A encefalopatia traumática crônica, também conhecida como demência do pugilista, é uma doença neurodegenerativa causada principalmente por traumatismos repetitivos na cabeça ou no crânio. A enfermidade causou a morte de José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, ex-boxeador brasileiro e campeão mundial de boxe, que havia sido diagnosticado ainda em 2013. O atleta faleceu nesta quinta-feira (24), aos 66 anos, em São Paulo.
Segundo artigo publicado no portal da Universidade de São Paulo (USP), a doença foi inicialmente descoberta em lutadores de boxe no início do século 20, mas atletas de outros esportes que estejam sujeitos a pancadas na cabeça, como o rugby, o futebol americano e até mesmo o futebol, podem ser acometidos.
Esse tipo de encefalopatia e seus sintomas podem ser confundidos com outros tipos de doenças cerebrais como o Alzheimer, explicou, na publicação, o médico, professor e pesquisador Vitor Tumas, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, especialista na área de neurologia.
De acordo com o Manual MSD de Saúde, cerca de 3% dos atletas que apresentaram várias concussões, mesmo aparentemente menores, desenvolvem encefalopatia traumática crônica.
Causas
Especialistas apontam que a encefalopatia traumática crônica tem como causa a exposição repetitiva ao traumatismo de crânio, como golpes, pancadas ou uma sacudida violenta na cabeça, que faz com que o cérebro se mova bruscamente dentro da caixa craniana.
"Esse tipo de movimento súbito de aceleração e desaceleração pode provocar estiramento das fibras nervosas, romper pequenos vasos e causar pequenas lesões no tecido cerebral. Esses traumatismos são mais evidentes na chamada concussão cerebral, quando, logo após o trauma, o paciente fica meio confuso, desorientado ou perde os sentidos por alguns segundos", informou o pesquisador.
Riscos da doença
Vitor Tumas explica que os traumas frequentes vão desencadeando um acúmulo de alterações que causam um processo inflamatório. Por conta dos sucessivos traumas, acontece uma deposição de diversas proteínas anormais no cérebro, principalmente a chamada TAU fosforilada. Segundo o artigo, esse processo, a longo prazo, se torna irreversível e progressivo.
Conforme o pesquisador, o diagnóstico da doença é difícil de realizar, pois ainda não existem exames que confirmem um diagnóstico clínico durante a vida do paciente, sendo, portanto, totalmente baseado na suspeita clínica e no histórico de traumatismo de crânio repetitivo.
Sintomas da encefalopatia traumática crônica
No geral, a doença provoca os seguintes sintomas:
- Tonturas;
- Dores de cabeça crônicas;
- Perda de memória;
- Dificuldade de raciocínio;
- Problemas motores como lentidão, rigidez dos músculos e desequilíbrio;
- Alterações na fala;
- Alterações comportamentais como depressão, ansiedade, agressividade, impulsividade e até paranoia.
Os sintomas da doença se assemelham aos de doenças psiquiátricas, como o Alzheimer.
"Esses sintomas começam leves e vão evoluindo progressivamente e o paciente vai ficando cada vez mais comprometido e dependente. Por causa dessa complexa combinação de sintomas e o histórico de traumatismos cranianos repetitivos, pode ser a chave para se pensar no diagnóstico”, detalha Tumas.
Tem cura?
O especialista ressalta ações para a prevenção da doença, uma vez que a encefalopatia traumática crônica não tem cura. "Quem pratica esportes de risco como lutas, rugby, futebol americano e o futebol deve ter atenção a esse problema e ser orientado a tentar reduzir o impacto desses traumas. Durante a fase inicial, é mais fácil controlar a doença com o uso de medicamentos. Já nas fases avançadas, é um quadro de demência muito mais difícil de ser contido", alerta.