Bares e restaurantes deverão permanecer fechados das 23h às 6h.

No Brasil, os primeiros casos desta nova variante foram registrados no fim de maio.

Itália passa a exigir teste de Covid-19 e quarentena

Na Itália, os passageiros procedentes do Reino Unido terão de cumprir uma breve quarentena, enquanto os de outros países poderão entrar livremente com o "Passaporte Covid", com o objetivo de acelerar o turismo.

"Assinamos uma nova portaria que permite a entrada de países da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Japão com o certificado verde", também chamado de Passaporte Covid, informou o ministro italiano da Saúde, Roberto Speranza, no Facebook.

O certificado é um documento sanitário que atesta que a pessoa foi vacinada contra o coronavírus, que superou o vírus, ou que teve resultado negativo no teste de detecção da doença, explicou o ministro. Os viajantes do Reino Unido, país onde a variante Delta, a mais contagiosa, propagou-se, terão de observar uma quarentena de cinco dias e se submeter a um teste de Covid-19. 

A Itália também proíbe a entrada em território nacional de viajantes de Índia, Bangladesh e Sri Lanka. O país espera aumentar em 20% o número de turistas nos próximos meses do verão (inverno no Brasil) e, assim, poder reativar o setor turístico. Duramente atingido pela pandemia, ele representa quase 14% do Produto Interno Bruto (PIB).

Segundo diferentes fontes do governo, a Itália vai eliminar a obrigação de usar a máscara ao ar livre durante a primeira quinzena de julho. 

Até o momento, foram aplicadas mais de 44 milhões de doses de vacinas anticovid-19. Quase 15 milhões de pessoas - ou seja, mais de 27% da população acima de 12 anos - já foram vacinadas, conforme o site do Ministério da Saúde.

Lisboa proíbe circulação na área metropolitana 

Conforme a Rádio França Internacional (RFI), Portugal proibiu a entradas e saídas de pessoas da área metropolitana de Lisboa neste fim de semana. A proibição entrou em vigor nesta sexta. A medida também busca frear o aumento de casos no País. 

Lisboa ultrapassou os 240 casos de Covid-19 por 100 mil habitantes. A situação piorou desde a final da Liga dos Campeões, entre o Chelsea e o Manchester City. O jogo ocorreu no início de junho elevou milhares de torcedores britânicos ao Porto. 

“Aparentemente, [existe] uma prevalência maior da variante delta em Lisboa e também na região do Alentejo", disse a ministra Mariana Vieira da Silva na quinta-feira.

O governo local aguarda o sequenciamento genético de testes positivos para o vírus para identificar o impacto da variante nos novos casos. 

O que é a variante Delta 

A variante Delta (B.1.617.2) é considerada muito mais infecciosa do que as demais variantes do coronavírus. Testes mostram que ela se multiplica com maior velocidade no organismo, aumentando o risco mesmo para queles que já receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19. 

Quais os sintomas da variante Delta

Dor de garganta, dor de cabeça e coriza são os principais sintomas relacionados à variante Delta da Covid-19, segundo aponta estudo conduzido no Reino Unido. 

Segundo o professor Tim Spector, que comanda o estudo denominado de 'Zoe Covid Symptom', a nova cepa pode se parecer com uma espécie de "resfriado mais forte" para os jovens.

Ainda que eles não sejam tão graves em pessoas mais novas, os infectados podem transmitir mais facilmente, colocando outras pessoas em risco.

Quais vacinas funcionam para a variante Delta

Vários estudos em laboratório mostram que a variante Delta parece mais resistente às vacinas que outras mutações. É o que se conhece como "escape imunológico".

De acordo com um estudo, coordenado pelas autoridades britânicas e publicado no início de junho na revista The Lancet, nas pessoas vacinas com as duas doses da Pfizer/BioNTech o nível de anticorpos neutralizantes é quase seis vezes menos elevado na presença da variante Delta que com a cepa originária, usada para desenvolver as vacinas.

Em comparação, esta redução é de 2,6 vezes a respeito da variante Alpha ("britânica") e 4,9 vezes ante a variante Beta ("sul-africana").

Outro estudo, do Instituto Pasteur na França, conclui que os anticorpos neutralizantes depois da aplicação da vacina Pfizer são de três a seis vezes menos eficazes contra a variante Delta que contra a Alpha. 

De acordo com dados apresentados na segunda-feira pelas autoridades britânicas, a vacinação com a Pfizer/BioNTech e com AstraZeneca são igualmente eficazes para impedir a hospitalização tanto para a variante Delta como para a Alpha.

Duas doses permitem evitar em 96% (para Pfizer/BioNTech) e 92% (para AstraZeneca) a internação pela variante Delta, segundo o estudo com 14 mil pessoas.

Dados anteriores das autoridades britânicas apresentaram conclusões parecidas para formas menos graves da doença.

Duas semanas depois da segunda dose, a vacina Pfizer/BioNTech é 88% eficaz contra a forma sintomática da covid-19 devido à variante Delta, contra 93% quando se trata da variante Alpha. A AstraZeneca demonstrou eficácia de 60% e 66% contra estas mutações.

Os criadores da vacina russa Sputnik V afirmaram na terça-feira no Twitter que seu fármaco era "mais eficaz contra a variante Delta" que qualquer outro, mas não publicaram os dados.

Uma dose não é o suficiente

Os estudos convergem em um ponto: apenas uma dose oferece uma proteção limitada contra a variante Delta.

"Após uma dose da Pfizer/BioNTech, 79% das pessoas tinham uma resposta de anticorpos detectável contra a cepa original, mas esta caía a 50% para a variante Alpha, 32% para a variante Delta e 25% para a variante Beta", conclui o estudo em laboratório publicado na revista The Lancet.

A pesquisa do Instituto Pasteur indica que apenas uma dose da AstraZeneca seria "pouco ou nada eficaz" contra a variante Delta.

Estas tendências são confirmadas na vida real: segundo as autoridades britânicas, apenas uma dose de qualquer uma das vacinas tem eficácia de 33% para impedir a forma sintomática da doença causada pela Delta (e 50% para a variante Alpha).

Entre todos os imunizantes autorizados, apenas o do laboratório Janssen é de dose única. No momento não há dados sobre sua proteção para a variante Delta.