Depressão pós-parto: veja sintomas, como ajudar e diagnóstico da doença

Quadro é caracterizado pelo sofrimento intenso e disfuncionalidade da mãe

A depressão puerperal, também conhecida como depressão pós-parto, é um quadro caracterizado por tristeza, falta de ânimo, desmotivação, fadigabilidade, falta de energia e de vitalidade para realizar as atividades da rotina, levando a um sofrimento intenso e uma disfuncionalidade da mãe, definiu Matias Carvalho Aguiar Melo, psiquiatra do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), de Fortaleza.

Segundo o Ministério da Saúde, toda mulher que dá à luz pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é acompanhada em seu puerpério pela Estratégia Saúde da Família, independentemente de ter sintomas relacionados à depressão. "Toda mulher tem direito a receber tratamento gratuito pelo SUS, independentemente do local onde o pré-natal e o parto foram realizados, assim como esse direito também é assegurado a qualquer cidadão que necessite de tratamento relacionado à depressão", diz o órgão.

Causas

Há diversas causas relacionadas à depressão pós-parto. O especialista Matias Carvalho cita desde a não aceitação da gravidez até a falta de suporte familiar, gatilhos ambientais como desemprego, conflitos interpessoais, solidão e até mesmo doenças clínicas que a paciente já as desenvolva durante a gravidez como possíveis causas da depressão puerperal.

Além disso, quadros psiquiátricos prévios como o transtorno de ansiedade ou transtornos depressivos anteriores, principalmente em outras gestações, também aumentam o risco do quadro.

O Ministério da Saúde também destaca o desequilíbrio de hormônios em decorrência do término da gravidez e outros fatores relacionados como:

  • Privação de sono;
  • Isolamento;
  • Alimentação inadequada;
  • Sedentarismo;
  • Vício em drogas.

Sintomas

Segundo o psiquiatra Matias Carvalho, os principais sintomas da depressão puerperal são a tristeza e a falta de prazer em atividades que antes eram prazerosas para a pessoa.

"Se antes a pessoa gostava de sair, de conversar com a família, de fazer exercício e agora perdeu esse prazer, isso sinalizaria um dos elementos da depressão", disse. Além disso, o especialista detalha que a depressão puerperal, como qualquer depressão, caracteriza-se por fatores como:

  • Fadiga;
  • Falta de energia;
  • Perda de interesse ou prazer em atividades diárias;
  • Alterações do sono, tanto insônia como hipersonia (aumento da sonolência);
  • Alterações do apetite, tanto aumento como diminuição da vontade de comer, causando perda ou ganha de peso;
  • Ideias de culpa recorrentes e, em casos mais graves, ideações suicidas;
  • Sentimento de indignação ou culpa;
  • Dificuldade de concentração.

Quais os primeiros sinais?

Os primeiros sinais da depressão geralmente implicam em uma mudança no padrão comportamental ou emocional. Conforme o médico, é comum a mãe ficar mais triste, chorosa ou mais isolada, deixando de realizar atividades que antes eram prazerosas para ela. "Quando isso vai se tornando algo persistente, começa a sinalizar que algo pode estar errado e há a necessidade de uma investigação", alertou.

Quanto tempo duram os sintomas?

Para ser considerada depressão puerperal, a duração mínima dos sintomas é de duas semanas. No entanto, esse quadro pode durar semanas, meses ou até superar um ano. "É muito variável, por isso, é importante buscar precocemente uma ajuda, um tratamento. E quanto mais se posterga essa busca por assistência, maior a chance de se cronificar e pior é o prognóstico, é a evolução do problema", sublinhou Matias Carvalho.

Ana Crys Lopes, psicóloga do HGCC, ressalta que a paciente pode manifestar ainda sentimentos de culpa, desesperança, dificuldade de interagir com a criança, choro e irritabilidade. "A paciente, quando está com o humor entristecido, tem essa dificuldade de lidar com a criança, muitas vezes, até esse cuidado relacionado à troca de fralda e amamentação, pelo desânimo que ela tem e a tristeza que ela vem vivenciando", afirmou.

Diferença de baby blues e depressão pós-parto

O profissional ressaltou a importância de diferenciar a depressão pós-parto de condições fisiológicas.

O baby blues se caracteriza por manifestações mais brandas, que podem durar cerca de duas semanas. Já na depressão pós-parto, os sintomas são mais intensos e duradouros. 

"É comum, durante o período do pós-parto, a paciente ficar um pouco mais triste, um pouco mais emotiva, como adaptação àquela situação, tanto ao papel da maternidade como às oscilações hormonais. A gente chama isso de blues puerperal ou disforia puerperal, que é um fenômeno fisiológico, um fenômeno esperado para esse momento e que não exige um tratamento medicamentoso, diferente da depressão", esclareceu.

Diagnóstico

O diagnóstico de depressão puerperal é feito a partir de uma avaliação clínica. O médico explica que não existem exames laboratoriais para atestar a depressão, mas que eles, muitas vezes, são utilizados com a finalidade de excluir outras causas que possam simular a depressão, como hipovitaminoses, tireoidopatias, anemias, dentre outras doenças.

Tratamento

O tratamento da depressão pós-parto, assim como outros episódios depressivos, implica medidas farmacológicas e não farmacológicas. Em relação às intervenções não farmacológicas, inclui-se:

  • Psicoterapia;
  • Participação de grupos terapêuticos e outras terapias integrativas;
  • Atividades físicas;
  • Atividades de lazer;
  • Acupuntura;
  • Práticas de relaxamento;
  • Apoio espiritual. 

Em relação ao tratamento com medicações, recomenda-se a prescrição de antidepressivos, com ressalvas, devido à lactação. "Deve-se ter cuidado em relação à amamentação, a preferir medicações que não interfiram nesse processo. Um dos mais estudados é a sertralina nesse contexto", informou o psiquiatra.

Outro ponto é a importância de uma rede de apoio para o auxílio à mãe nos cuidados do bebê. "Para que isso não seja mais um estressor para a piora dos sintomas depressivos, até porque muitos quadros de depressão deixam a pessoa menos capacitada para as suas funções habituais", completou.

Ana Crys Lopes destaca que o serviço de psicologia do HGCC tem o objetivo de ofertar suporte emocional e de auxiliar no processo de hospitalização por meio de intervenções individuais e grupais. Segundo ela, a paciente recebe esse auxílio desde a gravidez, no parto, até o momento da alta do bebê.

"Na sala de parto, a gente tem profissionais disponíveis, seguindo pelas enfermarias obstétricas, alojamento conjunto e unidades neonatais. Após a alta, com a permanência dos bebês em unidade neonatal, a paciente segue recebendo esse suporte até o momento da alta do bebê. Dispomos também do serviço ambulatorial, que acompanha a gravidez na adolescência, especificamente. Então, são trabalhados aspectos emocionais, considerando a faixa etária que as adolescentes estão vivendo, fazendo um trabalho de preparação para o parto e para o pós-parto também", detalhou.

A psicóloga explica que as intervenções da psicologia também podem ajudar no fortalecimento dos recursos de enfrentamento, como o resgate da autonomia, o processo de autoconhecimento e do vínculo da mãe com o bebê para a recuperação da paciente e seu bem-estar.

Prevenção

Para prevenir a depressão puerperal, deve-se propiciar uma gravidez saudável, com estratégias de promoção de saúde mental, como atividades físicas, atividades de lazer, espiritualidade, um bom suporte familiar, além de uma boa rede de suporte médica e a realização de psicoterapia, quando indicada. Esses fatores, associados, diminuem a chance de desenvolvimento da depressão puerperal, segundo Matias Carvalho.

Acolhimento da família

Ana Crys Lopes destaca que o apoio da família é parte importante na recuperação da mãe. "Os estudos mostram que a família é um fator protetivo. Então, quando a paciente se sente acolhida pela família, ela vai conseguir também expressar os seus sentimentos, o que pode ajudar na busca de um tratamento especializado", disse.

Além disso, a família também tem o papel de acolher a mãe e auxiliá-la nos cuidados gerais, seja de casa ou do bebê. Ter tempo de qualidade para o descanso e a prática do autocuidado também foram citados pela profissional.

"A mãe precisa ter minimamente um tempo para autocuidado, para que ela possa descansar, para que ela não se sinta sobrecarregada diante de todas as demandas que envolvem, para além da criança, outras demandas da vida também, que podem a sobrecarregar", citou Ana Crys.

Propiciar um ambiente livre de comparações e julgamentos é essencial para fortalecer a saúde mental da mãe.

"Nesse processo, é importante que a família se atente, que ela evite comparações, evite julgamentos, pois cada pessoa e gestação é única. As comparações, normalmente, fortalecem esse sentimento de inadequação da mãe. É importante que ela se sinta acolhida e, diante desse acolhimento, ela possa acessar os serviços de saúde mental. A família pode e deve estar atenta a esses aspectos emocionais e acionar o serviço especializado, de psicologia e de psiquiatria, o quanto antes", concluiu a psicóloga.