Cristina Kirchner é de esquerda ou direita? Veja trajetória da política que sofreu atentado

Combativa, desafiadora e sarcástica, ela acumula admiradores e críticos na Argentina

A ex-presidente e atual vice da Argentina, Cristina Kirchner, vítima de uma tentativa de assassinato nessa quinta-feira (1º), em Buenos Aires, é uma política combativa, desafiadora e sarcástica que acumula admiradores e críticos no país sul-americano.

O ataque aconteceu na reta final do julgamento da gestora por suposta corrupção durante os mandatos como chefe de Estado, entre 2007 e 2015. O Ministério Público da Argentina solicita uma pena de 12 anos de prisão contra ela por ter supostamente integrado um esquema de desvio de dinheiro público

Em discurso, ela se defendeu afirmando que a Justiça busca bani-la e perseguir o peronismo — movimento político derivado do ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974), do qual a vice faz parte. Como efeito imediato à fala, os seguidores dela passaram a se reunir na porta da residência da argentina, localizada no bairro da Recoleta, na capital Buenos Aires. 

Na noite desta quinta-feira, entre a multidão que a esperava, como todas as noites, estava o agressor: o brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel. Ele apontou uma arma para a cabeça da política e chegou a acionar o gatilho, mas o disparo não foi efetuado. 

"Cristina continua viva porque, por um motivo ainda não confirmado tecnicamente, a arma que tinha cinco balas não disparou apesar de ter sido acionada", detalhou o presidente Alberto Fernández, que classificou o incidente como "o mais grave" desde a restauração democrática de 1983.

Cristina Kirchner é de esquerda ou direita?

Aos 69 anos, vice-presidente desde 2019 e duas vezes presidente entre 2007 e 2015, Kirchner fez um governo marcado por medidas relacionadas com a centro esquerda: políticas protecionistas, programas de assistência social e múltiplos subsídios que aumentaram os gastos públicos. 

Nesse período, confrontou setores como proprietários de fazendas, grandes meios de comunicação e instituições financeiras internacionais, embora também tenha apoiado importantes empresários

Durante os mandatos se aproximou de líderes da esquerda que então governavam o Brasil, o Equador, a Bolívia e a Venezuela. Em especial, a vice-presidente evoca com carinho os nomes dos ex-presidentes Fidel Castro (Cuba) e Hugo Chávez (Venezuela), ambos já falecidos.

Além dos chefes de Estado, ela também possui um relacionamento próximo com o papa Francisco, ex-arcebispo de Buenos Aires. 

Rival ferrenha do sucessor, o ex-presidente Mauricio Macri, ela se recusou a participar da cerimônia de posse dele, quando assumiu o cargo em dezembro de 2015. 

Durante o mandato presidencial de Kirchner, a Argentina aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e uma lei de identidade de gênero, tornando o país pioneiro na América Latina. Já como líder do Senado, ela acompanhou a aprovação da lei do aborto, em 2020.

Filha de um motorista de ônibus e uma dona de casa, ela é a mais velha de duas irmãs. Ele reivindica suas origens de classe média baixa, embora não esconda sua preferência por marcas de luxo ou seu gosto por viagens.  

Trajetória política

Kirchner é viúva do antigo presidente argentino Néstor Kirchner (2003-2007), falecido em 2010. Eles casaram quando ainda eram estudantes de Direito na Universidade de La Plata. Desde então, se mostraram indissolúveis na vida privada e pública. O casal teve dois filhos: Máximo, parlamentar, e Florencia, cineasta distante da política.

Militantes do peronismo desde os tempos de universitários, Néstor e Cristina Kirchner foram detidos por 17 dias em janeiro de 1976, pouco antes do golpe que instituiu a última ditadura militar na Argentina (1976-83). 

A partir desse episódio, eles se concentraram no escritório de advocacia que montaram na cidade de Río Gallegos, que segundo relato da ex-presidente, fez muito sucesso e lhes deu a base da fortuna, com a compra de mais de 20 imóveis na Patagônia. 

Após o fim da ditadura, eles iniciaram a carreira política. Nestor foi prefeito de Río Gallegos e, em seguida, governador de Santa Cruz. Já Cristina foi eleita deputada e senadora pela mesma província. 

Os dois chegaram à presidência em um plano combinado, segundo explicou a ex-presidente no livro autobiográfico "Sinceramente": "Pensávamos na necessidade de garantir ao longo do tempo um processo político virtuoso de transformação do país". 

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