O terremoto de magnitude de 5,3 que atingiu Lisboa, a capital de Portugal, na madrugada desta segunda-feira (26) assustou moradores diante da possibilidade de risco dos tremores e da sensação de impotência. Segundo cearenses que vivem na cidade, os segundos de duração do terremoto foram quase intermináveis e se transformaram em preocupação. "Pareceu muito longo", contou o jornalista Wolney Batista, que percebeu até as paredes de casa tremerem.
Wolney morava em Fortaleza, mas se mudou para Lisboa em 2019. Desde então, nunca sentiu nada parecido na cidade, um dos motivos pelo qual o susto foi grande na madrugada. O tremor, ele conta, foi crescente e demorou um tempo até que ele e o marido se acalmassem após o ocorrido.
"A gente tinha ido dormir cedo no domingo, por volta das 22h, mas eu acordei na madrugada e senti o tremor. Primeiro ouvi o barulho das portas batendo, de vidro balançando, achei até que alguém tinha entrado em casa. Mas esse pensamento foi de frações de segundos porque a intensidade do tremor foi aumentando até a cama e as paredes balançarem muito", explicou ele em entrevista ao Diário do Nordeste.
Conforme os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o terremoto foi registrado por volta das 5h11 (horário local), a uma profundidade de 16 km. O abalo teria sido sentido por toda a região de Lisboa, incluindo a capital, mas também por Oeiras, Loures e Almada.
Este, inclusive, é considerado o maior abalo sísmico no país desde 1969 e chegou a ser sentido até em em regiões da Espanha. Apesar disso, autoridades portuguesas reforçam que danos graves não foram comunicados até o momento.
Ainda assim, Wolney conta, os cerca de 5 segundos em que ele e o esposo sentiram o tremor pareceram ainda mais longos que o normal. O susto, claro, foi algo completamente fora do comum, já que nunca haviam vivenciado nada semelhante em Lisboa ou em Fortaleza, por exemplo.
"A gente sempre soube que poderia acontecer de novo em Portugal, mas nunca esperamos que de fato vai. Aqui se fala muito sobre isso, tem placas em pontos próximos ao Tejo indicando rotas de fuga de tsunami, inclusive na sexta-feira passamos por uma delas e tínhamos comentado com uns amigos sobre a possibilidade. Mas levamos até na brincadeira, porque parecia algo muito distante de acontecer", disse.
Susto e preocupação
Assim como ele, a também cearense e jornalista Patricia Holanda, de 33 anos, já sabia da possibilidade de abalos sísmicos em Lisboa. Ela, inclusive, possuía conhecimento do evento de 1755, ano em que a cidade ficou devastada após um terremoto, mas nada a impediu de sentir profundamente o susto ao ser acordada com o tremor.
"Acho que durou uns sete segundos", afirmou, sem a certeza do tempo exato, assim como Wolney. Ela conta que arrumou uma mochila com documentos dela e do esposo, além de carregador portátil e água para caso de uma emergência mais grave.
Há cerca de dois anos, Patricia diz ter visto autoridades distribuírem informativos sobre sismos, mas nada muito efetivo sobre a questão. "A sensação é de impotência. Com mochila nas costas, tudo pronto, eu não sabia pra onde ir caso ocorresse um novo sismo. Ouvi falar de rotas de fuga, mas as autoridades não indicam zonas mais seguras", explica.
Assim como ela, Camila Silva, que trabalha em uma instituição financeira de Lisboa, acordou durante a madrugada com diversos objetos balançando dentro de casa. Para ela, no entanto, a percepção foi de que 15 segundos se passaram do início ao fim do tremor.
"Foi surreal, nunca vi nada parecido, é assustador", começou no relato. "Quando acabou, comecei a questionar: meu Deus, o que foi isso? Será que eu estou doida, será que eu estou sentindo? Será que foi isso mesmo?'. Eu só fui saber realmente que tinha acontecido porque o meu esposo trabalha viajando e mandou uma mensagem para mim dizendo que sentiu. Ele estava no Algarve, que fica a três horas de Lisboa", comentou.
Nenhum tipo de aviso foi enviado anteriormente. "A gente não esperava e foi uma surpresa, ninguém esperava mesmo que isso acontecesse e foi mesmo forte porque todo mundo sentiu", finalizou.
Para Wolney e o esposo, foi necessário um tempo para entender que tudo estava bem mesmo após o terremoto. "Ficamos um tempo lendo tudo, fomos ler sobre a possibilidade de ter outro tremor ou de ter um tsunami, mas como nada indicava que teria, a gente foi tentando se acalmar. Porque durante o tremor vem o susto, o nervosismo mesmo só bate depois", também reforçou.
Comunicado português
Após a constatação do sismo, o governo federal português afirmou que já estava em contato com os serviços competentes e descartou danos pessoais ou materiais até o início da manhã desta segunda (26). Dessa forma, pediu calma à população.
"Apelamos à população para que mantenha a serenidade e siga as recomendações da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil", disse a nota do governo. A Autoridade Nacional da Defesa Civil também recebeu uma visita de Paulo Rangel, como primeiro-ministro em funções para discutir sobre o caso.