Joe Biden fará discurso sobre o Afeganistão

Presidente dos EUA optou pela retirada de tropas americanas do país afegão, seguindo acordo de Trump

Diante das imagens caóticas no aeroporto de Cabul e dos talibãs patrulhando as ruas da capital afegã que comoveram o mundo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, finalmente fará um discurso à nação sobre o Afeganistão nesta segunda-feira (16) às 16h45 (horário de Brasília), segundo um comunicado do Executivo.

O presidente democrata, de 78 anos, em silêncio há vários dias sobre a crise mais grave desde sua eleição em novembro, reduziu sua estadia em Camp David, a casa de férias dos presidentes americanos.

Inicialmente, estava previsto para permanecer lá até quarta-feira, mas a tomada relâmpago do Afeganistão pelo Talibã e a caótica evacuação realizada pelas forças americanas no local tornaram sua estadia fora de Washington e longe da imprensa insustentável.

A última vez em que Biden tratou publicamente sobre o tema foi em 10 de agosto, quando afirmou que "não lamentava" a decisão de retirar até 31 de agosto os últimos militares americanos do Afeganistão, após 20 anos de guerra.

Posteriormente, o presidente estadunidense anunciou, em comunicado no último sábado (14), envio de 5 mil militares para garantir a segurança do aeroporto de Cabul e retirar quase 30 mil americanos e civis afegãos que cooperaram com o exército dos EUA.

Comunicado no último sábado

No comunicado de sábado, o presidente listou ações realizadas para embasar a decisão pelo fim da missão militar no Afeganistão. Ele relembrou que o país foi a território afegão há 20 anos para derrubar as forças responsáveis pelos atentados de 11 de setembro de 2001, o que resultou na morte de Osama Bin Laden e a degradação da Al Qaeda.

Biden pontuou que, ao chegar ao cargo, herdou um acordo feito pelo antecessor dele, Donald Trump, o qual deixou o Talibã em uma posição militar mais forte.

Ao chefiar os EUA, ele teve de escolher se cumpriria, com uma breve extensão, o acordo, que previa prazo para as forças americanas saírem até 1º de maio de 2021, ou aumentar a presença dos soldados e enviar mais tropas para lutar novamente em outro conflito civil no país.

"Fui o quarto presidente a presidir uma presença de tropas americanas no Afeganistão — dois republicanos e dois democratas. Eu não iria, e não irei, passar esta guerra para um quinto [presidente]", asseverou ele, que tem um filho, Beau Biden, servindo em conflito ativo, conforme apontou na época da corrida presidencial. 

Críticas

Conforme a BBC, críticos avaliam que a decisão do presidente de encerrar o conflito abriu caminho para uma catástrofe humanitária e pôs a credibilidade americana em dúvida.

Afegãos, soldados e estadistas mais próximos da guerra são céticos há tempos quando à visão de que o governo de Cabul pudesse manter sozinho a segurança do país. Após a tomada da cidade pelo Talibã, há quem avalie como uma questão de tempo que o eleitorado americano se arrependa da decisão de Biden sobre a retirada das tropas estadunidenses do país afegão.

Ainda enquanto vice-presidente de Barack Obama, Biden insistiu que a guerra deveria ser limitada. Como senador em Delaware em 2001, ele se junto a uma votação para aprovar o uso de militares em território afegão, mas se opôs ao envio de mais trocas em 2009.

Na corrida eleitoral, o então candidato afirmou à CBS, em 2020, que os EUA deveriam ter tropas no Afeganistão apenas para garantir que fosse "impossível" o restabelecimento de uma base do Talibã, Estado Islâmico ou Al Qaeda lá — o que não ocorreu.

No sábado, Biden foi forçado a aprovar o envio de milhares de soldados adicionais dos EUA para garantir uma "retirada ordenada e segura de funcionários dos EUA e outros aliados", além da "evacuação segura" dos afegão em "risco especial" quanto ao Talibã.

Alertas antecipados pela Inteligência dos EUA

Um relatório da Inteligência dos EUA vazado neste mês alertou que o governo afegão apoiado pelo Ocidente poderia colapsar em 90 dias após a saída das trocas americanas.

Donald Trump acusou Biden de "fraqueza, incompetência e total incoerência estratégica", embora alguns apontem que o acordo feito pelo ex-presidente com o Talibã como parte da culpa.