Setembro Amarelo: saiba como ajudar e prevenir o suicídio

A cada 40 segundos, uma pessoa morre por suicídio no mundo, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS)

A cada 40 segundos, uma pessoa morre por suicídio no mundo, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, o número de casos é de quase 13 mil por ano, cerca de 500 deles no Ceará, segundo a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa). Com objetivo de reduzir os índices no País, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), promove neste mês a campanha Setembro Amarelo

A iniciativa, que tem como data símbolo o dia 10, Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, possui o objetivo de conscientizar e desmistificar a prevenção ao suicídio. Realizada desde 2014, a ação neste ano tem o tema "Agir salva vidas". 

O autocídio é uma questão de saúde pública, que não deve ser simplificada ou atribuída a uma única causa, pois se trata do desfecho de uma série de fatores complexos. O mais importante sobre o assunto é que é possível prevenir que casos do tipo aconteçam, como explica a psiquiatra e pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luísa Weber Bisol.  

"Pelo menos nove em cada 10 suicídios poderiam ser prevenidos. [...] A pessoa que, por algum momento de crise pessoal, está atravessando um episódio de depressão, e está com pensamentos suicidas, não quer dizer que ela é suicida. Ela pode deixar de ser, desde que a gente trate, encaminhe, ajude" 

Conforme a especialista, na grande maioria dos casos, a pessoa que morre por suicídio possui algum tipo de distúrbio mental grave, que não foi diagnosticado e tratado adequadamente. 

Influência de transtornos mentais  

A ABP estima que 96,8% dos casos brasileiros estão relacionados a transtornos mentais, sendo que cerca de 50% a 60% desses nunca procuraram um profissional de saúde mental ao longo da vida. A psiquiatra lista cinco transtornos mentais que são frequentemente associados a comportamentos suicidas. São eles:  

  • Transtornos depressivos; caracterizado por uma tristeza persistente ou perda de interesse em atividades, prejudicando significativamente o dia a dia. 
  • Transtorno bipolar; que é uma alteração mental grave em que o paciente apresenta oscilações de humor que podem variar desde depressão até mania ou hipomania, versão mais leve da mania. 
  • Transtorno de personalidade borderline; caracterizado por emoções e comportamentos exaltados, marcados por impulsividade, irritação diante de respostas negativas, além de dificuldade de controlar a raiva e idealização extrema. 
  • Esquizofrenia; distúrbio marcado por surto em que muitas vezes o mundo real é substituído por delírios e alucinações.  
  • Transtorno por uso de álcool e outras substâncias; dependência química.   

Fatores de risco 

Além dos distúrbios mentais, existem uma série de características sociodemográficas que oferecem maior risco e podem aumentar as chances de um indivíduo atentar contra a própria vida. Luísa Weber Bisol revela que pessoas do sexo masculino, solteiros, sem filhos e jovens ou idosos, integram o grupo de perfil propenso a morrem por suicídio. 

Indivíduos com tentativa prévia também integram o grupo, pois segundo a pesquisadora, eles possuem mais inclinação a tentarem novamente. Familiares e amigos de vítimas que morrem de suicídio também compõem o perfil.   

“Para cada suicídio, aconteceram em torno de 20 tentativas, então essas tentativas também estão associadas a muito sofrimento, a muito prejuízo, incapacitação, [...] que trazem prejuízo para a pessoa e para os que convivem com ela”, explica.  

Os principais fatores de risco são:  

  • Ser homem; 
  • Ser jovem, com idade entre 18 e 29 anos, ou idoso acima de 75 anos; 
  • Não ter filhos; 
  • Não ter um relacionamento afetivo; 
  • Já ter tentado suicídio sem sucesso; 
  • Conhecer alguém que realizou o ato.

 

Fatores protetivos

Assim como há características consideradas de maior risco, também existem aspectos sociodemográficos que funcionam como fatores de proteção. Luísa Weber Bisol listou os principais:      

  • Possuir uma rede apoio, formada por familiares e amigos confiáveis; 
  • Ter filhos; 
  • Acesso à rede de saúde para obter tratamento;  
  • Possui um propósito, um objetivo de vida; 
  • Crer em algo maior, possuir alguma fé, independente de religião. 

Como ajudar

Familiares e amigos compõem a chamada rede de apoio de um indivíduo fragilizado. Conforme a especialista, frequentemente alguém que cogita o ato, menciona diretamente ou indiretamente a intenção antes de realizá-lo. "Às vezes ela fala, por exemplo: 'eu gostaria de dormir e não acordar mais'; 'eu quero sumir'", exemplifica a psiquiatra. 

"Quando uma pessoa fala disso, a gente às vezes acha que quem quer fazer não fala, mas nós sabemos que não é verdade. A pessoa que deseja fazer isso muitas vezes comunica, às vezes falando, outras vezes por atitudes, como fazer um testamento, uma carta. E o que a gente não deve fazer é não dar importância para isso", alerta.

Segundo Luísa Weber Bisol, indivíduos que identificam comportamentos suspeitos podem auxiliar na prevenção do suicídio. A profissional listou algumas atitudes de como ajudar, são elas:  

  • Ouvir e demonstrar apoio: realizar uma escuta sem julgamento, empático em relação ao sofrimento do outro, deixar o indivíduo livre para falar sobre o que lhe aflige. 
  • Atenção a sinais como: desleixo com a higiene pessoal, indivíduos entristecidos, que inverteram o horário biológico, trocando o dia pela noite, ou que estão retraídos e não são mais os mesmos no trabalho.
  • Disponibilidade: a pesquisadora frisa a importância de se disponibilizar a acompanhar o paciente durante o tratamento. 
  • Dar esperança: passar uma mensagem positiva de que é possível superar o momento difícil.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) também é uma opção que oferece apoio emocional e preveni casos do tipo, através da disponibilização de atendimento voluntário e gratuito a todas as pessoas que querem e precisam conversar. O serviço oferece sigilo total e pode ser contactado pelo número de telefone 188, e-mail e chat 24 horas diariamente.

Tratamento  

Conforme a psiquiatra, quando o paciente procura ajuda profissional passa por uma avaliação, em que é identificado quais fatores de risco e protetivos possui. Em seguida, dependendo da classificação, ele é encaminhado para o tratamento adequado.  

"Nos pacientes que tem risco médio e alto de suicídio a gente [psiquiatras] vai direcionar para rede de atendimento e saúde mental. A gente não trabalha isolado, a gente conta com apoio de outros profissionais, como psicólogo, enfermeiro, assistente social, que formam uma equipe interdisciplinar que vai conseguir dar assistência mais adequada para essa situação extremamente complexa", detalha.  

Em seguida, a especialista explica que o indivíduo pode ser encaminhado para tratamento, que atua em várias frentes, e que pode envolver uso de medicamentos, como antidepressivos e psicofármacos, além de terapias, por exemplo, eletroconvulsoterapia (ECT) — técnica que utiliza eletrochoques para induzir convulsões —, psicoterapia, entre outros. 

"E [também] tem o tratamento do transtorno mental subjacente. Pois, a pessoa que está pensando em suicídio, na verdade, muitas vezes, não está querendo morrer, ela está querendo aliviar aquele sofrimento”, esclarece a pesquisadora.