A liberal María Corina Machado conquistou quase todos os votos, apurados até a noite dessa segunda-feira (23), nas primárias da oposição da Venezuela, iniciativa classificada pelo presidente do país, Nicolás Maduro, como fraude. Vencedora, ela se torna a candidata da oposição para enfrentar o atual governante nas eleições do próximo ano. Ela, porém, está inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos e, teoricamente, não poderia inscrever a candidatura.
A comissão que organizou o pleito interno da oposição, que não recebeu assistência do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), anunciou um segundo boletim, após a apuração de 64,88% das atas, em que a candidata obtinha 92,56% dos votos, ou 1,47 milhão de 1,59 milhão já apurado.
"Em 2024, iremos vencer essa eleição presidencial, iremos cobrar, iremos expulsar Nicolás Maduro e seu regime e começaremos a reconstruir a nossa nação", declarou María Corina diante de apoiadores após a divulgação do primeiro boletim, em que já aparecia claramente como vencedora.
“É lamentável que zombem de um grupo importante. É a crônica de uma morte anunciada, crônica de uma fraude anunciada. [...] Nós respeitamos esse grupo de eleitores e faço a eles um pedido: não se deixem enganar, não se deixem levar por uma aventura de ódio", reagiu Maduro no programa de TV dele, onde estimou que entre 550 mil e 700 mil eleitores participaram das primárias.
Quem é María Corina Machado?
María Corina é uma engenheira industrial de 56 anos, que promete acabar com o socialismo e impor uma economia liberal no País, com privatização de empresas públicas como a Petróleos de Venezuela (PDVSA).
A candidata liberal entrou para a política em 2002, com uma ONG que estimulou um referendo revogatório contra o falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013). Foi eleita deputada em 2011, mas teve o mandato cassado em 2014, por participar como "embaixadora alternativa" do Panamá de uma reunião da OEA na qual denunciou supostas violações dos direitos humanos durante os protestos daquele mesmo ano que pediam a saída de Maduro e que deixaram 40 mortos.
A inabilitação da candidata, inicialmente por 12 meses e que terminou em 2016, foi prorrogada por 15 anos em 30 de junho, no auge da atual campanha. A Controladoria, comandada pelo agora presidente do CNE, Elvis Amoroso, acusou a ex-deputada de corrupção e de promover sanções contra a Venezuela.
“Não existe uma única possibilidade, nem uma, nem meia, de que uma pessoa que esteja inabilitada possa ser habilitada para participar de uma eleição presidencial", ressaltou o número dois do chavismo, Diosdado Cabello.
Em segundo lugar na apuração aparece Carlos Prosperi, do partido tradicional Ação Democrática (AD), que denunciou irregularidades no processo. Ele obteve 70.819 votos, ou 4,45% do total. Embora Prosperi não tenha reconhecido o resultado, a AD mostrou-se disposta a apoiar María Corina nas eleições presidenciais. “Uma vitória contundente, muito clara", disse Henry Ramos Allup, secretário nacional do partido.
Outros candidatos reconheceram o resultado e manifestaram apoio à vencedora das primárias.