O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou, nesta segunda-feira (15), que os ataques feitos ao Brasil em relação à Amazônia "não são justos". O gestor, que participa de um evento com investidores em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, ainda convidou os presentes a conhecer a floresta que, segundo ele, "por ser úmida, não pega fogo".
“Nós queremos que os senhores conheçam o Brasil de fato. Uma viagem, um passeio pela Amazônia é algo fantástico…. Até para que os senhores vejam que a nossa Amazônia, por ser uma floresta úmida, não pega fogo, que os senhores vejam, realmente, o que ela tem.”
Entretanto, conforme explicou o ambientalista Antonio Oviedo, assessor do Instituto Sócio-Ambiental (ISA), ONG presente na Amazônia há 25 anos, ao portal G1, "afirmar que a floresta é úmida como um todo era algo verdadeiro há 60 ou 70 anos; hoje, com 20% desmatado, isso não é mais um fato".
Dados colhidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informam que os focos de incêndio na floresta estão acima da média nos últimos meses. Em junho, por exemplo, houve o maior número de focos para o mês em 14 anos.
'Amazônia está preservada'
"Os ataques que o Brasil sofre quando se fala em Amazônia não são justos. Lá mais de 90% daquela área está preservada. Está exatamente igual de quando foi descoberto no ano de 1500. A Amazônia é fantástica”, também declarou o presidente no evento.
No entanto, a afirmação dada pelo chefe do Executivo nacional também não é correta, conforme os dados do Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes) — monitoramento realizado pelo Inpe a partir de imagens de satélite —, que aponta que cerca de 729 mil km² do bioma Amazônia foram totalmente desmatados até 2020, número equivalente a 17% do total.
O coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, explicou ao portal G1 que essa quantidade pode ser ainda maior.
"O bioma Amazônia tem de vegetação nativa aproximadamente 86%. Só que tem pelo menos 4% do bioma que é vegetação secundária. Então 20% da Amazônia já foram desmatadas. Se você considera as áreas que tiveram fogo ou exploração florestal irregular e também outros tipos de impacto – como os efeitos de borda, o garimpo – pelo menos outros 20% da Amazônia estão impactados".
"Então a gente não pode falar de uma Amazônia totalmente conservada. A Amazônia está passando por uma ameaça forte. Inclusive, o que os estudos recentes têm mostrado é que em algumas regiões a Amazônia já não cumpre o papel de ser a principal fonte de absorção de carbono. Em alguns lugares, ela já está sendo uma fonte de emissão líquida — o que é algo terrível para a questão climática", alertou ao portal.
Dados fornecidos pela Terra Brasilis, outra ferramenta desenvolvida pelo Inpe, indica que outubro deste ano registrou o segundo pior índice de desmatamento da Amazônia Legal — território que compreende nove estados brasileiros que pertencem à bacia Amazônica — para o mês na história do monitoramento, que começou em 2015. Somente em outubro, foram desmatada uma área de 795,1 km², conforme a plataforma.
O painel Plena Mata — monitor que usa dados do MapBioma, com base na média do desmatamento diário detectado Deter/Inpe — estima que mais de mil árvores foram derrubadas por minutos na Amazônia Legal apenas neste ano.
No acumulado do ano, 2021 já superou o desmatamento de 2020, mas ainda é menor que o registrado em 2019.