Farmacêuticas anunciam resultado positivo em testes de vacina contra melanoma

Imunizante combate o câncer a partir da utilização do RNA mensageiro, tecnologia usada em vacinas contra a Covid-19

Os resultados da penúltima fase dos testes clínicos de uma vacina terapêutica personalizada para o melanoma, tipo mais letal de câncer de pele, foram divulgados pelas farmacêuticas Moderna e Merck, na última terça-feira (13). O imunizante levou a uma diminuição de 44% na recorrência do tumor, ou morte pela doença, entre os pacientes.

Com a resposta positiva, os laboratórios pretendem pedir às agências reguladoras que os testes da terceira e última fase comecem, o que poderia proporcionar uma possível aprovação ainda em 2023. Além disso, os pesquisadores também têm o plano de expandir a eficácia da vacina contra outros tipos de tumores

Em comunicado, o CEO da Moderna, Stéphane Bancel, ressaltou a importância dos avanços: "os resultados de hoje são altamente encorajadores para o campo do tratamento do câncer. O RNAm foi transformador para o COVID-19 e agora, pela primeira vez, demonstramos o potencial do RNAm para ter um impacto nos resultados em um ensaio clínico randomizado em melanoma".

O empresário ainda diz que a farmacêutica deverá publicar novos resultados, esperando compartilhá-los com profissionais da saúde e autoridades. 

Finalizando, as empresas responsáveis pelo imunizante reforçam a segurança da aplicação, que não demonstrou efeitos adversos graves na testagem.

Como a vacina funciona

Impulsionada pelas doses desenvolvidas para a Covid-19, a aplicação utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm), inédita no combate ao câncer. Estudado há anos, o RNAm é comprovadamente seguro e altamente eficaz. Ele estimula a resposta imunológica através de um código de instruções que ensina, às próprias células do organismo, a produzir determinada proteína, o que faz com que o sistema imune crie defesas. 

Para exemplificar, é possível analisar o caso da Covid-19: no vírus, a tecnologia faz com que o corpo produza uma parte do próprio coronavírus, que é inofensiva sozinha, mas que consegue fazer com que o organismo desenvolva proteções contra aquele invasor, caso seja contaminado. 

Como o câncer atinge o organismo de cada pessoa de forma diferente, o imunizante contra o melanoma é chamado de "vacina personalizada". Nesse caso, os pesquisadores coletam o material genético específico do tumor de determinado paciente, isolam as proteínas, e, só a partir desse ponto, podem criar o imunizante. Assim, a aplicação ensina o sistema imunológico a destruir as células cancerígenas de forma efetiva. 

O esquema é importante porque os tumores carregam em si “inibidores de checkpoint”, proteínas que escondem o câncer do sistema imune, impedindo que ele os ataque.

Testes

O novo tratamento testado é resultado da junção entre a vacina inédita e o medicamento da MSD Keytruda, um anticorpo monoclonal, que é considerado como a atual linha de combate padrão para o melanoma, também atuando a partir da indução de respostas no sistema imunológico. 

Para os testes, os cientistas recrutaram 157 voluntários com melanoma em estágio 3 e 4 após uma operação de ressecação completa do tumor. Sendo divididos em dois grupos, metade recebeu apenas o anticorpo monoclonal, e a outra metade a combinação do medicamento com o imunizante.

A terapia durou, aproximadamente, um ano. Durante o período, o primeiro grupo teve 18 ciclos de 200 mg do medicamento a cada três semanas e o segundo, um total de 9 doses. Como resultado, a aplicação permitiu que a taxa de volta do tumor, ou morte pela doença, fosse reduzida em 44% em comparação com aqueles pacientes que só receberam o Keytruda. 

Outras vacinas em desenvolvimento

Além das parceiras Moderna e Merck, a BioNTech, outra empresa pioneira na elaboração de imunizantes, estuda aplicações específicas para o câncer colorretal, câncer de cabeça e pescoço, câncer de ovário, de próstata e tumores sólidos.

A BioNTech e a Moderna buscam novas vacinas para prevenir doenças infecciosas, como o HIV, a Zika e o vírus sincicial respiratório (VSR), além de versões atualizadas contra o Influenza (gripe).