Entenda as primárias argentinas que levaram o ultradireitista Javier Milei à liderança na votação

Milei é um candidato de extrema-direita da chapa "A Liberdade Avança", que obteve 30% dos votos em um resultado surpreendente no país argentino

Nesse domingo (13), a Argentina começou suas eleições presidenciais com as primárias, uma "pré-votação" obrigatória que ocorre desde 2011 e escolhe quem, de fato, vai disputar o pleito. O formato é chamado Paso (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias) e começou em 2011. Neste ano, quem saiu na frente foi o economista libertário de extrema-direita Javier Milei, de 52 anos. A eleição, de fato, ocorre dia 22 de outubro.

Em resultado considerado surpreendente pelos argentinos, Milei disputará a Presidência com a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich (centro-direita) e o ministro da Economia, Sergio Massa (peronismo).

"Conseguimos construir esta alternativa competitiva que dará fim à casta política parasitária, que rouba, inútil", declarou Milei em seu primeiro discurso após o anúncio dos resultados. "Estamos em condições de vencer a casta no primeiro turno", acrescentou.

As eleições primárias de domingo tiveram participação de 69% dos mais de 35 milhões de eleitores, e dividiram o eleitorado em três partes de peso similar.

Como funcionam as primárias? 

Os eleitores votam na cédula do grupo político de sua preferência e, para avançar na corrida presidencial, os candidatos das primárias precisam de, no mínimo, 1,5% dos votos para serem elegíveis. Isso faz com que os partidos muito pequenos sejam eliminados. 

No mesmo dia, os grupos de políticos escolhem também representantes. 

A saída de Milei na frente ocorreu pois ele faz parte da chapa "A Liberdade Avança", que teve 30,04% dos votos. A segunda chapa mais votada foi a do partido "Juntos pela Mudança", também de oposição, com 28,7% dos votos. Em outubro, ela será representada Patricia Bullrich, que teve 16,98% dos votos gerais.

A chapa governista, União Pela Pátria, ficou em terceiro com 27,27% dos votos, no pior desempenho do peronismo na história das prévias. O ministro da Economia, Sergio Massa, foi o mais votado da legenda (21,41%).

As eleições para escolher o substituto do presidente Alberto Fernández (peronista de centro-esquerda) serão celebradas em 22 de outubro. Um eventual segundo turno está previsto para 19 de novembro.

Quem é Javier Milei? 

Milei surgiu nesta eleição como um fenômeno inovador, que catalisou a frustração dos eleitores. Anteriormente, ele tinha conquistado um assento nas eleições legislativas de 2021, quando recebeu 17% dos votos na cidade de Buenos Aires. 

Milei "é reflexo do desencanto que levou muitos eleitores a desacreditarem dos partidos políticos", comentou Juan Negri, professor de Ciência Política da Universidade Torcuato di Tella. 

"Após o fracasso do governo de Mauricio Macri (2015-19), muitos se voltaram para uma direita mais radical", disse Negri. 

Milei propõe eliminar o Banco Central e dolarizar a economia, bem como permitir o livre porte de armas e chegou a defender a venda de órgãos humanos. Denúncias de ex-colaboradores de que pedia dinheiro em troca de candidaturas não arranharam sua popularidade em ascensão. 

Crise na economia argentina 

Embora quase sempre tenham vivido em uma economia em crise, os argentinos sofrem neste momento com os piores indicadores em 30 anos. 

Leandro Kornblith, um militante do 'Unión por la Patria' que compareceu à sede de campanha de Massa, reconheceu que "este não foi um bom governo. Muitos de nossos votos foram para outras opções".

A Argentina é a terceira maior economia da América Latina e um importante exportador mundial de alimentos. Ao mesmo tempo, tem de cumprir um acordo de 44 bilhões de dólares (R$ 216 bilhões, na cotação atual) com o FMI. 

Nestas eleições também foram escolhidos os candidatos às eleições legislativas parciais, que renovam parte do Congresso, a prefeitura da capital e o governo da província de Buenos Aires.