Além da escolha do novo presidente para um mandato de quatro anos, a partir do dia 20 de janeiro, os americanos vão renovar o Congresso, um movimento crucial para o futuro do país, afinal, é no Capitólio, sede do Poder Legislativo em Washington D.C., onde são aprovadas as leis e os atos do Executivo são contestados. Donald Trump sobreviveu ao processo de impeachment porque o Partido Republicano controla o Senado, enquanto o Partido Democrata tem maioria na Câmara dos Representantes (Deputados).
Além do impeachment, que chegou a ser aprovado pela Câmara, mas foi barrada pelo Senado, Trump enfrenta 26 acusações por má conduta sexual e cerca de 4.000 processos, informa a revista “New Yorker”, que fez o levantamento.
Caso Trump vença e consiga ser empossado em janeiro, será preciso calibrar as análises geopolíticas com base na força obtida pelo republicano entre os parlamentares.
“Se ele ganhar, como vai ser essa vitória? Se ele ganhar, é provável que ele ganhe o Senado junto. Se ele ganhar, significa que as pesquisas estão completamente equivocadas. Se estão equivocadas, as pesquisas estão equivocadas também em relação ao Senado”, observa o professor de Política Internacional da Universidade Veiga de Almeida e comentarista na GloboNews, Tanguy Baghdadi.
Segundo o analista, um segundo mandato em que Trump saía fortalecido faria com que ele tenha possibilidade de fazer todas as reformas todas que ele quer fazer: confrontar ainda mais a China, cortar mais impostos, por exemplo, da população mais rica dos EUA como forma de atrair investimentos, colocar tarifações para entrada de produtos estrangeiros para atrair de volta empresas americanas que tenham eventualmente saído do país.
E se Trump vencer sem maioria no Senado? “Também é possível que ele tenha, por exemplo, uma vitória de Pirro: ganha, mas ganha sem o Senado, com uma margem muito pequena de votos, isso coloca ele numa situação difícil também. O que é mais legal quando a gente olha para a História, e para a História sendo construída, não é apenas o que acontece, mas como acontece. Faz uma diferença enorme no resultado final”.
E o povo?
Pesquisas e cenários à parte, o retrato atual dos EUA revela uma população dividida sobre o presente e o futuro. Demon Lane, 27, morador de Baltimore, está entre os afro-americanos que perderam a esperança e acreditam que seu bairro continuará a ser atormentado pelo tráfico de drogas e negligenciado pelas autoridades, independentemente de quem ganhe.
“Não houve diferença com os três últimos presidentes. Portanto, não haverá diferença com o próximo. Não tenho esperança. A única coisa que tenho esperança está em mim mesmo, no que posso fazer pela minha família”.
Brian Milo, um ex-funcionário da GM demitido quando a fábrica de Ohio fechou, conta que continua com Trump de qualquer maneira. “Gosto de um tipo de negócio e gosto que seja de caráter forte. Os EUA foram, de alguma forma, fundados por pessoas que eram rebeldes. E Trump é como um rebelde”. Milo o perdoa inclusive por não ter cumprido a promessa de recuperar a indústria manufatureira no chamado “Cinturão de Ferrugem” do Meio-Oeste: “Acho que foi algo que ele prometeu e talvez não tivesse capacidade para cumprir”.
Brook Manewal, co-fundadora do Grupo de Mulheres dos Subúrbios de Connecticut, responde às afirmações do presidente de que Biden “destruirá seu bairro e seu sonho americano” com casas de baixo custo. “Fiquei chocada com a forma como ele estava tentando vender esta imagem de que a mulher suburbana estava do seu lado e de que seja tão racista. Ele nos pinta como tendo medo de perder nossas cercas brancas, nossas casinhas perfeitas e nossos pátios perfeitos e não acho que sejam de nenhuma forma as pessoas que eu encontrei”.
Bill Burke, um professor de História de 55 anos que mora na rua onde Biden viveu até seus 10 anos em Scranton, Pensilvânia, alerta sobre a confiança nas pesquisas. “Nenhum democrata nos EUA está confiante porque 2016 nos pegou de surpresa, até mesmo a Donald (Trump). A maioria dos democratas está olhando para as boas notícias, os números das pesquisas e tudo, enquanto seu cérebro tenta freneticamente dizer: Ok, onde está a ameaça? Como isso vai sair do controle?”.
Dan Barker, um juiz aposentado de 67 anos e republicano de longa data fundador do Arizona Republicans com Biden com sua esposa, deu as costas ao atual presidente por discordar de seu comportamento, com base em sua fé mórmon.
“Acreditamos que as pessoas devem ser tratadas com respeito. Se os dois candidatos fossem iguais, eu votaria naquele que se opõe ao aborto por escolha. Mas esses dois candidatos não são iguais. Um deles, do meu ponto de vista, vai construir e fortalecerá nossa democracia, enquanto o outro acredito que, se continuar nesse caminho, terá um impacto extremamente negativo em nossa democracia”.
Jim e Sue Chilton, fazendeiros do Arizona, dizem que Trump cumpriu o que esperavam quando assumiu a presidência, porque seu governo reduziu a burocracia. “Para fazermos qualquer coisa em nossas terras particulares tínhamos que obter licenças e o governo Trump removeu (tais) requisitos. Não preciso mais ter uma licença para fazer nada em minhas terras particulares”, afirma Jim Chilton, 81.
Oscar Walton, 28, disse em Wisconsin que não votou em 2016 porque não sentiu que nem Trump nem Hillary Clinton falaram por ele. Mas este assistente social e músico vai se certificar de votar em Biden desta vez. “Sinceramente, sinto que precisamos tirar Trump de lá. O principal motivo para mim? Bem, ele é um racista sistêmico. Ponto final. Um homem assim não deveria governar o país”.